Nunca como nestas eleições levei a minha indecisão até à boca das urnas.
Ainda não sei o que é que vou fazer com o meu voto (que é meu e não vou deixar, nem um milésimo do seu valor , nas mãos de outros, para decidirem por mim…), mas sei o que não vou fazer.
Uma coisa que não vou fazer de certeza é abster-me ( a não ser que, até lá, sofra algum acidente ).
A abstenção é, quanto a mim, um desperdício anti-democrático. Na abstenção cabem os eleitores fantasma, mortos há muito tempo, os que estão gravemente doentes, os moralmente incapazes, os indiferentes, os ignorantes, os fascistas ressabiados, saudosos da “democracia doutros tempos”, os stalinistas saudosos das “democracias populares”, ou os anarquistas, talvez os únicos coerentes no meio dessa malta toda. A abstenção é sempre um voto no partido mais votado. Quanto maior ela for, menor será o número de eleitores necessário para dar uma maioria ao partido mais votado. É assim que se têm formado maiorias, algumas absolutas, e governos “estáveis”, com 25% de eleitores ou ainda menos. A abstenção é dar a outros o nosso poder de decisão. Quem se abstêm deixa de ter qualquer autoridade ou legitimidade, durante o período em que durar a legislatura, para se prenunciar sobre a acção política do governo ou do parlamento. É que, concorde-se ou não, ainda vivemos em democracia, e se esta democracia não nos agrada, somos todos responsáveis por isso, mormente pela irresponsabilidade cívica da maioria...
Pessoalmente há ainda um outro motivo para não me abster que é o respeito por aqueles, como foi o caso do meu pai, que prejudicaram a sua vida pessoal e profissional, e a sua saúde, para lutar pelo direito ao voto.
Pessoalmente há ainda um outro motivo para não me abster que é o respeito por aqueles, como foi o caso do meu pai, que prejudicaram a sua vida pessoal e profissional, e a sua saúde, para lutar pelo direito ao voto.
O voto nulo é outra inutilidade do mesmo género, onde se mistura a iliteracia daqueles que não sabem colocar um cruz correctamente no boletim de voto, com a boçalidade de outros.
O voto em branco, esse sim já tem uma peso cívico, revela, sem confusões, um sentido crítico, mas continua a ser uma inutilidade, já que não conta para, por exemplo, retirar lugares de deputados no parlamento (esta é uma hipótese a ponderar em futura revisão da lei eleitoral).
Outra coisa que não vou fazer é votar nos partidos do “centrão”, aqueles que nos têm governado há mais de 35 anos, com os resultados que estão à vista, mercê de uma outra inutilidade que dá pela designação de "voto útil" (útil para quem?).Infelizmente, mercê de uma disparatada e pouco democrática construção de círculos eleitorais, acontece que nalguns distritos só vão ser eleitos deputados desses dois partidos, não tendo qualquer valor o voto noutros partidos. Uma enormidade pouco democrática que também deve ser alterada numa futura revisão da lei eleitoral, tornando possível aproveitar, num grande círculo eleitoral nacional, o sentido democrático de todos os votos.
Mas nos distritos do litoral, e, em especial no distrito de Lisboa, aquele ao qual eu pertenço, existe uma maior possibilidade de diversificar a representatividade do voto.
Felizmente o espectro partidário português abrange um leque variado de opções, para todos os gostos, por isso a desculpa da falta de opções parece-me uma falsa questão.
Claro que se me perguntarem se me identifico em 100% com alguns dos partidos terei, honestamente que dizer que não, nem, provavelmente em 50%.
Aliás, recordo-me de, há alguns anos, o saudoso semanário “O Jornal” ter publicado um inquérito, tendo por base os programas dos principais partidos, para os leitores medirem a maior proximidade ou afastamento face a esses partidos. Curiosamente, o resultado da minha resposta a esse inquérito punha-me a concordar com cerca de 30% do partido que considerava que estava ideologicamente mais afastado de mim, enquanto que a concordância com aquele que estaria mais próximo não ultrapassava os 60%.
É claro que, se só decidirmos votar no partido ou movimento que esteja 100% de acordo connosco, só o faremos quando esse partido…formos nós próprios, o que me parece de um imenso egoísmo e hedonismo. Neste aspecto, e se de facto acreditamos na democracia, mesmo que a não consideremos perfeita, há que ser pragmático e votar naquele partido que, ou está mais próximo daquilo que nós defendemos para a sociedade portuguesa, ou tem sido mais coerente na defesa desses ideais, ou tem contribuído para nos defender enquanto cidadãos e trabalhadores, ou ainda como voto de protesto.
Mas devemos ter o discernimento que essa proximidade nunca será a 100%, nem talvez a 50%.
Por tudo isso vou votar mais uma vez, até porque, em democracia nunca equacionei a hipótese de me abster ou votar nulo, nem de desperdiçar o meu voto votando em branco.
Sei que dificilmente estarei de acordo com mais de 50% das ideias, atitudes ou programa do partido em que vou votar.
Por isso vou escolher, face aos momento grave que se vive, em função da minha ideologia, que é de esquerda (da qual considero que o PS também faz parte, mas não, neste momento, o de José Sócrates, evidentemente).
Vou votar num partido que, à esquerda, e no distrito de Lisboa, possa estar em risco de perder deputados (situação que ainda não analisei).
Vou votar num partido que, de forma coerente, me defenda como trabalhador, cidadão e contribuinte, mesmo que por vezes não o faça da melhor maneira ou com os melhores argumentos.
De certeza que vou votar e sei o que não vou fazer…falta-me a decisão final quanto ao sentido do meu voto.
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