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quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Onde estão os verdadeiros “social democratas”?



Anda por aí um debate entre partidos e comentadores para saber quem é o verdadeiro social-democrata.

Em termos gerais a social-democracia tem origem numa ruptura no movimento operário, entre os que defendiam a revolução para conduzir a classe operária ao poder, para acabar com a exploração capitalista, posição que esteve na origem do movimento comunista nas suas mais diversas tendências, e os que defendiam que a emancipação da classe operária se devia fazer pela via democrática, participando em eleições, em lutas legais, principalmente através dos sindicatos, com o objectivo de reformar o capitalismo por dentro.

As diferenças são bem mais complexas do que isso e o próprio movimento social-democrata acabou por seguir caminhos diversos (leia-se, a propósito, AQUI, um interessante resumo da história da social-democracia).

Com a Terceira Via (de Blair, Sócrates, Zapatero, Schroder e outros) a social-democracia acabou por trair todos os seus valores originais e tornou-se um dos principais pilares do neoliberalismo triunfante, deixando de defender aqueles que diziam ( e ainda dizem) defender.

Em Portugal não é totalmente incorrecto designar o PSD, o PS e até o BE de “social-democratas”, pois cada um deles defende as diferentes perspectivas que singraram, ao longo do tempo, no  movimento.

Contudo, tirando uma ou outra personalidade do PSD (Pacheco Pereira e pouco mais), a ala “esquerdista” do PS e, sem dúvida o BE no seu conjunto, os que defendem, em termos práticos e teóricos,  a verdadeira social-democracia, principalmente nos partidos do “centrão”, são uma minoria, cada vez mais isolada naqueles dois partidos.

Governos liderados pelo PSD e a maioria dos liderados pelo PS, mesmo que incluam uma retórica “social-democrata” no seu programa, têm, pelo contrário, contribuído para agravar as condições de vida de quem vive do seu trabalho, beneficiar o sector financeiro e os grandes empresários, esvaziar o “Estado Social” ( principal herança da prática passada da verdadeira social-democracia), retirar direitos a quem trabalha, e combater a influência dos sindicatos.

Claro que o último governo liderado pelo PS se afastou um pouco daquela prática histórica dos partidos do centrão, que, em tempos, já disputaram a presença na internacional socialista e social-democrática.

Tal aconteceu, em grande parte, porque o radicalismo neoliberal do governo de Passos Coelho foi tão desastroso para as condições de vida em Portugal, que qualquer mudança, em benefício dos cidadãos, por pequena que fosse, seria vista como um regresso à pureza “social-democrata”, para além da dependência deste governo em relação aos partidos à sua esquerda que o pressionaram a mudar o rumo das coisas.

BE e PCP, aceitando o jogo democrático e abandonando, na prática, a via revolucionária, são os que têm defendido, de forma consequente, a verdadeira social-democracia, ou seja, têm (principalmente o PCP) uma forte influência no meio sindical, defendem com unhas e dentes o Estado Social (recorde-se, o único objectivo conseguido pela social-democracia histórica), defendem quem trabalha e os mais desfavorecidos, combatem a expansão do neoliberalismo e a influência do capitalismo financeiro no destino das sociedades, única forma, aliás, de combater as alterações climatéricas de forma consequente.

Ou seja, se tivermos em conta a sua acção recente e a defesa consequente de valores sociais, os verdadeiros partidos social-democratas, hoje em Portugal, são, ( para além de outros pequenos partidos como o MAS ou o LIVRE), por um lado o Bloco de Esquerda, que até já assume a social-democracia, e, por outro, o PCP, que, não abandonando a retórica comunista e revolucionária, sempre actou, pelo menos desde que a democracia se consolidou em Portugal, como um verdadeiro partido social-democrata.

E tudo isto nos conduz ao nosso posicionamento em relação ao próximo acto eleitoral, tema ao qual voltaremos oportunamente.

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