Não deixa de ser curioso aparecer por aí tanta gente que só agora
descobriu que a fortuna de Isabel dos Santos foi construída na corrupção e à
custa da miséria da população angolana.
Ainda não há muito tempo a dita senhora era endeusada pelo jornalismo
económico, pelo sector económico e por grande parte da classe política do
centrão.
Sobre o que está em causa, leia-se AQUI a reportagem do Diário de Notícias.
Quando, no tempo de Sócrates e da “troika”, muitas empresas precisaram
do seu dinheiro para se salvarem, nunca perguntaram a origem desse dinheiro.
Quando muitos políticos desempregados arranjaram emprego à custa de
empresas financiadas por Isabel dos Santos, também nenhum se interrogou sobre o
financiamento das ditas empresas.
O caso mais emblemático é o caso do Banco Eurobic. Fundado tendo por
base a nacionalização e posterior privatização de um outro banco falido, o ministro
que tomou a decisão, Teixeira dos Santos, é hoje o presidente desse banco “criado”
com capitais de Isabel dos Santos. Nas origens do banco esteve outro tubarão da
política financeira do centrão, Mira Amaral (leia-se, a propósito, o seguinte artigo, escrito AQUI já há dois anos).
Já agora, para memória futura, registem-se aqui algumas empresas, uma
já extintas, outras não, que estiveram na base ou beneficiaram (ou contribuíram
para) da fortuna e da influência política de Isabel dos Santos:
- Sonangol ;
- Santoro;
- GALP;
- Banco BIC, hoje EuroBic;
- Angola Diamond Corporation;
- Terra Verde (agropecuária);
- IDUKA, agência imobiliária em Braga;
- Unicer;
- etc, etc, etc,……
Detém ainda uma parte do jornal “Sol”.
(Fonte: Diário de Notícias)
Convém ainda recordar que o investimento de Isabel dos Santos e das “suas”
empresas em Portugal, iniciado com Durão Baroso, mas que conheceu um boom na
era Sócrates, contou com a “colaboração” de empresas como a corticeira Amorim,
a Amorim Energia, o extinto Banco Espírito
Santo, a rex-PT, a NOS, a Mota-Engil, a CGD , a Galp, o BCP, o Santander, a Sonae, a Efacec…
Entre os “quadros” que em Portugal beneficiaram ou ajudaram a
influência política e financeira de Isabel dos Santos, encontram-se nomes,
alguns entretanto “reformados”, como o ex-ministro do PSD Mira Amaral, António Monteiro, Tavares Moreira, outra
figura do PSD, ou António Pires de Lima, figura de destaque no CDS e nos tempos
da “Troika”.
Leia-se, a propósito, este artigo sobre "os laços de Isabel dos Santos com a elite económica portuguesa".
Caída em desgraça, muitos dos mafiosos, que beneficiaram e promovem as
mesmas práticas de fuga a impostos, lavagem de dinheiro e compadrio político-financeiro,
como os vampiros de Davos, vieram agora,
apressadamente, tirar-lhe o tapete.
Um dos casos mais significativos foi a da consultadoria PWC que,
durante anos andou a legitimar os negócios de Isabel dos Santos e que agora se
apressa a cortar relações com ela. Se eu fosse investidor, apressava-me a
riscar essa empresa nas decisões dos “meus” negócios, pois, ou essa empresa foi
conivente com a corrupção da empresária angolana ou, se não sabia de nada, é
incompetente na sua área de negócio.
Muitos que agora batem com a porta nunca se preocuparam com a origem de
tanta riqueza, apesar de tantos avisos ao longo do tempo.
No fundo, toda essa gente sabe que essa riqueza e o seu tipo de
negócios só se constrói fugindo ao fisco, roubando populações inteiras,
destruindo o ambiente, colocando dinheiro em off shores, traficando influências
entre o mundo da política e da alta finança.
Enquanto tudo corre bem, gentalha como a Isabel dos Santos anda nas
boas graças, até porque também deu dinheiro a muitos dos seus actuais
detractores.
Mas a procissão ainda vai no adro.
Isabel dos Santos não roubou sozinha e, se ela cair, vai ser uma razia
na banca portuguesa, nalgumas esferas políticas do centrão, em conhecidos
escritórios de advogados, e em grandes empresas onde pontificam GEO’s de
renome, muitos colocados nesses cargos pelos favores políticos que fizeram à
dita senhora.
Também o Banco de Portugal e o Ministério Público vão sair chamuscados
de toda esta situação, porque, ao longo do tempo, ignoraram o alerta de
jornalistas, de alguns políticos, e muita gente.
Desconfia-se mesmo da conivência do Banco de Portugal e do Ministério
Público, bem como de uma grande parte do sector financeiro em Portugal e na
Europa, com a situação agora publicamente denunciada.
Ainda hoje ouvi uma comentadora de economia a "justificar" Isabel dos Santos com a desculpa de que ela fez o que é normal fazer-se no sector financeiro
por essa Europa fora, só sendo escandaloso porque envolve um país africano
pobre.
A atitude dos mafiosos do Forum de Davos dá razão a essa jornalista.
De facto, o tipo de actuação de Isabel dos Santos é igual ao tipo de
actuação do sector financeiro do sistema neoliberal: fugir ao controle e à regulamentação
através do recurso a paraísos fiscais, envolver a classe política dos seus
negócios, de modo a influenciarem as políticas financeiras, económicas, sociais e
fiscais dos governos, e explorar e delapidar os recursos naturais do planeta,
apesar dos custos sociais e ambientais.
Tal como a máfia, o poder financeiro mundial, representado no Forúm de
Davos, tem de “eliminar” aqueles que, no seu meio, caiam em desgraças, para
desviarem as atenções das suas malfeitorias e não caírem com eles.
Vai ser divertido ouvir e ler por aí alguns comentários de jornalistas
e comentadores da área económica e financeira que sempre legitimaram os métodos
de actuação que foram seguidos por Isabel dos Santos .
Aguardam-se cenas dos próximos capítulos.
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