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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

TODOS SOMOS ZAPATA

Filho de preso político durante a ditadura salazarista, nunca pude aceitar a existência de regimes que mantêm pessoas presas por divergência ideológica.

Se nunca me surpreendeu a repressão política em nome dos valores conservadores da direita, já me surpreendeu que, em nome dos valores de esquerda, que, recorde-se, se baseiam na Fraternidade, Igualdade e Liberdade, se mantenha alguém preso, mesmo quando defende ideias contrárias a estas.

Claro que se pode argumentar que o regime Cubano trava há tempo de mais uma luta tenaz contra a chantagem do cerco económico norte-americano, ou que uma parte assinalável dos dissidentes cubano, nomeadamente os que vivem em Miami, é formada por gente social e ideologicamente pouco recomendável.

Mas nada disso justifica, quer a existência de cerca de duzentos presos políticos, quer o tratamento desumano a que a maioria deles está sujeita.

Manter na prisão dissidentes que, ao contrário de outros, decidiram continuar a bater-se pela democratização do regime no próprio país, revela, até, falta de inteligência, pois só estes podem contribuir para uma transição pacífica do regime, sem banho de sangue e sem que se deite fora o “menino” com a água do banho.

Claro que também há quem argumente que este é o primeiro caso fatal em 38 anos, que o número de presos políticos é reduzido (comparativamente com o que se passa em muitas ditaduras ou pseudo-democracias por esse mundo fora, muitas delas apoiadas pelo Ocidente), ou que Raúl Castro “lamentou” o sucedido.

Contudo, julgar as ditaduras com base em números revela falta de humanidade, pois todas as “baixas” registadas em defesa de ideais, mesmo que contrárias ás nossas, discutíveis ou errados, são uma perda para a humanidade.

A diversidade e o direito à diferença é uma mais-valia, não é um crime.

Como homem de esquerda só posso homenagear a memória de Orlando Zapata Tamayo, fazendo aquilo que Raúl Castro devia ter feito, para além de libertar todos os presos políticos, que é  um pedido de perdão à  família de Zapata pelo facto do seu familiar ter morrido às mãos de um regime que se diz defensor desses mesmos valores da esquerda.

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