Pesquisar neste blogue

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Cimeira da Acção Climática. Até onde estamos disposto a abdicar do nosso estilo de vida para salvar o planeta?



Tudo o que até agora nossa geração tem feito para salvar o clima da catástrofe ambiental que  já se adivinha, não passa de retórica, boas intenções ou discurso balofo.

Há também aqueles que olham para o lado, como se não tivessem nada a haver com a situação.

Pior ainda, é a forma ignorante como alguns países, os mais responsáveis pela catástrofe ou o que têm dimensão suficiente para mudar alguma coisa, continuam a ser governados, como é o caso do Japão, da Índia, dos Estados Unidos e do Brasil ( a China, a França, a Alemanha, O Canadá e a Rússia parece que já perceberam o que se passa, se bem que, até agora, pouco mais fazem que promessas de boas intenções).

Em artigo editado no suplemento Ípsilon do Público, na passada 6ª feira 20 de Setembro, António Guerreiro assinava uma crónica, intitulada “A Terra é redonda” (que pode ser lido integralmente AQUI), colocando o dedo na ferida sobre o que verdadeiramente está em causa:

“Curioso, e até divertido, é ver como nos vão sendo ministrados todo os dias ecopaliativos:. 
Dizem-nos: viaja o menos possível de avião, vai para a escola ou para o emprego de bicicleta, bebe só água da torneira, reutiliza os sacos plásticos, não deixes a torneira aberta enquanto lavas os dentes, toma atenção a todos os teus gestos quotidianos, torna-te um herói da salvação do planeta (como se o planeta estivesse interessado nos nossos esforços e não continuasse a existir depois de nós, tal como já existia antes de nós). Tudo isto não passa de formas de exorcismo e de recalcamento do medo, ao mesmo tempo que cria a ilusão de que estamos a responder à urgência.

“(…) Se olharmos com atenção e utilizarmos o bom senso (nem é preciso muita ciência) facilmente concluímos que muito pouco se faz porque era preciso virar os nossos modos de vida de pernas para o ar para se fazer alguma coisa eficaz (se ainda há tempo para isso porque obviamente não se pára de um dia para o outro um processo que começou há séculos). Não é que devamos continuar a agir como sempre agimos, mas todas estas ideias de boa vontade que surgem todos os dias como injunções acabam por esconder a questão política essencial.

“Na verdade, passámos em pouco tempo de uma política com pouquíssima ecologia a uma ecologia de boa vontade à qual falta política. E essa falta torna vãs todas as boas intenções. O que vemos é que continua a ser difícil declinar essas duas palavras - ecologia e política - sob a forma de uma ecopolítica digna desse nome. Uma ecopolítica à altura dos desafios com que estamos confrontados terá de ser capaz de mostrar que as situações ecológicas, políticas, sociais, económicas, institucionais, tecnológicas e psíquicas estão em total conexão umas com as outras. Sem agir sobre todas estas dimensões, o “impasse planetário” mantém-se. Por isso é que são tão ingénuos os regulamentos avulsos e o pretenso “regresso à natureza” de tonalidade romântica.
Se já estamos a viver em pleno “perigo absoluto”, como afiançam até os cientistas colapsólogos e os catastrofistas esclarecidos, então só podemos concluir que não saímos ainda da imobilidade nem se vislumbra que iremos sair (…)”.

De facto, a pergunta que todos nós, que temos consciência da catástrofe anunciada, que queremos que os nossos filhos e netos possam ter um futuro neste planeta, é se estamos de facto dispostos a prescindir, de forma abrupta e urgente, do nosso estilo de vida, a nível universal, isto é, se estamos preparados para deixar de usar transportes motorizados individuais, de consumir tanta carne, de viver com menos energia e menos àgua, cortarmos na maior parte dos nossos consumos?

Muitas das medidas para alterar rapidamente os nosso hábitos consumistas, porque a resposta é urgente, num prazo máximo de 10 a 15 anos, só podem resultar mudando radicalmente a sociedade capitalista-consumista em que vivemos, por imposição legal e, nalguns casos, repressiva, que vai limitar a liberdade dos “mercados” e penalizar, a doer, os prevaricadores.

Outra medida é a criação de um Tribunal Penal Internacional para os crimes ambientais e quem os fomenta, podendo, desde já, começar a preparar o julgamento nesse tribunal de criminosos ambientais como Bolsonaro ou Trump, assim que deixem o poder, aos quais se podem juntar outros líderes e gestores de empresas responsáveis pela crise ambiental.

Estamos dispostos a isso?

Estamos dispostos, nós que vivemos na parte “rica” do Mundo, a pagar por tudo isso, ou vamos reagir como os “coletes amarelos” em França?

Ou vamos a continuar a “limpar” a nossa consciência com pequenos gestos que pouco vão mudar no trágico destino anunciado do planeta, continuando a escolher políticas de “desenvolvimento” em vez de políticas ecológicas (veja-se, por cá, o debate sobre o aeroporto do Montijo ou sobre a plantação de eucaliptos..), continuando a optar por transportes privados poluentes, em vez de exigirmos mais e melhores transportes públicos, menos poluentes (como o transporte ferroviário)?

O tempo escasseia e, um dia, se houver esse dia, a nossa geração será responsabilizada por pouco ter feito para mudar o rumo deste capitalismo suicida. Vamos ser vistos ainda pior do que os alemães face ao nazismo ou os franceses face ao colaboracionismo.

E os nosso líderes, que nada fizeram ou, pior ainda, negaram a realidade e fomentaram a ignorância ambiental, serão vistos com o mesmo desprezo e horror com que hoje vimos um Himmler, um Hitler ou um Stalin, até porque as suas politica vão provocar um holocausto ainda maior.

Vamos continuar, (nós, humanos, no geral) a escolher políticos ignorantes, criminosos ambientais, como os Trump´s e Bolsonaros, deste mundo?

Sem comentários: