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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

A Pobreza que produz (cada vez mais) Ricos



“Este crescimento [da União Europeia] não produz riqueza, mas ricos”.

A afirmação é de Sérgio Aires, presidente, desde 2012, da Rede Europeia Anti pobreza numa entrevista ao jornal “Público” (AQUI).

Tendo exercido o cargo voluntariamente, vai agora deixá-lo, revelando nessa entrevista uma enorme desilusão com a forma como a questão da pobreza tem sido encarada pelos burocratas de Bruxelas:

“A pobreza é um problema global.

“As causas da pobreza em Portugal, por exemplo, moram em muitos sítios (…).Mas nenhum Estado-membro [da União Europeia] consegue fazer isso [combater a pobreza] sozinho, sem tomar medidas que vão contra acordos europeus. O pilar [Pilar Europeu dos Direitos Socias, apresentado pela Comissão Europeia [!!!] e subscrito por todos os Estados [!!!!]] pede reforço dos direitos sociais para contrabalançar o desequilíbrio que a economia produziu.

“(…) Se [um país como Portugal, ou outro] diz que vai aumentar o salário mínimo, leva logo um puxão de orelhas. Imagine-se que resolve fazer coisas como reduzir o horário de trabalho ou promover programas específicos de combate à pobreza infantil… É uma grande ironia que se peça, no âmbito do pilar, investimento social aos países e se continue a insistir que o mais importante é cumprir as regras do pacto de estabilidade…”.

Sérgio Aires não pode ser acusado de ser um eurocéptico, até porque considera que, fora do quadro comunitário, o combate à pobreza ainda era mais complicado e a situação muito pior, mas avisa que “a pobreza e a desigualdade” na União Europeia “vão fazer explodir os paióis”.

Refere-se, concretamente, à forma como a extrema-direita populista tenta (e aqui é minha a interpretação) misturar o problema da emigração e dos refugiados com a pobreza dos cidadãos europeus e aproveitar-se da própria ambiguidade dos líderes europeus, que legitimaram o discurso da extrema-direita com a forma como impuseram uma austeridade que apenas aumentou a pobreza dos cidadãos para salvar os mais ricos, ao mesmo tempo que tentaram destruir direitos socias, substituindo-os por uma prática meramente caritativa.

Os “paióis” podem explodir já nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, prevendo-se que a extrema direita populista se torne maioritária, o que seria um desastre para o verdadeiro combate à pobreza e para o futuro da União Europeia.

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