“Este crescimento [da União Europeia] não produz riqueza, mas ricos”.
A afirmação é de Sérgio Aires, presidente, desde 2012, da Rede Europeia
Anti pobreza numa entrevista ao jornal “Público” (AQUI).
Tendo exercido o cargo voluntariamente, vai agora deixá-lo, revelando
nessa entrevista uma enorme desilusão com a forma como a questão da pobreza tem
sido encarada pelos burocratas de Bruxelas:
“A pobreza é um problema global.
“As causas da pobreza em Portugal, por exemplo, moram em muitos sítios
(…).Mas nenhum Estado-membro [da União Europeia] consegue fazer isso [combater
a pobreza] sozinho, sem tomar medidas que vão contra acordos europeus. O pilar
[Pilar Europeu dos Direitos Socias, apresentado pela Comissão Europeia [!!!] e
subscrito por todos os Estados [!!!!]] pede reforço dos direitos sociais para
contrabalançar o desequilíbrio que a economia produziu.
“(…) Se [um país como Portugal, ou outro] diz que vai aumentar o
salário mínimo, leva logo um puxão de orelhas. Imagine-se que resolve fazer
coisas como reduzir o horário de trabalho ou promover programas específicos de
combate à pobreza infantil… É uma grande ironia que se peça, no âmbito do
pilar, investimento social aos países e se continue a insistir que o mais
importante é cumprir as regras do pacto de estabilidade…”.
Sérgio Aires não pode ser acusado de ser um eurocéptico, até porque
considera que, fora do quadro comunitário, o combate à pobreza ainda era mais
complicado e a situação muito pior, mas avisa que “a pobreza e a desigualdade”
na União Europeia “vão fazer explodir os paióis”.
Refere-se, concretamente, à forma como a extrema-direita populista
tenta (e aqui é minha a interpretação) misturar o problema da emigração e dos
refugiados com a pobreza dos cidadãos europeus e aproveitar-se da própria
ambiguidade dos líderes europeus, que legitimaram o discurso da extrema-direita
com a forma como impuseram uma austeridade que apenas aumentou a pobreza dos
cidadãos para salvar os mais ricos, ao mesmo tempo que tentaram destruir
direitos socias, substituindo-os por uma prática meramente caritativa.
Os “paióis” podem explodir já nas próximas eleições para o Parlamento
Europeu, prevendo-se que a extrema direita populista se torne maioritária, o
que seria um desastre para o verdadeiro combate à pobreza e para o futuro da União
Europeia.
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