(Fonte: "A BOLA")
Em Portugal, Desporto é sinónimo de…futebol!
Tudo bem se, do futebol, viessem bons exemplos para a sociedade, para a
formação dos jovens, se fosse tudo claro no seu financiamento e houvesse
resultados dignos de nota.
Nas televisões, os programas desportivos deviam chamar-se antes
programas de futebol, assim como o espaço dedicado ao “desporto” no (exagerado)
espaço que lhe é dedicado.
Tenho visto televisões noutros países, em especial na nossa vizinha
Espanha, e, na comunicação social “normal” desses países, existe, sim, um
espaço desportivo, mas não se abrem noticiários ou alertas de “última hora”
com resultados de jogos triviais, transferências de jogadores ou boçalidades
dos vários protagonistas do futebol.
Aí, o espaço dedicado ao desporto inclui todos os desportos em
destaque, onde cabe também, obviamente, o futebol, mas é sempre um espaço
curto, remetendo os debates e reportagens
alargadas para canais ou espaços próprios.
Por cá, o tempo que, diariamente, as televisões dedicam ao futebol
chega a enjoar até ao bocejo e ao vómito.
A pluralidade de canais televisivos, que devia garantir a diversidade,
transforma-se rapidamente numa informação totalitária, ao nível de uma Coreia
do Norte, quando se trata de futebol.
Se corrermos todos os canais em certos dias e em certas horas, somos
capazes de estar a seguir a mesma conferência de imprensa de um treinador ou de
um dirigente desportivo em mais de 10 canais!!!
Depois há o costume de, cada vez que se fala num dos “grandes”
(Benfica, Sporting ou Porto), ter de correr as “capelinhas” todas, situação agora agravada pela necessidade de acompanhar todos os resultados de clubes internacionais onde jogam ou treinam portugueses.
Há também uma grande deferência para com qualquer declaração ou
polémica, eivada de todo o tipo de boçalidades e ofensas, que venha do mais
obscuro dirigente de um clube de futebol.
Contudo, o mundo do futebol é um meio pouco edificante e os resultados
são, em média, medíocres.
Qualquer actividade desportiva em Portugal (já para não falar em
actividade cultural ou científica), pode exibir uma quantidade de troféus
internacionais ( a nível europeu ou mundial) muito acima dos parcos resultados
do futebol (temos umas, cada vez mais raras, vitórias europeias por equipas,
uma única de selecções e, a nível mundial, apenas dois troféus, um por equipas,
do Porto, já com décadas, e outro na secundária Liga das Nações…).
Por outro lado, sendo o futebol uma das actividades mais bem
financiadas, nunca se viu um grande interesse entre o poder político e entre o
meio jornalístico em investigar, a fundo, a origem de tanto dinheiro, mais que
suspeito.
Por último, a postura da maior parte dos dirigentes do grandes clubes,
e não só, é a de meros arruaceiros, revelando uma grande falta de fair play, como
se revelou, de forma gritante, no último fim-de-semana com o “caso” do jogo
entre o Sporting e o Setúbal.
Com os jogadores deste clube quase todos doentes, e apesar de haver
abertura entre os jogadores e os treinadores de ambos os clubes para adiar a
partida, os dirigentes leoninos mostraram uma grande falta de fair play,
insistindo em manter um jogo, só porque tinham possibilidade de ganhar facilmente,
talvez para disfarçar os maus resultados da época.
Não deixa de ser irónico que tenhamos assistido à trágica morte de um
motociclista português, Paulo Gonçalves, no “Dakar”, um dia depois daquela lamentável
situação no futebol caseiro, para ficarmos a conhecer um desportista que era o
exemplo do contrário de tudo o que se passa no meio futebolístico.
Paulo Gonçalves, campeão do mundo de motocross, com um invejável
palmarés no seu desporto, era praticamente um desconhecido, a não ser no meio
do motociclismo.
Não se conhecem muitas entrevistas com ele na comunicação social e,
mesmo a actual temporada do “Dakar”, pouca atenção tinha merecido, até esse
trágico acidente, nas televisões nacionais.
Para além disso, a sua morte trouxe ao conhecimento público as muitas
ocasiões em que o piloto, muitas vezes em prejuízo próprio, prestou ajuda e assistência
a outros concorrentes nas mais variadas provas em que participou.
Também, ao contrário do infeliz hábito de jogadores e treinadores de
futebol, não se apressava a insultar os árbitros quando as coisas não lhe
corriam de feição. Arregaçava as mangas, tentava emendar os erros e punha-se a
caminho, atitude que, aliás, acabou por lhe custar a vida.
É bom que se saiba que, também os havendo no futebol, existem muitos excelentes
desportistas nas mais variadas competições, com melhores resultados até, e com
o fair play, que, faltando cada vez mais no mundo do futebol, devia ser
apanágio e exemplo dos verdadeiro desportista.
Obrigado Paulo Gonçalves por nos lembrares que existem bons valores no
mundo do Desporto!
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