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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

A extrema-direita à nossa porta.



A Andaluzia é uma das regiões espanholas que partilha uma grande parte da nossa fronteira com a Espanha e é uma das regiões que, a par da Galiza, mais contactos mantém com Portugal.

A população dessa província espanhola , 8 milhões de habitantes, é quase tanta como a totalidade da população portuguesa e elegeu um número inédito de deputados da extrema-direita, do partido Vox, para o parlamento local, dando assim um forte incentivo ao crescimento nacional desse partido, recém criado, e que dá voz à extrema direita espanhola, até agora muito marginal ou dissolvida no PP.

Para os comentadores que, até há pouco tempo, juravam a pés juntos que a Península Ibérica não seria contaminada pelo fenómeno do populismo da extrema-direita, argumentando como justificação para isso a vacina dos povos ibéricos contra essa mesma extrema direita, por causa de se terem livrado recentemente de duas ditaduras dessa área política, o resultado do Vox destruiu esse argumento.

O crescimento da extrema direita por cá só espanta quem anda mal informado e afastado das “massas”.

Basta ouvir as conversas de rua e ler os comentários das redes sociais para se perceber que o caminho está aberto para o aparecimento de um qualquer “salvador” e populista da extrema-direita.

Em Espanha foi o descalabro do PSOE e do PP que muito contribuíram para o “fenómeno”.

Na Andaluzia os socialistas, que dominavam a região há 36 anos, apesar de ganharem as eleições, perderam centenas de milhares de votos, principalmente par a abstenção, e não têm maioria para governar, face à soma dos partidos da direita (“Cidadanos”, PP e Vox), estando o caminho aberto para uma “geringonça” de direita, com o Vox a crescer em protagonismo e a lançar-se para um bom resultado a nível nacional já nas eleições para o parlamento europeu.

O PSOE da Andaluzia representa o que há de mais corrupto nesse partido e apresentaram uma candidata que é uma espécie de equivalente local de José Sócrates!

Por sua vez a facção liderada pela candidata local, a principal adversária interna de Pedro Sanchez, representa a tendência socialista que, um pouco por toda a Europa, abdicou dos seus princípios para se render ao poder financeiro e ao neoliberalismo, com o resultado que todos conhecemos.

Fartos dessa gente, os eleitores da Andaluzia quiseram varrer o PSOE, dando assim aval ao crescimento do extrema-direita.

Mas também o PP e o “Cidadanos” saíram derrotados da contenda, o primeiro deixando fugir grande parte do seu eleitorado para a extrema-direita. O Vox tem, aliás, origem numa cisão do próprio PP, que deixou cair a máscara democrática, mostrando que a origem do próprio PP  enraíza na falange franquista.

O “Cidadanos” que nunca se demarcou do próprio PP, mostrando que não passa de um PP.2, ficou também muito aquém do seu objectivo, que era o de ultrapassar o PP, começando provavelmente aqui o esvaziamento de um projecto “cheio de nada”!

Claro que o Vox ficou longe dos três mais votados, mas o simples facto de conquistar 12 lugares no parlamento andaluz vai dar-lhe uma visibilidade nacional que o irá catapultar para outros voos.

A corrupção que tem minado os regimes democráticos, devido à rendição dos partidos históricos aos mais obscuros interesses financeiros, a forma como a União Europeia lidou com a crise financeira, lançando no desespero milhões de cidadãos só para salvar esse mesmo sector financeiros e os “mercados”, e o grave problema da emigração, despoletado pela forma como o ocidente lidou com África e o Médio Oriente nas últimas décadas, contribuindo para a miséria do continente negro e as guerras no mundo de maioria muçulmana, contribuíram para acordar o monstro adormecido que era até há pouco tempo o populismo de extrema-direita.

Portugal passa a ser um caso isolado, até na Península Ibérica, mas o vírus que já anda à solta nas redes sociais, não demorará muito a espalhar-se pela frágil democracia portuguesa.

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