Não tenho dúvidas sobre a qualidade técnica no tratamento da informação vinculada pelos
relatórios da OCDE.
A minha dúvida começa quando vejo as interpretações que se fazem em
relação a esses dados e quando os dados não estão correctos.
A comparação que se tem de fazer, no caso de Portugal, deve ser em
relação à mesma situação profissional nos países da zona euro, que é com esses
que nos devemos comparar (pois, se temos de cumprir os mesmos critérios de
convergência e as mesmas regras financeiras, então também a comparação deve
ser feita com a média geral da zona euro...).
Quando se compara o vencimento dos professores com a situação dos licenciados em
Portugal, temos de ter em conta algumas situações.
A maior parte dos licenciados que trabalham fora da função pública
(como advogados, gestores…jornalistas…) conseguem pagar menos impostos (eu ía
dizer “fugir aos impostos”…mas não quero abusar) e por isso declaram menos
rendimento do que aquele que é declarado pelos professores que, como qualquer
funcionário público, paga mensalmente impostos, não recebendo mais do que 2/3
do vencimento oficial, pelo menos no topo da carreira.
Mas, para além das comparações absurdas exploradas pela imprensa
portuguesa (também gostava de saber quanto ganha um director de jornal ou um
comentador da televisão, mas nunca vi esses dados em lado nenhum..), fazendo o
que se chama “torturar estatísticas” até elas darem o resultado pretendido (ou
confirmar os nossos preconceitos políticos neoliberais…), os próprios dados
referidos não batem certo com a realidade.
Quando deixei o ensino há uns três anos estava no topo da carreira,
embora tivesse sido criado então um novo escalão (eu estava no 10º escalão de
então, passei para o 9ª, ganhando o mesmo, e foi criado um novo 10º escalão,
para onde ninguém trasitou, tornando-se um escalão fantasma, que, pelo que sei,
continua a existir sem ninguém a “frequentá-lo”).
E é aqui que a falácia da interpretação dos dados do relatório da OCDE
se confunde com a pura mentira.
Quando estava no antigo 10º escalão (actual 9º escalão) ganhava cerca
de 43 mil euros por ano, dos quais recebi cerca de 29 mil, já que os impostos
eram logo descontados no acto de entrega do vencimento (tenho os dados do IRS
se for preciso comprovar).
Há ainda que lembrar que, nos anos da troika, houve um corte
significativo do vencimento de base , nos subsídios de férias e natal e um significativo aumento de imposto, pelo
que, nos últimos anos que por lá andei, recebia menos de 25 mil euros por ano.
Não percebo onde é que a OCDE foi buscar os 56 400 euros que
aquele estudo atribui como vencimento dos professores no topo da carreira em
Portugal (contra a média de 51 mil na OCDE) e que justificam a afirmação de que
estes ganham mais do que os outros licenciados e do que a média da OCDE no topo
da carreira.
É pura mentira!!!
E mesmo que houvesse algum professor no novo 10º escalão, o rendimento
bruto (sem descontar impostos) não chega aos 48 mil euros (fazendo as contas
por alto!!!!!!).
Só por isso, o actual relatório da OCDE não merece crédito.
Alguém anda a recolher dados errados e a OCDE (e os jornalistas e
comentadores portugueses) parece que acreditou neles…
Por cá esperava-se que os jornalistas
e comentadores, que ganham mais que os professores, fizessem, no mínimo,
o seu trabalho de investigação.
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