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quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

“Portugal Grande de Novo”??



Este é o título do manifesto de convocação da manifestação “apartidária” que está  prevista para esta 6ª feira:
A primeira pergunta a colocar é…, para além do título cheirar a “trumpismo” ou “bolsonarismo”, sem esquecer a sua origem numa frase dos nacionalismos fascistas  dos anos 30, quando é que Portugal foi “grande”? A época dos descobrimentos já lá vai e as razões pelas quais Portugal foi pioneiro (tese também discutível) estão mais que escrutinadas nas mais variadas teses históricas. Depois disso, só se estiverem a pensar na propaganda colonial do Estado Novo, um mítico Portugal “do Minho a Timor”!!

Para disfarçar a origem da convocação dessa “manifestação silenciosa” ( mas  que desta vez pretende ser ruidosa, cortando estradas e vias de acesso num dia de trabalho…), usam depois um conjunto de reivindicações que qualquer pessoa pode subscrever, mas que são contraditórias entre si.

Propõem, justamente, o aumento do salário mínimo para 700 euros e das pensões mínimas para os 500 euros, cortando as pensões para ( primeira contradição) ora  2 mil, ora 5 mil euros. (provavelmente algum dos proponentes assustou-se com a própria proposta e lançou a confusão…). Mas, porquê 700 ou 500? Com base em que critério? Pela nossa parte já aqui demonstrámos várias vezes que não devia haver salários abaixo do 800 euros, que podiam ser acima de mil euros se não se tivesse negociado tão mal a adesão ao euro, um euro que veio a acentuar as desigualdades na Europa, mas para cuja manutenção se exige o cumprimento de regras a uns (os países do sul) e se fecha os olhos a outros (França e Alemanha)…mas isto é outra história!

Propõe, por outro lado, uma atabalhoado conjunto de medidas sociais (para além do aumento das pensões mínimas), como a reforma do SNS e, por outro, contraditoriamente, a baixa dos impostos!!

Mas não um imposto qualquer: o IVA e o IRC. É revelador do tipo de interesses económicos que podem estar por detrás desta manifestação!.

Também é revelador que, quando falam na justa redução da taxa de electricidade, estraguem tudo quando especificam a taxa sobre emissão de dióxido de carbono! Então os manifestantes são daqueles que acham que não existem alterações climatéricas, não sendo, por isso, necessário tomar medidas para as combater, como a contenção no consumo energético?

E podíamos ir por aí fora!

Para quem duvida que a origem da convocatória parte de grupos de extrema-direita, basta consultar o histórico do conteúdo da maior parte dos site e das páginas dos promotores mais activos dessa manifestação.

Historicamente  o populismo de extrema direita sempre se caracterizou por uma propaganda contraditória, misturando justas reivindicações sociais, a denuncia, politicamente selectiva, da corrupção politico-partidária que mina as democracias, embrulhado numa mítica retórica nacionalista.

Claro que toda a gente tem direito de manifestação, nem este é um direito exclusivo da esquerda, e que existem muitos e bons motivos de descontentamento popular.

Mas esta não é um manifestação normal, convocada com hora e local, para desfilar ordeiramente pelas ruas do país.

Ela apela de imediato para o corte de estradas e vias, atitude que, apesar do hipócrito apelo que fazem à “não violência”, só se pode concretizar com violência, violência essa que está no gene dos mais entusiastas apoiantes e organizadores dessa manifestação (basta consultar o histórico das páginas dessa gente nas redes sociais).


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