Tudo o que até agora nossa geração tem feito para salvar o clima da
catástrofe ambiental que já se adivinha, não passa de retórica, boas
intenções ou discurso balofo.
Há também aqueles que olham para o lado, como se não tivessem nada a haver
com a situação.
Pior ainda, é a forma ignorante como alguns países, os mais
responsáveis pela catástrofe ou o que têm dimensão suficiente para mudar alguma
coisa, continuam a ser governados, como é o caso do Japão, da Índia, dos
Estados Unidos e do Brasil ( a China, a França, a Alemanha, O Canadá e a Rússia
parece que já perceberam o que se passa, se bem que, até agora, pouco mais
fazem que promessas de boas intenções).
Em artigo editado no suplemento Ípsilon do Público, na passada 6ª feira
20 de Setembro, António Guerreiro assinava uma crónica, intitulada “A Terra é
redonda” (que pode ser lido integralmente AQUI), colocando o dedo na ferida sobre
o que verdadeiramente está em causa:
“Curioso, e até divertido, é ver como nos vão sendo ministrados todo os
dias ecopaliativos:.
Dizem-nos: viaja o menos possível de avião, vai para a
escola ou para o emprego de bicicleta, bebe só água da torneira, reutiliza os
sacos plásticos, não deixes a torneira aberta enquanto lavas os dentes, toma
atenção a todos os teus gestos quotidianos, torna-te um herói da salvação do
planeta (como se o planeta estivesse interessado nos nossos esforços e não
continuasse a existir depois de nós, tal como já existia antes de nós). Tudo
isto não passa de formas de exorcismo e de recalcamento do medo, ao mesmo tempo
que cria a ilusão de que estamos a responder à urgência.
“(…) Se olharmos com atenção e utilizarmos o bom senso (nem é preciso
muita ciência) facilmente concluímos que muito pouco se faz porque era preciso
virar os nossos modos de vida de pernas para o ar para se fazer alguma coisa
eficaz (se ainda há tempo para isso porque obviamente não se pára de um dia
para o outro um processo que começou há séculos). Não é que devamos continuar a
agir como sempre agimos, mas todas estas ideias de boa vontade que surgem todos
os dias como injunções acabam por esconder a questão política essencial.
“Na verdade, passámos em pouco tempo de uma política com pouquíssima
ecologia a uma ecologia de boa vontade à qual falta política. E essa falta
torna vãs todas as boas intenções. O que vemos é que continua a ser difícil declinar essas duas palavras - ecologia e política - sob a forma de uma ecopolítica digna desse nome. Uma ecopolítica à altura dos desafios com que
estamos confrontados terá de ser capaz de mostrar que as situações ecológicas,
políticas, sociais, económicas, institucionais, tecnológicas e psíquicas estão
em total conexão umas com as outras. Sem agir sobre todas estas dimensões, o
“impasse planetário” mantém-se. Por isso é que são tão ingénuos os regulamentos
avulsos e o pretenso “regresso à natureza” de tonalidade romântica.
Se já estamos a viver em pleno “perigo absoluto”, como afiançam até os
cientistas colapsólogos e os catastrofistas esclarecidos, então só podemos
concluir que não saímos ainda da imobilidade nem se vislumbra que iremos sair (…)”.
De facto, a pergunta que todos nós, que temos consciência da catástrofe
anunciada, que queremos que os nossos filhos e netos possam ter um futuro neste
planeta, é se estamos de facto dispostos a prescindir, de forma abrupta e urgente, do
nosso estilo de vida, a nível universal, isto é, se estamos preparados para
deixar de usar transportes motorizados individuais, de consumir tanta carne, de
viver com menos energia e menos àgua, cortarmos na maior parte dos nossos
consumos?
Muitas das medidas para alterar rapidamente os nosso hábitos
consumistas, porque a resposta é urgente, num prazo máximo de 10 a 15 anos, só
podem resultar mudando radicalmente a sociedade capitalista-consumista em que
vivemos, por imposição legal e, nalguns casos, repressiva, que vai limitar a
liberdade dos “mercados” e penalizar, a doer, os prevaricadores.
Outra medida é a criação de um Tribunal Penal Internacional para os
crimes ambientais e quem os fomenta, podendo, desde já, começar a preparar o
julgamento nesse tribunal de criminosos ambientais como Bolsonaro ou Trump, assim que deixem o poder, aos
quais se podem juntar outros líderes e gestores de empresas responsáveis pela
crise ambiental.
Estamos dispostos a isso?
Estamos dispostos, nós que vivemos na parte “rica” do Mundo, a pagar
por tudo isso, ou vamos reagir como os “coletes amarelos” em França?
Ou vamos a continuar a “limpar” a nossa consciência com pequenos gestos
que pouco vão mudar no trágico destino anunciado do planeta, continuando a
escolher políticas de “desenvolvimento” em vez de políticas ecológicas (veja-se,
por cá, o debate sobre o aeroporto do Montijo ou sobre a plantação de eucaliptos..), continuando a optar por
transportes privados poluentes, em vez de exigirmos mais e melhores transportes
públicos, menos poluentes (como o transporte ferroviário)?
O tempo escasseia e, um dia, se houver esse dia, a nossa geração será
responsabilizada por pouco ter feito para mudar o rumo deste capitalismo
suicida. Vamos ser vistos ainda pior do que os alemães face ao nazismo ou os
franceses face ao colaboracionismo.
E os nosso líderes, que nada fizeram ou, pior ainda, negaram a
realidade e fomentaram a ignorância ambiental, serão vistos com o mesmo
desprezo e horror com que hoje vimos um Himmler, um Hitler ou um Stalin, até
porque as suas politica vão provocar um holocausto ainda maior.
Vamos continuar, (nós, humanos, no geral) a escolher políticos
ignorantes, criminosos ambientais, como os Trump´s e Bolsonaros, deste mundo?
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