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terça-feira, 7 de março de 2017

60º aniversário da RTP – o dia em que a minha geração “faz anos”.

 A RTP comemora hoje o seu 60º aniversário.

Literalmente a minha geração é a geração da TV.

No ano em que nasci foi efectuada a primeira experiência de emissão televisiva em Portugal, durante a feira popular de Lisboa e, no ano seguinte, passam hoje 60 anos, começaram as emissões regulares da RTP.

Mesmo assim, a minha geração foi muito mais marcada pela companhia da rádio do que pela televisão, já que, pelo menos até ao 25 de Abril, as emissões da RTP só se iniciavam pelas 19 horas da tarde e encerravam às 24 horas, excluindo os Domingos.

As vozes da rádio estão assim muito mais presentes na minha memória de infância do que as “vozes” da TV e, ainda hoje, passo muitas mais horas a ouvir rádio do que a ver televisão.

No início, lembro-me de irmos nas tardes de Domingo para a cervejaria Sagres, na Avenida 5 de Outubro, assistir aos programas da RTP.

O meu avô Aspra foi o primeiro membro da família a ter televisão em casa e foi também aí que vi os primeiros programas de TV.

Não tardou muito até que um televisor fosse instalada em minha casa, mas ao longo do dia era a rádio que se ouvia, nomeadamente durante o almoço.

Os primeiros grandes acontecimentos de que me lembro, quase todos em 1963, acompanhei-os pela rádio, como a morte de Edith Piaf ou o assassinato do presidente Keneddy.

Geralmente só víamos TV até à hora de jantar, pois os meus pais tinham a preocupação de evitar que víssemos séries para “adultos” ou “violentas” como “O Santo” ou o “Bonanza”.

Muitas vezes, depois de nos deitarmos, eu e o meu irmão escapávamo-nos à socapa e escondíamo-nos atrás da porta da sala para ver, pela frecha, alguns programas que passavam à noite, embora fossemos quase sempre descobertos.

Ao longo da década de 60 lembro-me de alguns momentos “importantes” em frente da televisão, como os festivais da canção, os de Portugal e os da Europa, a entrega dos óscares (transmitidos em diferido, facto que só vim a saber mais tarde), alguns dos grandes momentos do futebol nacional, que teve o seu auge no mundial de 1966, os Jogos Olímpicos, a partir de 1964, as míticas provas de fórmula 1 dessa década, e, religiosamente, porque o meu pai era um entusiasta, a conquista do espaço que culminou com  chegada do homem à Lua em 1969, sem esquecer as “célebres” “conversas em família” de Marcello Caetano que, inicialmente, geraram alguma esperança de abertura do regime.

Isto sem esquecer algumas séries, como o “Rin Tin Tin”, a “Lassie”, “Casei com uma Feiticeira”, o “Mister Ed” e muito desenho animado, da Disney, mas também da Warner Bros, como os célebres “Bip Bip”, “Pernalonga”, “Tom e Jerry”….

Além disso, foi na RTP que tive a minha iniciação cinematográfica , vendo muito “lixo” mas também coisas interessantes, o que escapava ao crivo da censura, mas que muito contribui para gostar de cinema, como as comédias portuguesas dos anos 40 e 50 exibidas até à exaustão, os lacrimejantes filmes espanhóis de Joselito, as comédias francesas de Fernandel, sem esquecer grandes filmes como o “O Feiticeiro de Oz”. Claro que tudo a preto e branco.

Assisti também a programas de grande qualidade, como os de João Villaret, o “Museu do Cinema” ou, mais tarde, o célebre Zip Zip.

Para a minha geração, falar da história da televisão em Portugal é, assim, falar da nossa própria memória histórica.

Por isso, hoje não se celebra apenas o aniversário da RTP, mas também o aniversário da minha geração.

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