A vitória de Macron adiou em França, por cinco anos, a ascensão ao
poder da extrema direita ao poder .
Não se percebe o foguetório que vai para os lados de Bruxelas, pois as
políticas económicas e socias defendidas pelo novo presidente francês não são
muito diferentes daquelas que têm sido levadas a cabo por Sarkozy e Hollande, e
que têm reforçado a extrema direita.
Aliás, talvez não tenha sido por acaso que esses dois presidentes foram
os únicos não reconduzidos nos últimos trinta anos da República.
Apesar de tudo, Macron parece-me mais inteligente e competente que o
dois últimos presidentes franceses e, pelo menos do ponto de vista táctico,
conseguiu, pela primeira vez, encostar Le Pen à parede, desmascarando-a no
debate que os outros tinham estupidamente recusado.
A vitória de Macron pode ser um mero intervalo na caminhada firme e irreversível
de Le Pen para chegar ao poder.
Se Macron se limitar a ser um continuador das desastrosas políticas económicas e sociais dos seus dois antecessores ou ser apenas o
fiel depositário das “reformas estruturais” impostas por Bruxelas ( leia-se,
aumento da precariedade no trabalho, cortes nos salário e pensões, cortes nos
direitos socias para resgatar o falido e corrupto do sector financeiro, com o
consequente aumento das desigualdades ), o seu destino vai ser idêntico ao dos
seus antecessores, abrindo um caminho irreversível à Frente Nacional.
Por isso as primeiras medidas de Macron, nomeadamente o tipo de gente
que ele venha a colocar no governo, vão ser fundamentais para perceber as suas
intenções.
Se, pelo contrário, Macron conseguir inverter o modelo “austeritário”
do politburo de Bruxelas, batendo o pé ao sr. Schauble, colocando em prática um
verdadeiro modelo social-democrata de tipo nórdico, que ele diz defender, e
apoiar os países do sul, atitude que, segundo Verofakis, ele tomou em relação à
Grécia e que lhe terá custado o despedimento do governo de Hollande, então
talvez ele, pela primeira vez, comece a esvaziar a retórica da extrema-direita,
restaurando e salvando o modelo europeu, que, desde o consulado Barroso, apenas
tem estado ao serviço do poder financeiro, abrindo caminho ao populismo, e que
deveria passar a estar ao serviço dos seus cidadãos.
Esperemos que Macron venha a revelar tanta coragem para enfrentar
Schauble como se revelou no combate a Le Pen.
A vitória percentualmente esmagadora de Macron deve também ser observado
com alguma contenção .
Em primeiro lugar a maior parte dos que nele votaram na segunda volta
não votaram com convicção mas como uma “coligação negativa” par travar a
extrema-direita.
Em segundo lugar, a abstenção à segunda volta, que em termos portugueses
parece baixa, foi a maior de sempre em França desde 1969.
Um outro dado a reter, também histórico, foi a percentagem de votos em
branco ou nulos, quase 8%, isto é, 4 milhões de votantes.
E resta não esquecer que a Frente Nacional, que, ao contrário do de Macron,
foi um voto de convicção, ultrapassou o apoio de dez milhões de eleitores (…um
Portugal inteiro).
Ou, seja, não existem grandes motivos para festejos, a não ser que,
mais uma vez, Bruxelas e os ditos “europeístas” não percebam o “recado”.
…a História continua nos próximos dias!
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