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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

RECORDAR MANUEL SERRA

A esta hora o corpo de Manuel Serra prepara-se para nos deixar para sempre.

Manuel Serra foi o “responsável” por eu ter abandonado o PS em Janeiro de 1975, pouco mais de 6 meses depois de nele ter entrado.

A história é simples: ainda antes do 25 de Abril já eu participava em reuniões clandestinas, lideradas e organizadas pelo PCP local, sob a capa de uma organização que se tinha apresentado ao acto eleitoral em 1973, o CDE.

Filho de ex-preso político dissidente do PCP desde o final da década de 50, politicamente fui educado a respeitar, por um lado, a luta gloriosa dos comunistas contra a ditadura e, por outro, a conhecer alternativas democráticas ao stalinismo, sem por em causa a luta socialista pela justiça social.

Foi assim que, a seguir ao 25 de Abril, contactando desde logo com o sectarismo do PCP e o extremismo das alternativas à sua esquerda, optei por aderir ao PS, pois era um partido que, criado recentemente, parecia reunir à sua volta o consenso entre soluções democráticas, a defesa da liberdade e os ideais de uma sociedade socialista mais justa.

As ilusões que alimentava em relação a esse projecto acabaram de vez por ocasião do Iº Congresso do PS depois do 25 de Abril, em Dezembro de 1974, quando Mário Soares venceu, por escassa margem e graças ao apoio de Manuel Alegre, uma candidatura à liderança de Manuel Serra.

Após a sua derrota era evidente que o PS guinaria à direita, levando à saída de Manuel Serra e de muitos militantes anónimos, entre os quais eu próprio.

Serra manteve-se coerente ao longo da sua vida, afastando-se da vida política com humildade e servindo de modelo para muitos jovens da altura, como foi o meu caso.

A história é conhecida e deu razão a Serra. A evolução histórica do PS, como está hoje à vista com o “socratismo”, foi um progressivo e lento caminhar para a direita, deixando um espaço vazio entre o PCP e o PS, que até hoje, na verdade, ainda não foi ocupado por nenhum partido.

O PS tornou-se um partido dos “interesses”, sem ideologia, onde já são muitos poucos os que nele estão por convicção e ideais.

Manuel Serra, que morreu domingo à noite em Lisboa, com 78 anos, foi um homem que provou que, para além da conhecida coerência política dos militantes do PCP ou dos líderes da direita, também existe gente séria e coerente noutros territórios da esquerda.

1 comentário:

Anónimo disse...

Um grande homem, um democrata a sério.
R.IP