Regressados a este espaço, escolhemos como tema de abertura uma referência ao
feito do judoca português Jorge Fonseca, sagrando-se campeão do mundo de judo na
categoria de “-100Kg”, no passado dia 30 de Agosto, feito inédito no desporto
nacional.
Escolhemos este tema como abertura de uma nova época neste blog, porque
desejamos começar com uma boa notícia, selecionada do muito que se passou durante o nosso período
de ausência, mas também por tudo aquilo que Jorge Fonseca simboliza.
Em primeiro lugar estamos perante o feito de um jovem, oriundo de um
meio social difícil, não só do ponto de vista económico, mas também do ponto de
vista daquela que é a origem de muitos jovens portugueses, oriundos da
imigração, revelando uma história de vida toda feita de dificuldades.
O atleta de 29 anos chegou a
Portugal, oriundo de S. Tomé, com 11 anos, viveu no seio de uma família de
imigrantes, numa zona problemática dos subúrbios de Lisboa, a Damaia, tornou-se
pai com 17 anos e enfrentou um cancro.
Em segundo lugar, num país onde o futebol é rei, dominando a
comunicação social até ao enjoo, é mais uma vez uma actividade desportiva que
vive longe dos focos noticiosos que trás para Portugal um título com a dimensão
daquele que foi conquistado por Jorge Ferreira, na senda, aliás, de uma outra
judoca portuguesa, Telma Monteiro.
Os êxitos obtidos por atletas portuguesas neste desporto mostram que
eles não são fruto do acaso, de um feito individual isolado, mas de todos um
trabalho quase anónimo que começa em pequenos clubes de bairro (recorde-se aqui
o caso local do clube de Runa que, ao longo dos anos, quase esquecido,
contribui para o êxito do judo a nível nacional), e tem desenvolvimento em
grandes clubes, quase no anonimato, mal pagos, esquecidos, tal o peso do
futebol nesses mesmos clubes.
O feito de Jorge Fonseca mostra que o desporto é muito mais que
futebol.
Fizesse-se um levantamento dos títulos europeus, mundiais e olímpicos
obtidos nas várias modalidades e chegaríamos à conclusão que, em vez de seguir
a máxima da nossa comunicação social segundo a qual “desporto é futebol, o
resto é paisagem”, chegaríamos à conclusão inversa: no judo e em muitos outros
desportos possuímos uma esmagadora quantidade de títulos internacionais, ao
contrário do futebol, parco nesse mesmo tipo de títulos.
É caso para dizer, como o comprovou mais uma vez Jorge Fonseca, que, no
desporto nacional, os títulos dados pelo futebol não passam de uma nota de
rodapé na história do nosso desporto.
Obrigado Jorge Fonseca.
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