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domingo, 28 de fevereiro de 2010

"As Ecolhas de Marcelo"... na hora da despedida...

Chega hoje ao fim o programa “As Escolhas de Marcelo” .

Recordo-me, já lá vão muitos anos, de ter estado presente num colóquio em Torres Vedras onde o orador convidado era Marcelo Rebelo de Sousa.

A sua presença integrava um conjunto de painéis , que contaram também com a presença de Mário Soares e Álvaro Cunhal e alguém do PP, cujo nome não me recordo.

Lembro-me de, no final da sua intervenção, o ter aplaudido entusiasticamente. Deve ter sido a primeira fez que aplaudi, de vontade, um então dirigente do PSD, partido por quem não tenho afinidades políticas ou ideológicas.

Marcelo Rebelo de Sousa, então como agora, tinha esse condão de saber reflectir sobre a realidade nacional, mantendo distanciamento em relação à sua ideologia política e capacidade usar um raciocínio claro, aberto e estimulante.

Na profusão de opinadores e comentadores que invadiram o espaço jornalístico e televisivo, a maior parte incapaz de um pensamento original ou de sair dos padrões ideológicos neo-liberais, poucos conseguem revelar as capacidades reflexivas, críticas e analíticas de um Marcelo Rebelo de Sousa (MRS).

Foi essa capacidade que fez do seu programa um dos mais vistos e respeitados pela audiência televisiva.

Não deixou de ser curioso que a direcção da RTP não tivesse percebido a independência e originalidade de MRS em relação ao partido onde milita e tivesse sentido necessidade, para “garantir o pluralismo”, de contrabalançar o programa de Marcelo com a criação de outro programa do género com a presença de um militante do PS. Refiro-me ao “Notas Soltas” de António Vitorino.

Em primeiro lugar, se defendiam o pluralismo político, então deviam ter convidado comentadores próximos do BE, do PCP ou do PP para outros tantos programas do género.

Em segundo lugar, a diferença de audiência entre aqueles dois programas é a prova acabada do equívoco desse “princípio”. Se Marcelo se consegue distanciar dos que lhe estão ideologicamente próximos, o mesmo não se pode dizer de António Vitorino.

A actuação de António Vitorino limitou-se a fazer figura de “limpa fundos” das asneiras políticas do “socratismo” ou de tentar atenuar as críticas de Marcelo à actuação governamental.

Em terceiro lugar, não deixa de ser no mínimo estranho que o fim das “Escolhas de Marcelo” tenha sido condicionada pela saída anunciada de Vitorino, em nome de um discutível “pluralismo” informativo defendido pela actual direcção da RTP.

Recorde-se que MRS havia abandonado a TVI em protesto contra pressões do governo de Pedro Santana Lopes sobre o seu programa.

À luz deste e de outros acontecimentos recentes, aquela actuação do governo PSD/CDS, que tantas críticas mereceu então de José Sócrates, não deixa de ser vista hoje, a esta distância, como uma gota de água no oceano das pressões do “socratismo” sobre a comunicação social.

Muitas vezes discordei das opiniões de MRS, mas é sempre uma perda quando alguém com um pensamento estimulante e original , como o seu, deixa de ter um espaço próprio para se manifestar.

É mais uma pedra na construção do cinzentismo cultural e ideológico deste país. O “socratismo” agradece.

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