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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A OCDE e os Professores



Não tenho dúvidas sobre a qualidade técnica no tratamento da informação vinculada pelos relatórios da OCDE.

A minha dúvida começa quando vejo as interpretações que se fazem em relação a esses dados e quando os dados não estão correctos.

A comparação que se tem de fazer, no caso de Portugal, deve ser em relação à mesma situação profissional nos países da zona euro, que é com esses que nos devemos comparar (pois, se temos de cumprir os mesmos critérios de convergência e as mesmas regras financeiras, então também a comparação deve ser feita com a média geral da zona euro...).

Quando se compara o vencimento dos professores com a situação dos licenciados em Portugal, temos de ter em conta algumas situações.

A maior parte dos licenciados que trabalham fora da função pública (como advogados, gestores…jornalistas…) conseguem pagar menos impostos (eu ía dizer “fugir aos impostos”…mas não quero abusar) e por isso declaram menos rendimento do que aquele que é declarado pelos professores que, como qualquer funcionário público, paga mensalmente impostos, não recebendo mais do que 2/3 do vencimento oficial, pelo menos no topo da carreira.

Mas, para além das comparações absurdas exploradas pela imprensa portuguesa (também gostava de saber quanto ganha um director de jornal ou um comentador da televisão, mas nunca vi esses dados em lado nenhum..), fazendo o que se chama “torturar estatísticas” até elas darem o resultado pretendido (ou confirmar os nossos preconceitos políticos neoliberais…), os próprios dados referidos não batem certo com a realidade.

Quando deixei o ensino há uns três anos estava no topo da carreira, embora tivesse sido criado então um novo escalão (eu estava no 10º escalão de então, passei para o 9ª, ganhando o mesmo, e foi criado um novo 10º escalão, para onde ninguém trasitou, tornando-se um escalão fantasma, que, pelo que sei, continua a existir sem ninguém a “frequentá-lo”).

E é aqui que a falácia da interpretação dos dados do relatório da OCDE se confunde com a pura mentira.

Quando estava no antigo 10º escalão (actual 9º escalão) ganhava cerca de 43 mil euros por ano, dos quais recebi cerca de 29 mil, já que os impostos eram logo descontados no acto de entrega do vencimento (tenho os dados do IRS se for preciso comprovar).

Há ainda que lembrar que, nos anos da troika, houve um corte significativo do vencimento de base , nos subsídios de férias e natal  e um significativo aumento de imposto, pelo que, nos últimos anos que por lá andei, recebia menos de 25 mil euros por ano.

Não percebo onde é que a OCDE foi buscar os 56 400 euros que aquele estudo atribui como vencimento dos professores no topo da carreira em Portugal (contra a média de 51 mil na OCDE) e que justificam a afirmação de que estes ganham mais do que os outros licenciados e do que a média da OCDE no topo da carreira.

É pura mentira!!!

E mesmo que houvesse algum professor no novo 10º escalão, o rendimento bruto (sem descontar impostos) não chega aos 48 mil euros (fazendo as contas por alto!!!!!!).

Só por isso, o actual relatório da OCDE não merece crédito.

Alguém anda a recolher dados errados e a OCDE (e os jornalistas e comentadores portugueses) parece que acreditou neles…

Por cá esperava-se que os jornalistas  e comentadores, que ganham mais que os professores, fizessem, no mínimo, o seu trabalho de investigação.

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