Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 29 de maio de 2019

E agora europa?


As duas grandes famílias europeias, responsáveis pela austeridade e pelas políticas antissociais na União Europeia nos últimos cinco anos, perderam a tradicional maioria absoluta que mantinham desde o início da fundação do Parlamento Europeu.

O grupo maioritário nesse parlamento, o Partido Popular Europeu (PPE) passou a ter 178 deputados, quando anteriormente detinha 219. Esta é a família política que integra o PSD e o CDS, que até não foram dos que mais contribuíram para essa queda acentuada, perdendo, no seu conjunto, apenas um deputado (de 8 passaram a 7). Se se concretizar a expulsão dos deputados húngaros do partido de extrema-direita de Órban, (que elegeu 13 deputados), aquele número vai ficar ainda mais reduzido (165 deputados).  

O PPE pretendia continuar a presidir à Comissão Europeia, apesar dos resultados desastrosos para os cidadãos europeus e para o projecto europeu, sob a liderança, respectivamente, de Durão Barroso e Juncker.

Com estes resultados está caminho aberto para uma nova liderança e um maior equilíbrio na distribuição de pelouros da Comissão Europeia.

Contudo, o grupo que tem sido uma alternativa mais simpática para os interesses dos cidadãos europeus (embora muitas vezes se tenha limitado a fazer de “polícia bom”), a Aliança Progressista de Socialistas e Democratas (S&D), também obteve um resultado, que se não foi desastroso, foi “poucochinho”.

O grupo S&D, ao qual pertence o PS, perdeu 36 deputados. Tinha 189 deputados, passou a ter 153. Nesta família política não deixa de ser significativo que os únicos resultados positivo foram obtidos pelos seus filiados ibéricos, o PS e o PSOE que aumentaram a representação, remando assim contra a maré. Talvez o facto de serem os únicos que têm uma atitude crítica em relação ao modelo "austoritário" das “troikas” e assumindo-se à esquerda, tenha evitado o descalabro mais acentuado desta família politica.

Seja como for, o tradicional “centrão” que governava a Europa, com maioria absoluta no PE, nas últimas décadas, desfez-se. De uma maioria absoluta de 408 deputados, ficaram reduzidos a 331 deputados, num universo de  751 deputados, redução que ainda se pode acentuar com a saída da extrema-direita húngara do PPE.

Isto não quer dizer que esse centrão não possa ser reformulado, agora integrando uma outra família política, os “liberais” do ALDE que inclui o partido do presidente francês Macron, e os Cidadãos espanhóis, sem representação portuguesa. Este grupo cresceu de 68 para 105 deputados, tornando-se a 3ª força política no PE, ultrapassando o grupo de extrema direita ECR (que integra o partido Lei e Justiça da Polónia e onde se incluirá o Vox espanhol).

O ALDE vai ter uma importante palavra na distribuição de lugares na Comissão Europeia e nas futuras reformas do projecto europeu.

À esquerda o GUE/NGL (Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde), foi um dos derrotados nestas eleições. Integra alguns dos principais grupos anti austeridade, como o Podemos, a França Insubmissa, o Syriza e os portugueses PCP e BE.

Este grupo, de 52, passou para 38 deputados. Os deputados portugueses deste grupo mantiveram a mesma força, 4 deputados (2 do BE e 2 da CDU), e já representam mais de 10% do grupo.

Destino contrário conheceu outro grupo, situado maioritariamente à esquerda, os Verdes, que passaram de 51 para 69 deputados, tornando-se a 4ª maior força politica e integrando, pela primeira vez, um representante português, eleito pelo PAN. Este grupo pode ter uma importante palavra a dizer nas negociações que decorrem em Bruxelas para a distribuição de cargos e responsabilidades, até porque representa uma preocupação crescente entre os Europeus, principalmente entre os mais jovens.

Já a  extrema-direita, apesar de ter sido uma das vencedoras das eleições, aparece muito dividida, sendo representada pelo ENL (que inclui a Liga de Salvini, a UN de Le Pen e a AfD alemã), passando de 35 para 58 deputados, pelo ECR (que incluía Le Pen, que mudou de grupo, que inclui o Lei e Justiça da Polónia e deverá integrar o Vox), que perdeu votos, por causa da saída de Le Pen para o grupo anterior, passando de 71 para 63,  e o EFDD (que inclui o Partido do Brexit de Farage, perdendo a AfD alemã para outro grupo), que cresceu de 45 para 54 deputados, mas poderá sofrer grandes alterações se se concretizar a saída da Grã-Bretanha (o Partido do Brexit de Farange elegeu 28 deputados). Há que contar ainda com a possível integração do partido de Órban num destes grupos (mais 13 deputados).

No seu conjunto a extrema-direita passou de 151 deputados para 175, aos quais se podem juntar os extremistas do Fidesz que governam a Hungria (+ 13), e os representantes de outras pequenas forças que ainda não optaram por qualquer dessas três formações, que coloca essa tendência à beira dos 200 deputados.

É igualmente significativo que a extrema-direita, crescendo em quase todos os países, saiu vitoriosa na maior parte dos grandes países da EU, como na Itália, na França, na Grã-Bretanha, e na Polónia.

Teremos assim, no próximo Parlamento Europeu, cinco grandes grupos : Direita Conservadora (PPE, menos  o Fidesz) – 165 deputados (178 com Órban);  Socialistas – 153 deputados; Liberais – 105 deputados; Esquerda progressista (Verdes + GUE) -  107 deputados; Extrema-direita (com o Fidesz ) – 188 deputados. Sobram ainda 33 deputados sem posição definida. Para formar a maioria de 376 deputados nunca será possível juntando apenas duas dessas tendências.

Existem várias combinações em aberto: Direita + extrema-direita  = 353 deputados (faltando 23 para uma maioria) ;  PPE+Socialistas+Liberais = 420 ;  Socialistas+Verdes+Liberais+Esquerda = 365 deputados (faltando 11 para uma maioria). De tendência variada, parte dos 33 deputados não filiados podem contribuir para a primeira ou para a última maioria (sendo que a maior parte desses deputados estão mais à direita).

Uma das boas notícias da noite foi o decréscimo da abstenção (ao contrário do que se passou em Portugal), tendo beneficiando, por um lado o crescimento dos Verdes e, por outro, o crescimento, embora mais lento do que era previsto, da extrema-direita.

Seria bom que os novos responsáveis pelo destino do projecto Europeu mudassem mesmo alguma coisa, preocupando-se mais com o bem estar dos cidadãos do que com o bem estar dos bancos, fizessem urgentemente alguma coisa pelo ambiente e deixassem de legitimar o discurso da extrema-direita sobre a emigração.

A quebra dos partidos tradicionais é um sério aviso.

Sem comentários: