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quarta-feira, 17 de junho de 2015

A Demagogia de Juncker


Jean Claude Juncker declarou ontem que "no que diz respeito à Grécia, eu não quero saber do governo grego. Preocupo-me, isso sim, com o povo grego, e em particular a parte mais pobre da população grega, que está a sofrer mais do que outros na UE, devido ao ajustamento que teve que ser posto em prática".

Essa declaração é de um cinismo atroz, vinda do mesmo homem que liderava o Eurogrupo à época em que foi imposto à Grécia um pesado programa de austeridade que agravou as condições de vida e atingiu principalmente a parte da população grega mais vulnerável, exactamente os mais pobres, e que lançou na pobreza quase 50% dos pensionistas e elevou o desemprego para mais de 25%.

Essa declaração envergonha todos os europeus que sustentam com os seus impostos a Comissão Europeia e devia envergonhar o presidente dessa comissão, o mesmo homem que, participando no governo luxemburguês durante 20 anos, ora como primeiro-ministro, ora como ministro das finanças, permitiu que 300 grandes multinacionais fugissem ao pagamento de impostos noutros países europeus, entre os quais a própria Grécia, agravando a situação financeira desses países, que tiveram depois, por essa e outras situações de fraude generalizado no sector financeiro da zona euro, de recorrer ao “resgate” que conduziu as suas populações para o empobrecimento . (a propósito, parece que esse “Luxemburgo Leaks”, que envolvia Junckers, foi convenientemente abafado…).

É ainda de uma enorme falta de respeito para com o povo grego que escolheu exactamente o seu governo, em eleições livres e democráticas, para inverter as danosas condições socias para onde foram conduzidos por cinco anos de aplicação das mesmas “reformas” que a troika (isto é, Comissão Europeia, FMI e BCE)  pretende continuara a aplicar nesse país, e não só.

De pouco serve Juncker tentar fazer de polícia bom, declarando na mesma ocasião que não é a favor de um aumento do IVA nos medicamentos e na eletricidade, "e o primeiro-ministro (Alexis Tsipras) sabe-o", tendo mesmo sugerido alternativas , como por exemplo "um corte modesto no orçamento de Defesa, e isso poderia ser facilmente feito", pois, insistiu, considera que obrigar a Grécia a aumentar os preços dos medicamentos e da eletricidade "seria um grande erro".

Ao rematar com a afirmação "Acho que o debate na Grécia e fora da Grécia seria mais fácil se o governo grego dissesse exatamente o que a Comissão, sendo uma das três instituições envolvidas, está realmente a propor", acabou por confessar nas entrelinhas que as outras duas instituições (BCE e FMI) da troika pensam de modo diferente, isto é, querem mesmo o tal aumento no IVA, como pretendem  também continuar a penalizar as pensões mais baixas e continuar o mesmo programa desumano de austeridade .

Então, se é assim tão bem intencionado,  era contra o BCE e o FMI que a sua voz se devia erguer. Mas a coragem de enfrentar os poderosos interesse financeiros instalados na União Europeia não é propriamente o seu modo de actuar. Ninguém chega onde ele chegou mordendo na mão do "dono".

É mais fácil continuara a culpar o governo grego pelo falhanço das negociações.

E, sendo Juncker, apesar de tudo, uma  das poucas figuras com alguma decência que ainda restam na liderança das instituições europeias, dá  para perceber o que não será o tipo de gente que enxameia a burocracia europeia e  o tipo de gente que os cidadãos europeus têm pela frente, ou, citando um ditado português, "se é assim na montra, imagine o que vai dentro da loja!".

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