O mundo do Futebol encheu as notícias das últimas semanas, revelando um
pouco dos seus segredos mais obscuros.
Para quem segue com distância crítica esse mundo e os milhões que rolam
a seus pés, os casos de corrupção da FIFA não foram uma surpresa.
Num mundo em crise, de miséria que se alastra, de instabilidade
económica, o mundo do futebol passa incólume com os seus milhões de lucros e os
salários escandalosos de dirigentes, treinadores, jogadores e transferências
milionárias.
A única surpresa talvez se deva ao facto de ter sido necessário que
viesse uma investigação e uma polícia do outro lado do Atlântico, secundada por
um país que não pertence à União Europeia, para agir jurídica e policialmente para
travar os desvario de corrupção financeira que moviam o funcionamento de uma
instituição como a FIFA que tem no futebol da Europa a sua principal razão de
existência.
É mais uma prova da incapacidade (ou antes, a falta de vontade)
Europeia para controlar a corrupção financeira que tanto tem contribuído para
arruinar o projecto europeu e levar-nos a desconfiar das perigosas ligações
entre o corrupto mundo do futebol , os sectores financeiros europeus e os
líderes políticos das instituições europeias, que tudo terão feito para travar
qualquer investigação feita no interior da União Europeia que dispensasse a
necessidade de que a justiça tivesse de ser aplicada por “gente de fora”.
Mas se focarmos o mesmo mundo, agora numa perspectiva “local”, os sinais
da corrupção no mundo do futebol e do modo como esta actividade funciona como
meio de branqueamento de negócios obscuros é por demais evidente.
Sabe-se agora que um treinador de um clube nacional vai receber 6
milhões de “salário” anual, salário esse que será pago por fundos angolanos e da
Guiné Equatorial, tudo países muito “recomendáveis” do ponto de vista da
corrupção que grassa entre as suas elites económicas e políticas e que “respeitam”
os mais elementares direitos sociais e humanos, onde o que sobra para
aplicações no futebol,falta para as mais elementares condições de vida dos seus
cidadãos.
Em Portugal levantaram-se, há alguns tempos, muitas vozes, e bem,
contra os escandalosos salários chorudos pagos a administradores de empresas
e de bancos, alguns “directa” ou “indirectamente” “subsidiados” pelos Estado,
isto é pelos contribuintes, o mesmo Estado que nos impunha a austeridade e a
contenção salarial, rendimentos esses que, contudo, eram mais de 6 vezes
inferiores àquele salário de um único treinador.
Ao mesmo tempo, ficámos também a saber que o Estado português, isto é, os contribuintes,
gasta anualmente cerca de 4 milhões de euros para manter a segurança nos jogos
de futebol.
4 milhões não é muito no orçamento do Estado, mas é moralmente
condenável que o estado gaste um cêntimo que seja para a manutenção da
segurança do futebol, que só é inseguro por culpa da irresponsabilidade dos dirigentes
desportivos e das claques organizadas.
Esses 4 milhões para a segurança dos jogos, que representam pouco mais
de metade do salário pago a um único treinador, deviam ser integralmente pagos
pelos clubes e , esses mesmos clubes, deviam ser seriamente responsabilizados e
penalizados pela falta de segurança provocada, quer pelo acicatar da intolerância
contra adversários que é o pão nosso de cada dia das declarações dos
responsáveis pelos clubes, quer pela actuação de claque organizadas, algumas subsidiadas
pelos clubes.
É cada vez mais que evidente que o mundo do futebol é hoje o principal
meio usado por traficantes, especuladores e gente corrupta para branquear
capitais, só assim se explicando a quantidade de capitais colocados à sua
disposição.
O grave é o tipo de ligações existentes entre esse mundo e o mundo da
política, das finanças e até, porque não o dizer, da comunicação social.
Antigamente dizia-se que o futebol era a melhor forma usada pela
ditadura salazarista para alienar as massas. Contudo, o que se passava nessa
época com o futebol é uma brincadeira de crianças, comparativamente com a
realidade actual desse desporto, no regime “democrático” em que vivemos.
A velha máxima “salazarista” dos três “F’s” , “Fátima, Fado e Futebol” , foi
substituída, no regime democrático, pelos três “F´s” de ….”Futebol, Futebol…e
mais Futebol”…
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