Anda por aí um debate entre partidos e comentadores para saber quem é o
verdadeiro social-democrata.
Em termos gerais a social-democracia tem origem numa ruptura no
movimento operário, entre os que defendiam a revolução para conduzir a classe
operária ao poder, para acabar com a exploração capitalista, posição que esteve
na origem do movimento comunista nas suas mais diversas tendências, e os que
defendiam que a emancipação da classe operária se devia fazer pela via democrática,
participando em eleições, em lutas legais, principalmente através dos
sindicatos, com o objectivo de reformar o capitalismo por dentro.
As diferenças são bem mais complexas do que isso e o próprio movimento
social-democrata acabou por seguir caminhos diversos (leia-se, a propósito, AQUI, um interessante resumo da história da social-democracia).
Com a Terceira Via (de Blair, Sócrates, Zapatero, Schroder e outros) a
social-democracia acabou por trair todos os seus valores originais e tornou-se
um dos principais pilares do neoliberalismo triunfante, deixando de defender
aqueles que diziam ( e ainda dizem) defender.
Em Portugal não é totalmente incorrecto designar o PSD, o PS e até o BE de “social-democratas”, pois cada um deles defende as diferentes perspectivas que singraram, ao longo do
tempo, no movimento.
Contudo, tirando uma ou outra personalidade do PSD (Pacheco Pereira e
pouco mais), a ala “esquerdista” do PS e, sem dúvida o BE no seu conjunto, os
que defendem, em termos práticos e teóricos, a verdadeira social-democracia, principalmente
nos partidos do “centrão”, são uma minoria, cada vez mais isolada naqueles dois
partidos.
Governos liderados pelo PSD e a maioria dos liderados pelo PS, mesmo
que incluam uma retórica “social-democrata” no seu programa, têm, pelo
contrário, contribuído para agravar as condições de vida de quem vive do seu
trabalho, beneficiar o sector financeiro e os grandes empresários, esvaziar o “Estado
Social” ( principal herança da prática passada da verdadeira social-democracia), retirar
direitos a quem trabalha, e combater a influência dos sindicatos.
Claro que o último governo liderado pelo PS se afastou um pouco daquela
prática histórica dos partidos do centrão, que, em tempos, já disputaram a
presença na internacional socialista e social-democrática.
Tal aconteceu, em grande parte, porque o radicalismo neoliberal do
governo de Passos Coelho foi tão desastroso para as condições de vida em
Portugal, que qualquer mudança, em benefício dos cidadãos, por pequena que
fosse, seria vista como um regresso à pureza “social-democrata”, para além da dependência
deste governo em relação aos partidos à sua esquerda que o pressionaram a mudar
o rumo das coisas.
BE e PCP, aceitando o jogo democrático e abandonando, na prática, a via
revolucionária, são os que têm defendido, de forma consequente, a verdadeira
social-democracia, ou seja, têm (principalmente o PCP) uma forte influência no
meio sindical, defendem com unhas e dentes o Estado Social (recorde-se, o único
objectivo conseguido pela social-democracia histórica), defendem quem trabalha
e os mais desfavorecidos, combatem a expansão do neoliberalismo e a influência
do capitalismo financeiro no destino das sociedades, única forma, aliás, de
combater as alterações climatéricas de forma consequente.
Ou seja, se tivermos em conta a sua acção recente e a defesa
consequente de valores sociais, os verdadeiros partidos social-democratas, hoje em Portugal, são,
( para além de outros pequenos partidos como o MAS ou o LIVRE), por um lado o
Bloco de Esquerda, que até já assume a social-democracia, e, por outro, o PCP,
que, não abandonando a retórica comunista e revolucionária, sempre actou, pelo
menos desde que a democracia se consolidou em Portugal, como um verdadeiro
partido social-democrata.
E tudo isto nos conduz ao nosso posicionamento em relação ao próximo
acto eleitoral, tema ao qual voltaremos oportunamente.
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