A Andaluzia é uma das regiões espanholas que partilha uma grande parte
da nossa fronteira com a Espanha e é uma das regiões que, a par da Galiza, mais
contactos mantém com Portugal.
A população dessa província espanhola , 8 milhões de habitantes, é
quase tanta como a totalidade da população portuguesa e elegeu um número inédito
de deputados da extrema-direita, do partido Vox, para o parlamento local, dando
assim um forte incentivo ao crescimento nacional desse partido, recém criado, e
que dá voz à extrema direita espanhola, até agora muito marginal ou dissolvida
no PP.
Para os comentadores que, até há pouco tempo, juravam a pés juntos que
a Península Ibérica não seria contaminada pelo fenómeno do populismo da extrema-direita,
argumentando como justificação para isso a vacina dos povos ibéricos contra essa
mesma extrema direita, por causa de se terem livrado recentemente de duas
ditaduras dessa área política, o resultado do Vox destruiu esse argumento.
O crescimento da extrema direita por cá só espanta quem anda mal
informado e afastado das “massas”.
Basta ouvir as conversas de rua e ler os comentários das redes sociais
para se perceber que o caminho está aberto para o aparecimento de um qualquer “salvador”
e populista da extrema-direita.
Em Espanha foi o descalabro do PSOE e do PP que muito contribuíram para
o “fenómeno”.
Na Andaluzia os socialistas, que dominavam a região há 36 anos,
apesar de ganharem as eleições, perderam centenas de milhares de votos,
principalmente par a abstenção, e não têm maioria para governar, face à soma
dos partidos da direita (“Cidadanos”, PP e Vox), estando o caminho aberto para
uma “geringonça” de direita, com o Vox a crescer em protagonismo e a lançar-se
para um bom resultado a nível nacional já nas eleições para o parlamento europeu.
O PSOE da Andaluzia representa o que há de mais corrupto nesse partido
e apresentaram uma candidata que é uma espécie de equivalente local de José
Sócrates!
Por sua vez a facção liderada pela candidata local, a principal
adversária interna de Pedro Sanchez, representa a tendência socialista que, um
pouco por toda a Europa, abdicou dos seus princípios para se render ao poder
financeiro e ao neoliberalismo, com o resultado que todos conhecemos.
Fartos dessa gente, os eleitores da Andaluzia quiseram varrer o PSOE,
dando assim aval ao crescimento do extrema-direita.
Mas também o PP e o “Cidadanos” saíram derrotados da contenda, o
primeiro deixando fugir grande parte do seu eleitorado para a extrema-direita.
O Vox tem, aliás, origem numa cisão do próprio PP, que deixou cair a máscara
democrática, mostrando que a origem do próprio PP enraíza na falange franquista.
O “Cidadanos” que nunca se demarcou do próprio PP, mostrando que não
passa de um PP.2, ficou também muito aquém do seu objectivo, que era o de
ultrapassar o PP, começando provavelmente aqui o esvaziamento de um projecto “cheio
de nada”!
Claro que o Vox ficou longe dos três mais votados, mas o simples facto
de conquistar 12 lugares no parlamento andaluz vai dar-lhe uma visibilidade
nacional que o irá catapultar para outros voos.
A corrupção que tem minado os regimes democráticos, devido à rendição
dos partidos históricos aos mais obscuros interesses financeiros, a forma como
a União Europeia lidou com a crise financeira, lançando no desespero milhões de cidadãos só para salvar esse mesmo sector financeiros e os “mercados”, e o
grave problema da emigração, despoletado pela forma como o ocidente lidou com
África e o Médio Oriente nas últimas décadas, contribuindo para a miséria do
continente negro e as guerras no mundo de maioria muçulmana, contribuíram para acordar
o monstro adormecido que era até há pouco tempo o populismo de extrema-direita.
Portugal passa a ser um caso isolado, até na Península Ibérica, mas o vírus
que já anda à solta nas redes sociais, não demorará muito a espalhar-se pela
frágil democracia portuguesa.
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