Aparentemente, nada
tem a haver com nada e tudo tem a haver com tudo!
Mas, hoje em França,
Ecologia, Transportes e Macron tem tudo a haver com tudo!
Vamos por partes:
Em 1976 foi editado
em Portugal o livro “Ecologia e politica” de Michel Bosquet, hoje considerado precursor na
defesa da ecologia.
O que retive da
leitura desse livro, mais ou menos por essa altura, foi a sua denuncia do papel
das grandes empresas petrolíferas no agravamento das condições de vida das
populações, quer nos territórios de onde o ouro negro era extraído, principalmente
no Médio Oriente, quer no agravamento das condições ambientais a nível global,
pela promoção do transporte automóvel movido com derivados do petróleo.
Já então, os piores
conflitos mundiais e as piores situações de miséria estavam associadas aos
interesses financeiro e económicos ligados ao petróleo e ao sector energético.
Infelizmente, o tempo
mostrou que, por um lado Bosquet tinha razão, por outros toda a geração de políticos
que governaram o mundo nas décadas seguintes pouco se preocupou com a questão,
ou revelou apenas uma preocupação retórica.
O neoliberalismo, que
se tornou dominante como prática e pensamento económico a partir dos anos 80,
agravou a situação, gerando a ilusão de um capitalismo popular, com convite a que
se usufruísse do transporte individual em detrimento do transporte público.
Quem não caiu nessa
armadilha que atire a primeira pedra.
Hoje, quando já
começa a ser tarde para alterar o desastre ambiental para onde caminhamos, a
situação agrava-se, com o mundo governado por políticos cada vez mais
incompetentes e com a chegada ao poder, nos países decisivos para o ambiente,
de ignorantes e arrogantes que põem em causa, não só o que os cientistas dizem
sobre o clima, como o que os cidadãos já começam a percepcionar, no seu dia a
dia, sobre o agravamento das condições de sobrevivência.
Em Portugal, o
paradigma desse capitalismo popular, que levou os cidadãos a investir nos transportes
privados em detrimento dos transportes público foi o chamado “cavaquismo”, que
contaminou toda a população e toda a classe politica, promovendo a idéia de um
enriquecimento rápido, à custa dos fundos europeus e da corrupção politica
generalizada, à custa de grandes obras públicas que promoviam o uso do
automóvel em detrimento do comboio e do transporte público.
Aliás, promoveu-se
igualmente a idéia que o transporte público e o comboio era coisa de gente
pobre e atrasada, de gente que não tinha aproveitado as “oportunidades” e que
não era “competitiva” ou “empreendedora” e o uso do automóvel passou a ser uma
questão de estatuto social e exibição.
Com isso agravaram-se
as contas públicas, com a importação em massa de automóveis (beneficiando
alemães e franceses) e com o aumento da
nossa dependência energética face aos grandes interesse petrolíferos que
geraram esquemas de corrupção politica em larga escala, com ligações suspeitas
a grupos angolanos, brasileiros e venezuelanos, situação ainda hoje mal
esclarecida.
Hoje percebe-se que
destruir, não só o sector produtivo nacional em nome dos fundos europeus e dos
interesses financeiros dos países que dominam a Europa (França e Alemanha), mas
também todo o sector de transportes públicos, em especial o ferroviário, foi um
erro catastrófico, quer do ponto de vista ambiental, quer do ponto de vista
financeiro, que vamos pagar durante décadas.
A aposta nos
transportes públicos, mais eficientes do ponto de vista energético, ambiental, económico e em rapidez, é a única com futuro na Europa.
Alguns países já
perceberam isso e investiram em força no TGV e nas energias alternativas para o
transporte automóvel.
Anuncia-se, por
exemplo, que o Luxemburgo vai tornar gratuito o transporte público.
Infelizmente, as
medidas radicais na área dos transportes que são necessárias tomar para travar
o desastre ambiental, pecam por tardias e por falta de alternativas credíveis.
Depois de décadas a
empurrar os cidadãos para o uso do transporte individual, agora é difícil convencer
esses mesmos cidadãos a mudar de rumo.
Para os convencer era
necessário tomar as decisões há muito tempo adiadas, como a radical substituição
da gasolina e do gasóleo por energias limpas, situação que é tecnicamente
viável, mas que tem sido travada pelos grandes interesses da industria
automóvel e, principalmente, da industria petrolífera, ou a criação de uma rede
de transportes públicos viáveis, capaz até de concorrer com o transporte aeronáutico.
Foi isso que,
atabalhoadamente, Macron tentou fazer em França, aumentando os impostos sobre o
gasóleo e o uso do automóvel, mas esquecendo-se de antes, por um lado criar
alternativas viáveis, como, por exemplo, a que vai ser seguida no Luxemburgo, e,
por outro lado, saber fazer pedagogia em defesa do ambiente.
Ao lançar um fósforo
( o aumento do imposto sobre o gasóleo) sobre a “gasolina” ( o descontentamento
crescente pelas suas medidas antissociais para agradar ao sector financeiro que
domina em Bruxelas) Macron, não só comprometeu o seu futuro politico ( e provavelmente
o da Europa), como “queimou” uma medida justa, que é a de limitar o uso do
transporte privado e dos derivados do petróleo.
Aliás, Macron só
cedeu naquilo em que não podia ceder, o imposto sobre energias poluentes, e com
isso já perdeu.
Os políticos e o
sector financeiro podem adiar decisões urgentes, mas o ambiente não vai
esperar.
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