A Festa do Avante continua a ser um momento único no panorama dos
eventos culturais nacionais, estando muito para além da sua origem política.
Muito antes da invasão de festivais de Verão de todo o tipo, que
proliferam por todo o país, a Festa do Avante tornou-se o modelo a seguir por
muitos desses eventos.
Consegue unir a componente cultural, lúdica e de festa popular, sem
tornar o seu objectivo politico muito “pesado”.
Aquela imensa multidão que invade todos os anos o recinto da festa é
composta por gente de várias origens sociais, culturais, geracionais e até
politicas.
Nunca me esqueço de uma história que a minha mãe me contou, de uma vez
em que foi àquela festa, ainda no tempo em que ela se realizava na Ajuda, de
uma família que encontrou e qua a acompanhou até ao lugar da festa que, em
certo momento da conversa, lhe disse que iam todos os anos à Festa do Avante e
…ao 13 de Maio em Fátima!
É uma história bem evidente do clima dessa festa, que deve muito do seu
êxito a Rúben de Carvalho, recentemente falecido, um homem culto, tolerante e
informado, que sempre soube fazer da festa um grande momento de cultura, muito
para além das referências do partido que a organiza.
Se após os anos do pós-comunismo a festa conheceu alguns períodos de
dificuldade, principalmente em contratar artistas para actuarem, rapidamente o
espírito pragmático de Ruben de Carvalho e da sua equipa conseguiram
ultrapassar as dificuldades apostando forte na “prata da casa”, não trazendo
grandes nomes do panorama internacional já consagrados, mas apostando em nomes
ainda pouco conhecidos, em inicio de carreira, apostando em áreas mais
marginalizadas e underground da musica popular e da World Musica e, cada vez
mais, na musica portuguesa, nas suas mais diversas vertentes.
Neste aspecto a Festa do Avante bate aos pontos os maiores Festivais de
Verão, cada vez mais dependentes dos Tops’s e do comércio musical, receando em
apostar no desconhecido e na novidade, pois estão cada vez mais dependentes dos
patrocinadores.
Uma feira do livro bastante abrangente, uma das melhores feiras do
disco, várias exposições temáticas, estas mais de carácter partidário, mas sem
desprezar o carácter pedagógico, com aconteceu este ano com uma exposição sobre
o uso de drogas, ou a cada vez mais importante bienal de artes plásticas, onde
se revelam os novos nomes e se divulgam artistas consagrados, mas por vezes
esquecidos, são outra componente que acrescentam mais-valia à festa.
Depois temos os pavilhões das regiões, uma montra de sabores e da
cultura do país, ou o internacional,
onde se contactamos com outras realidade, muitas vezes longe dos focos da
comunicação social, para além da gastronomia desse países.
Uma análise histórica do peso e do lugar ocupado pelos vários países e
partidos “irmãos” na organização do espaço internacional seria um exercício
interessante sobre a evolução do tempos e das posições internacionais do PCP.
Cuba continua a ser a grande referência, assim como os partidos da
África Lusófona e do Brasil, a par do crescimento da representação da China.
Pelo contrário, o espaço dedicado à Venezuela já conheceu melhores dias
e a Coreia do Norte apenas tinha este ano um pavilhão escondidinho, sem
ninguém, apenas um cartaz onde se destacava como título apenas o nome “Coreia”.
Da Europa, destaque para os partidos regionalistas espanhóis e para os
dois partidos italianos, o velho PCI e o novo, uma cisão daquele, Refundação
Comunista, não deixando de ser curioso que ambos partilhem o mesmo espaço.
Enfim, a Festa do Avante continua a ser uma referência, muito para além
do peso político do PCP.
Aqui partilhamos alguns momentos da edição deste ano da Festa do Avante, no Sábado 7 de Setembro:
(Blind Zero)
Canções de Roda, com Ana Bacalhau, Jorge Benvinda, Sérgio Godinho, Vitorino e o Coro Infantil da Academia de Musica de Almada :
Delvon Lamarr Organ Trio:
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