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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DIAS DO FIM DA EUROPA -6 - A Tragédia Grega é a Nossa Tragédia...


Parece que o euro vai chegar ao fim mais depressa do que se pensava.

O modo como os líderes europeus reagiram ao anúncio, por parte do Primeiro-ministro grego Papandreau, da realização de um referendo sobre a aceitação pelos gregos de novas medidas de austeridade, é bem sintomático do universo irrealista e anti-democrático em que eles vivem.

Ao contrário da grande mentira que foi anunciada na última cimeira europeia, que divulgava aos quatro ventos um perdão de 50% da dívida grega, sabe-se agora que esse perdão é apenas sobre uma parte da dívida desse país e que o objectivo desse “perdão” visa apenas salvar, mais uma vez, os bancos envolvidos nas operações financeiras de resgate da Grécia, tudo pago com mais austeridade sobre o povo grego.

Papandreau, que tem sido um executor bem comportado da receita socialmente criminosa que a União Europeia tem imposto ao seu país, ter-se-á apercebido, desta vez, depois de regressara dessa cimeira, que já não havia mais espaço de manobra para impor mais medidas de austeridade, sem que tal acentuasse o caos social em que vive o seu país, eventualmente lançando o país em actos cada vez mais violentos de desespero e até, como parece agora evidente pela decisão de afastar altas chefias militares dos seus cargos, num golpe de estado sangrento.

A única saída que lhe restou, para tentar recuperar alguma legitimidade, foi a de anunciar a realização de um referendo.

O modo como as lideranças políticas europeias reagiram a esse anuncio, revela, para além de um enorme desprezo pelas decisões democráticas e pela opinião dos cidadãos, uma grande desorientação política e a incapacidade para perceber que as medidas de austeridade, acima de mais medidas de austeridade, sem que se vislumbre um sinal de esperança, vai gerar actos cada vez mais desesperados e incontrolados por parte do poder político e dos povos das nações que estão a ser alvo dos ataques dos especuladores.

Embora ainda exista uma possibilidade de esse referendo não se realizar, se se realizarem eleições antecipadas na Grécia, a ir para a frente é muito provável que vença a recusa em adoptar mais medidas da austeridade, o que levará esse país, conforme já ameaçaram alguns arrogantes burocratas europeus, a abandonar o euro e a União Europeia.

Aliás, não deixa de ser revelador do autoritarismo monetário e financeiro que está na base da construção do euro que, caso um país saia do euro, tenha de sair também da União. Bem fizeram aqueles que mantiveram a sua moeda nacional, os únicos países de UE que têm escapado a toda esta confusão.

Para a Grécia vai ser o descalabro, talvez a guerra civil e o regresso da ditadura. Esse será o resultado esperado das medidas impostas pela “Troika”, anunciando austeridade em cima de austeridade, sem um objectivo que mostre uma saída razoável para resolver a situação, medidas que colocam os interesses especulativos e financeiros à frente do bem-estar dos cidadãos.

Mas o resto da União Europeia não sairá incólume desta situação. Países como Portugal, a Itália, a Irlanda e, a prazo, a Espanha e a França, serão os próximos alvos da irresponsabilidade dos líderes Europeus, caindo muitos deles em impensáveis regimes autoritários e ditatoriais, e/ou na mais extrema miséria.

O euro terá os dias contados ou, quanto muito, ficará confinado a uma moeda alemã e dos seus “satélites” do leste.

A União Europeia, que deixará assim de ser um espaço de solidariedade entre povos e um espaço de liberdade e de segurança social dos seus cidadãos, perderá a sua razão de existir e, rapidamente, veremos os egoísmos nacionais, cuja manifestação já começou a dar os primeiros passo com a atitude da srª Merkel, a levarem a Europa novamente para o abismo.

Há ainda uma possibilidade de se evitar cair neste abismo que é o de, na cimeira do G20, apercebendo-se da gravidade da situação europeia e dos reflexos desta situação para a paz e para a estabilidade económico-financeira do mundo, tomarem aí as decisões que a irresponsabilidade e a incompetência dos líderes europeus não têm tido a coragem de tomar, enfrentando os criminosos interesses financeiros que estão por detrás da crise, nomeadamente acabar com os criminosos paraísos fiscais, responsabilizar as empresas de rating pelo efeito das suas decisões irresponsáveis, tributar e controlar os movimentos de capitais e submeter o poder financeiro ao poder político.

Se nada disso for feito, é bom que nos preparemos para o pior, para novas guerras, para o regresso das ditaduras e par o aumento da miséria no espaço europeu. Todos nós, europeus, vamos perder, mas o Mundo vai perder muito mais…

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