Costuma-se dizer que é nas
curvas apertadas que se destacam os bons condutores.
Frase que se pode aplicar aos políticos: é nas curvas apertadas da
história que se revelam os grandes políticos.
Existem alguns grandes exemplos: Churchill na 2ª Guerra, De Gaulle no
Maio de 68, Mandela na África do Sul, ou Gorbachev na União Soviética…e não me
lembro de muitos mais.
Infelizmente para a França, e a prazo para a Europa, Macron revelou-se
um politico incapaz de enfrentar os graves conflitos sociais que o seu país
enfrenta.
Ao querer tornar-se o menino bonito da Europa da austeridade, dominada
pelo poder financeiro, sonhando substituir Merkel como líder do projecto
europeu, revelou-se, pela forma como tem lidado com os “coletes amarelos”, um
politico medíocre e incapaz, uma ténue sombra da líder alemã.
Macron domina na retórica, mas revelou-se incapaz de perceber que a França
vive, há décadas, uma grave crise social e de identidade, que explodiu agora em
violência com base numa reivindicação quanto a nós injusta: contestar o aumento
de impostos sobre o uso do gasóleo (quando outros países, com a Alemanha, anunciaram
a proibição, a prazo, do uso desse combustível, uma das formas de travar o
desastre ambiental para onde caminhamos a passos largos).
Essa reivindicação é injusta, mas Macron mostrou-se incapaz de explicar
a necessidade de travar o uso do gasóleo e até, a prazo do automóvel a gasolina
e, em vez de se revelar um politico hábil, regou o fogo com gasolina, e o
resultado, lamentável, está à vista.
Não percebeu que, por detrás do pretexto do aumento de impostos sobre o
gasóleo, está uma realidade social cada vez mais perigosa.
Os próprios “coletes amarelos” conseguiram aproveitar o destaque dado
ao seu movimento para juntar 41 reivindicações, todas de grande justiça do
ponto de vista social, mas Macron não respondeu a uma única delas, mantendo-se
fiel ao programa “austeritário” e anti social com o qual pretende agradar aos
burocratas de Bruxelas e ao corrupto mundo financeiro europeu.
Rapidamente o moribundo movimento de Le Pen encontrou neste movimento o
colete de salvação e colou-se à revolta, como se alguma vez, chegada ao poder,
pudesse garantir as 42 reivindicações dos “coletes amarelos” (hoje reveladas no
jornal “Público”) todas elas contrárias aos princípios e ideologia da
extrema-direita francesa.
Por isso não será de estranhar que, por detrás da violência vivida
Sábado em Paris, estivessem conhecidos elementos da extrema-direita, dando
assim um grande contributo para desviar as atenções para as legitimas
reivindicações dos “coletes amarelos”, colando-os à violência gratuita habitual
nas manifestações, em França, da extrema-direita, que contaram com o apoio
irresponsável de grupúsculos de extrema-esquerda, para permitir a Macron
aparecer como o equilibrista, que afinal não é.
Deixando-se infiltrar por provocadores extremistas, o justo movimento
dos “coletes amarelos” corre o risco de se descredibilizar junto da opinião
pública e de reforçar o discurso de “ordem” da extrema-direita.
As próximas manifestações dos “coletes amarelos” terão de ser uma
esmagadora manifestação cívica, isolando os provocadores. Caso contrário ficam
à mercê da estratégia da extrema-direita francesa e contribuem para reforçar
Macron na aplicação das medidas antissociais que ele preconiza, conduzindo a
França, e a prazo o que resta do “europeísmo”, para um abismo sem saída.
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