Colaborei muitas vezes em projectos culturais e informativos e o que
mais me irritava era a argumentação de muitos em defesa de uma cultura e de uma
informação que fosse feita para agradar ao “gosto do povo”.
Claro que aquilo de que o “povo gosta” que esses procuram impingir como
modelo, apenas revela o próprio gosto dos que assim argumentam.
Sempre argumentei, na escolha dos temas, das musicas (estou a falar
também de projectos radiofónicos), dos filmes e das imagens, que as pessoas só
gostam do que conhecem e se lhes impigem apenas porcarias, é da porcaria que
vão gostar.
Tenho por experiência própria que as pessoas estão abertas ao bom
gosto, ao que é inovador e criativo e é muitas vezes devido àquela atitude
preconceituosa sobre os gostos culturais que acaba por vingar o mau gosto.
Aquilo que é o “gosto da maioria” é-lhes assim impingido, seguindo a
velha máxima segundo a qual, “uma mentira várias vezes repetida se torna
verdade”, ou, no caso da cultura, o mau gosto cultural muitas vezes impingido torna-se o gosto
dominante.
Vem isto a propósito ao modo como Salvador Sobral ganhou
o festival da canção.
Aquilo que era a opinião dominante é que, num festival “popular”, onde
domina o gosto musical duvidoso, aquilo que resulta é copiar o que vende, em
termos de produção da musica comercial, musica fabricada a metro para usar em
discotecas ou como ambiente de loja de trapos, de preferência nivelando tudo
pela língua inglesa.
Ora, Salvador Sobral subverteu tudo isso com a sua vitória, remando
contra a maré dominante e deitando por terra aqueles que defendem que se deve
dar “aquilo que o povo gosta”.
O “povo” afinal está ávido e a aberto à novidade, à qualidade e à criatividade.
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