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quinta-feira, 4 de junho de 2015

Há mais mundo para lá do Futebol?


O mundo do Futebol encheu as notícias das últimas semanas, revelando um pouco dos seus segredos mais obscuros.

Para quem segue com distância crítica esse mundo e os milhões que rolam a seus pés, os casos de corrupção da FIFA não foram uma surpresa.

Num mundo em crise, de miséria que se alastra, de instabilidade económica, o mundo do futebol passa incólume com os seus milhões de lucros e os salários escandalosos de dirigentes, treinadores, jogadores e transferências milionárias.

A única surpresa talvez se deva ao facto de ter sido necessário que viesse uma investigação e uma polícia do outro lado do Atlântico, secundada por um país que não pertence à União Europeia, para agir jurídica e policialmente para travar os desvario de corrupção financeira que moviam o funcionamento de uma instituição como a FIFA que tem no futebol da Europa a sua principal razão de existência.

É mais uma prova da incapacidade (ou antes, a falta de vontade) Europeia para controlar a corrupção financeira que tanto tem contribuído para arruinar o projecto europeu e levar-nos a desconfiar das perigosas ligações entre o corrupto mundo do futebol , os sectores financeiros europeus e os líderes políticos das instituições europeias, que tudo terão feito para travar qualquer investigação feita no interior  da União Europeia que dispensasse a necessidade de que a justiça tivesse de ser aplicada por “gente de fora”.

Mas se focarmos o mesmo mundo, agora numa perspectiva “local”, os sinais da corrupção no mundo do futebol e do modo como esta actividade funciona como meio de branqueamento de negócios obscuros é por demais evidente.

Sabe-se agora que um treinador de um clube nacional vai receber 6 milhões de “salário” anual, salário esse que será pago por fundos angolanos e da Guiné Equatorial, tudo países muito “recomendáveis” do ponto de vista da corrupção que grassa entre as suas elites económicas e políticas e que “respeitam” os mais elementares direitos sociais e humanos, onde o que sobra para aplicações no futebol,falta para as mais elementares condições de vida dos seus cidadãos.

Em Portugal levantaram-se, há alguns tempos, muitas vozes, e bem, contra os escandalosos salários chorudos pagos a administradores de empresas e de bancos, alguns “directa” ou “indirectamente” “subsidiados” pelos Estado, isto é pelos contribuintes, o mesmo Estado que nos impunha a austeridade e a contenção salarial, rendimentos esses que, contudo, eram mais de 6 vezes inferiores àquele salário de um único treinador.

Ao mesmo tempo, ficámos também a saber que o Estado português, isto é, os contribuintes, gasta anualmente cerca de 4 milhões de euros para manter a segurança nos jogos de futebol.

4 milhões não é muito no orçamento do Estado, mas é moralmente condenável que o estado gaste um cêntimo que seja para a manutenção da segurança do futebol, que só é inseguro por culpa da irresponsabilidade dos dirigentes desportivos e das claques organizadas.

Esses 4 milhões para a segurança dos jogos, que representam pouco mais de metade do salário pago a um único treinador, deviam ser integralmente pagos pelos clubes e , esses mesmos clubes, deviam ser seriamente responsabilizados e penalizados pela falta de segurança provocada, quer pelo acicatar da intolerância contra adversários que é o pão nosso de cada dia das declarações dos responsáveis pelos clubes, quer pela actuação de claque organizadas, algumas subsidiadas pelos clubes.

É cada vez mais que evidente que o mundo do futebol é hoje o principal meio usado por traficantes, especuladores e gente corrupta para branquear capitais, só assim se explicando a quantidade de capitais colocados à sua disposição.

O grave é o tipo de ligações existentes entre esse mundo e o mundo da política, das finanças e até, porque não o dizer, da comunicação social.

Antigamente dizia-se que o futebol era a melhor forma usada pela ditadura salazarista para alienar as massas. Contudo, o que se passava nessa época com o futebol é uma brincadeira de crianças, comparativamente com a realidade actual desse desporto, no regime “democrático” em que vivemos.

A velha máxima “salazarista” dos três “F’s” , “Fátima, Fado e Futebol” , foi substituída, no regime democrático, pelos três “F´s” de ….”Futebol, Futebol…e mais Futebol”…


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