As duas grandes famílias europeias, responsáveis pela austeridade e
pelas políticas antissociais na União Europeia nos últimos cinco anos, perderam
a tradicional maioria absoluta que mantinham desde o início da fundação do
Parlamento Europeu.
O grupo maioritário nesse parlamento, o Partido Popular Europeu (PPE)
passou a ter 178 deputados, quando anteriormente detinha 219. Esta é a família
política que integra o PSD e o CDS, que até não foram dos que mais contribuíram
para essa queda acentuada, perdendo, no seu conjunto, apenas um deputado (de 8
passaram a 7). Se se concretizar a expulsão dos deputados húngaros do partido
de extrema-direita de Órban, (que elegeu 13 deputados),
aquele número vai ficar ainda mais reduzido (165 deputados).
O PPE pretendia continuar a presidir à Comissão Europeia, apesar dos
resultados desastrosos para os cidadãos europeus e para o projecto europeu, sob
a liderança, respectivamente, de Durão Barroso e Juncker.
Com estes resultados está caminho aberto para uma nova liderança e um
maior equilíbrio na distribuição de pelouros da Comissão Europeia.
Contudo, o grupo que tem sido uma
alternativa mais simpática para os interesses dos cidadãos europeus (embora
muitas vezes se tenha limitado a fazer de “polícia bom”), a Aliança
Progressista de Socialistas e Democratas (S&D), também obteve um resultado,
que se não foi desastroso, foi “poucochinho”.
O grupo S&D, ao qual pertence o PS,
perdeu 36 deputados. Tinha 189 deputados, passou a ter 153. Nesta
família política não deixa de ser significativo que os únicos resultados
positivo foram obtidos pelos seus filiados ibéricos, o PS e o PSOE que
aumentaram a representação, remando assim contra a maré. Talvez o facto de
serem os únicos que têm uma atitude crítica em relação ao modelo "austoritário" das “troikas” e assumindo-se à esquerda, tenha evitado o descalabro mais
acentuado desta família politica.
Seja como for, o tradicional “centrão” que
governava a Europa, com maioria absoluta no PE, nas últimas décadas, desfez-se.
De uma maioria absoluta de 408 deputados, ficaram reduzidos a 331 deputados,
num universo de 751 deputados, redução que ainda se pode acentuar com a
saída da extrema-direita húngara do PPE.
Isto não quer dizer que esse centrão não
possa ser reformulado, agora integrando uma outra família política, os
“liberais” do ALDE que inclui o partido do presidente francês Macron, e os
Cidadãos espanhóis, sem representação portuguesa. Este grupo cresceu de 68 para
105 deputados, tornando-se a 3ª força política no PE, ultrapassando o grupo de
extrema direita ECR (que integra o partido Lei e Justiça da Polónia e onde se
incluirá o Vox espanhol).
O ALDE vai ter uma importante palavra na
distribuição de lugares na Comissão Europeia e nas futuras reformas do projecto
europeu.
À esquerda o GUE/NGL (Grupo Confederal da
Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde), foi um dos derrotados
nestas eleições. Integra alguns dos principais grupos anti austeridade, como o
Podemos, a França Insubmissa, o Syriza e os portugueses PCP e BE.
Este grupo, de 52, passou para 38
deputados. Os deputados portugueses deste grupo mantiveram a mesma força, 4
deputados (2 do BE e 2 da CDU), e já representam mais de 10% do grupo.
Destino contrário conheceu outro grupo,
situado maioritariamente à esquerda, os Verdes, que passaram de 51 para 69
deputados, tornando-se a 4ª maior força politica e integrando, pela primeira
vez, um representante português, eleito pelo PAN. Este grupo pode ter uma
importante palavra a dizer nas negociações que decorrem em Bruxelas para a
distribuição de cargos e responsabilidades, até porque representa uma
preocupação crescente entre os Europeus, principalmente entre os mais jovens.
Já a
extrema-direita, apesar de ter sido uma das vencedoras das eleições,
aparece muito dividida, sendo representada pelo ENL (que inclui a Liga de
Salvini, a UN de Le Pen e a AfD alemã), passando de 35 para 58 deputados, pelo
ECR (que incluía Le Pen, que mudou de grupo, que inclui o Lei e Justiça da
Polónia e deverá integrar o Vox), que perdeu votos, por causa da saída de Le
Pen para o grupo anterior, passando de 71 para 63, e o EFDD
(que inclui o Partido do Brexit de Farage, perdendo a AfD alemã para outro
grupo), que cresceu de 45 para 54 deputados, mas poderá sofrer grandes
alterações se se concretizar a saída da Grã-Bretanha (o Partido do Brexit de Farange
elegeu 28 deputados). Há que contar ainda com a possível integração do partido
de Órban num destes grupos (mais 13 deputados).
No seu conjunto a extrema-direita passou de
151 deputados para 175, aos quais se podem juntar os extremistas do Fidesz que governam a Hungria (+ 13), e os
representantes de outras pequenas forças que ainda não optaram por qualquer
dessas três formações, que coloca essa tendência à beira dos 200 deputados.
É igualmente significativo que a
extrema-direita, crescendo em quase todos os países, saiu vitoriosa na maior
parte dos grandes países da EU, como na Itália, na França, na Grã-Bretanha, e na
Polónia.
Teremos assim, no próximo Parlamento
Europeu, cinco grandes grupos : Direita Conservadora (PPE, menos o Fidesz) – 165 deputados (178 com Órban); Socialistas – 153 deputados;
Liberais – 105 deputados; Esquerda progressista (Verdes + GUE) - 107 deputados; Extrema-direita (com o Fidesz )
– 188 deputados. Sobram ainda 33 deputados sem posição definida. Para formar a
maioria de 376 deputados nunca será possível juntando apenas duas dessas
tendências.
Existem várias combinações em aberto:
Direita + extrema-direita = 353
deputados (faltando 23 para uma maioria) ;
PPE+Socialistas+Liberais = 420 ; Socialistas+Verdes+Liberais+Esquerda
= 365 deputados (faltando 11 para uma maioria). De tendência variada, parte dos
33 deputados não filiados podem contribuir para a primeira ou para a última
maioria (sendo que a maior parte desses deputados estão mais à direita).
Uma das boas notícias da noite foi o
decréscimo da abstenção (ao contrário do que se passou em Portugal), tendo
beneficiando, por um lado o crescimento dos Verdes e, por outro, o crescimento,
embora mais lento do que era previsto, da extrema-direita.
Seria bom que os novos responsáveis pelo
destino do projecto Europeu mudassem mesmo alguma coisa, preocupando-se mais
com o bem estar dos cidadãos do que com o bem estar dos bancos, fizessem
urgentemente alguma coisa pelo ambiente e deixassem de legitimar o discurso da
extrema-direita sobre a emigração.
A quebra dos partidos tradicionais é um
sério aviso.
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