(foto de Alberto Frias/Expresso)
Nunca votei em José Sócrates, mas, logo no início do seu mandato,
quando deu ao PS a sua primeira maioria absoluta, que lhe foi oferecida pelos
portugueses fartos dos governos do descalabro de Barroso/Santana Lopes, tive
alguma esperança que algo mudasse na política nacional.
Pela primeira vez o PS ía governar com maioria absoluta e podia, também
pela primeira vez desde o 25 de Abril, implantar o seu programa
social-democrata sem constrangimentos.
Infelizmente essa esperança desde cedo de esfumou, com a governação
autoritária de Sócrates, com o início da destruição do já de si fraco Estado
Social e a retirada de direitos socias, virando portugueses contra portugueses,
fazendo dos professores o bode expiatório do seu autoritarismo, iniciando o
discurso da austeridade , dando início ao descalabro que nos levou à troika e
ao governo de zombies actualmente no poder sob a “liderança” fantasma de Cavaco
Silva.
Ou seja, se com Barroso e Santana Lopes pensávamos que tínhamos
atingido o grau zero da política, o pior estava para vir com os governos que se
sucederam, os de Sócrates e de Coelho (…e, sempre, Portas, que já vinha dos
tempos de Barroso..).
Com Sócrates a submissão do poder político aos obscuros poderes
financeiros, aos ditames de uma Europa cada vez menos solidárias, sob
orientação de Merkel (então acompanhada por Sarkozy), aos negócios milionários
com os novos ricos de Angola, da Venezuela e da China (à custa da miséria e da
exploração das populações e dos trabalhadores desses países) e a distribuição
dos dividendos assim obtidos pelos boys do costume, atingiu o seu ponto de não
retorno, que encontrou no actual governo um fiel e entusiasta seguidor .
O nosso blogue surgiu a meio do primeiro mandato de Sócrates e desde
logo manifestámos a nossa feroz oposição ao socratismo (basta clicar na
etiqueta “anti-sócrates”, e ir clicando no final da página em “mensagens
antigas” para poderem ler o que aqui escrevemos ao longo desses tempos).
Por isso estamos hoje à vontade para escrever o que vem a seguir.
A detenção de José Sócrates na noite da passada 6ª feira foi um
acontecimento que não nos surpreendeu, dado o historial do
ex-primeiro-ministro, mas mereceu-nos desde logo alguma estranheza pelo momento
escolhido e pelo modo como decorreu.
Ficámos desde logo perplexos quando, cinco minutos depois de termos
ouvido na SIC-notícias, no noticiário da meia-noite, já no Sábado, a notícia da
detenção de Sócrates, terem desde logo aparecido imagens com o presumível carro
da polícia que o transportava após a detenção no aeroporto, ao mesmo tempo que
o jornalista referia o secretismo da investigação.
Ou seja, como é que, se a investigação e a prisão tinham sido conduzidas
de forma tão secreta ,havia no local, “por acaso”, uma câmara da SIC que
filmava o “momento”?
Poucas horas depois ficávamos ainda mais perplexos ao sabermos que dois
órgãos de informação, o “Sol” e o “Correio da Manhã”, pespegavam nas primeiras
páginas, preparadas antes da notícia ser conhecida pelo público, informações
presumivelmente retiradas do processo, o tal processo “conduzido com
secretismo”.
Ou seja, estamos mais uma vez perante um gravíssimo caso de violação de
segredo de justiça, que tanto tem contribuído para “queimar” e contaminar
processos judiciais que envolvem políticos e grandes interesses
económico-financeiros.
Também, ao longo deste fim-de-semana, fomo-nos apercebendo que, a
acompanhar este processo, existe uma guerra entre órgão de comunicação social,
o “Sol” e o “Correio da Manhã” por um lado, a SIC e o “Expresso” por outro, o que põe desde
logo em causa a “independência” como esse caso vai ser acompanhado nesses
órgãos de comunicação.
Ou seja, para além do próprio caso em si, vamos ter uma violenta guerra
de tubarões da comunicação social que vai fazer deste caso uma arma de
arremesso.
Outra perplexidade prende-se com o aparato da prisão. Ao que parece
Sócrates não foi apanhado a fugir no aeroporto, mas a regressar, pelo que a
detenção, feita como foi, parece visar a simples humilhação do detido.
Mas a nossa perplexidade adensa-se quando nos apercebemos
do momento escolhido para essa detenção, o fim-de-semana em que o PS escolhia
um novo secretário geral, no culminar de uma semana marcada por um outro
escândalo de grandes repercussões, o dos chamados Vistos Gold, que tinha
atingido o governo com grande estrondo.
Como se pode ver, acompanhando a comunicação social, casos gravíssimos
como o dos Vistos Gold ou o do BES, para já não falar do BPN, da Tecnoforma ou o dos “submarinos”, passaram
de imediato ao quase esquecimento.
Contudo, e por aquilo que se sabe sobre as razões da detenção de José
Sócrates, sendo graves, não atingem a gravidade dos outros casos que passaram
par segundo plano, nem tem os custos,
para os portugueses e para o erário público, que esses outros casos anteriores
têm.
Agora a justiça tem, pelo menos neste caso, de levar o caso Sócrates
até às últimas consequências, sem deixar qualquer duvida ou sobre a
culpabilidade, ou sobre a inocência de José Sócrates.
E, para que o caso não se politize, tem de agir célere, não se podendo
arrastar até ao período eleitoral que se avizinha.
Ao mesmo tempo, tanto a justiça, como a comunicação social, não podem
deixar cair no esquecimento os casos dos Submarinos, do BPN, do BES, da
Tecnoforma ou dos Vistos Gold e devem ser igualmente céleres a esclarecer esses
casos.
Caso contrário é a justiça e, a prazo, a democracia que passam a estar
em causa, abrindo o caminho ao populismo e à demagogia e, mais depressa do que
se pode pensar, em vez de uma dezenas de desordeiros de extrema-direita a
manifestarem-se á porta do campus de justiça, veremos rapidamente esse número a
aumentar.
A credibilidade das instituições democráticas joga-se neste caso.
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