Tudo começou quando a entrada de Portugal na então CEE coincidiu com o
início de cerca de 10 anos de consulado cavaquista.
A chegada de Cavaco ao poder coincidiu com a entrada em barda de “uma
pipa de massa” em Portugal de fundos europeus para “desenvolver” o país, ao
mesmo tempo que se iniciava a privatização de grande parte da banca e de
grandes empresas estatais que controlavam “sectores estratégico”.
A chegada de Cavaco coincidiu também com a teoria do “capitalismo
popular” iniciado uns anos antes na Grã Bretanha com Margaret Thatcher, que
tinha por cá grandes admiradores, entre ao quais o “nosso” Cavaco.
Os bancos recém privatizados precisavam de aumentar capital e nada
melhor do que controlar os fundos europeus e os investimentos, canalizando-os
para o lucro fácil e imediato, participando activamente na privatização e
controle das empresas estatais ligadas aos sectores estratégicos, beneficiando
do “boom” da construção civil, fomentando o capitalismo popular através do
facilitismo com que se distribuíam cartões de crédito ou empréstimos para a
compra de carro e casa.
Era o tempo dos novo- ricos, construídos com os fundos europeus, que se
exibiam nos seus jipes e carros topo de gama, as suas mega casas, as férias em praias
paradisíacas da moda.
O país, embora tenha investido na educação, na saúde e num esboço de “Estado
Social”, acabou por esbanjar a maior parte da “pipa de massa” europeia em
projectos megalómanos e em auto-estradas que desenvolveram, de forma desproporcional,
o sector da construção civil, ao mesmo tempo que destruía o sector dos transportes
públicos e o aparelho produtivo nacional, destruindo os sectores da industria e da agricultura e
desertificando o interior do país.
Era o tempo em que se ridicularizavam as actividades ligadas à
agricultura e à industria, enquanto se endeusava a terciarização do país.
A cereja no topo do cavaquismo foi idealizar a Expo 98, enquanto já se
sonhava com Jogos Olímpicos e outros eventos mundiais e que desembocaria, no
início do século XXI, no descalabro financeiro que foi o Europeu de 2004.
Foi neste clima eufórico de capitalismo popular e de fundos sem fim que
a política se tornou uma actividade facilitadora de grandes negócio, onde as
ligações cada vez mais estreitas entre a alta finança e a política deixou de
ter qualquer limite ético.
A assembleia da República e os governos passaram a servir os interesses
das grandes fimas de advogados, dos grandes bancos, das grandes empresas de construção
civil, por onde circulavam, em roda viva, políticos do centrão.
Era o tempo do conveniente “fim das ideologias”, dos políticos
profissionais gerados nas “jotas”, dos “jobs for the boys” .
O primeiro governo de Guterres ainda tentou remar contra a maré, mas
rápidamente soçobrou aos “boys” do PS que não queriam ficar fora da festa.
E foi um desses “boys” gerados nas “jotas” e no poder autárquico que
veio a “elevar” ainda mais alto o ideal cavaquista, que entretanto já havia
contaminado o PS.
Chamava-se José Sócrates e foi mais um produto da comunicação social
(como o tinha sido o seu antecessor, Pedro Santana Lopes), comprovando aquela
máxima segundo a qual a televisão até conseguiria eleger um sabonete para
presidente da República.
Bem falante, sabendo “passar a imagem”, manipulando com mestria a justiça e uma comunicação social cada vez
mais dependente do grande poder financeiro, Sócrates conseguiu impor um modelo
de governação que mostrava que o mundo dos negócios não era apanágio da direita
e que a “esquerda” podia lidar e agradar aos grandes interesses financeiros e
fazer o trabalho da direita na destruição dos direitos sociais, na destruição
da influência sindical e no combate à influência de sectores profissionais “privilegiados”.
Era o tempo dos “varas”, dos “pina moura”, dos “constâncios”.
Para isso contou com a conivência e colaboração de toda uma máquina de
propaganda implantada na comunicação social de referência, com comentadores que
faziam passar a imagem de que os direitos eram um privilégio, que os funcionário
públicos eram preguiçosos, que os trabalhadores portugueses viviam acima das
suas possibilidades, enfim, que era preciso impor um modelo de austeridade para
“modernizar” a sociedade.
A “crise financeira” inventada pela grande finança europeia, o roubo
colectivo mais bem organizado da história,
acabaria por prescindir dos serviços de Sócrates e impor ao país um governo mais
subserviente , que assumisse de forma mais activa e entusiástica um programa de
austeridade que permitisse uma mais rápida transferência de capital para a
grande finança, e impusesse um modelo de empobrecimento do país que Sócrates já
não tinha capacidade para executar.
E é assim que chegamos ao dia de hoje, onde Sócrates se torna no bode
expiatório conveniente e politicamente correcto para que essas políticas se
possam continuar a concretizar…mas isso é outra história à qual voltaremos.
No essencial, do cavaquismo ao socratismo, o que aconteceu é que se
perderam todas as referência éticas e culturais que permitiam criar um cordão
sanitário entre o mundo dos grandes negócios e a um ideal de uma política ao
serviço da sociedade.
E , neste aspecto, Sócrates não é o único culpado nem o principal
actor!!!!
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