Iniciativas como a Web Summit são iniciativas louváveis e prestigiantes
para Portugal.
Infelizmente, a pretexto dessa relevante iniciativa, escrevem-se as
maiores alarvidades, assentando, quer no preconceito ideológico, quer na
desinformação, quer no mais primário provincianismo.
Foi o que aconteceu com a última crónica do “jornalista” Manuel
Carvalho, no jornal Público, intitulada, significativamente, “Este país não épara novos”, na edição de 2 de Novembro de 2016.
O título já é, só por si, um tratado ideológico de desonestidade
intelectual, potenciando a idéia de que a inovação e a criatividade é dos “jovens”
e o tradicionalismo e o imobilismo é dos “velhos”, dando seguimento a uma idéia
de que os “velhos”, impondo a “sua” “cartilha dos direitos” sociais, estão a
mais na sociedade, impedindo a sua “modernização” (ouvimos muito disso a
propósito do Brexit), como se a modernidade, a inovação tecnológica e a
criatividade só se pudessem expandir contra os direitos sociais defendidos
pelas “redes clientelares dos sindicatos ou o ensimesmamento da função pública”.
Os sindicatos, a esquerda, ( e alguma direita “rançosa”), o Estado de Direito,
a Função Pública são os alvos principais da crónica, escrita a (des)propósito
da louvável iniciativa do Web Summit.
Nalguns pontos o seu rancor contra o “público” revela-se até
contraditório, quando fala numa “geração que fala inglês” [já não toca piano
nem fala francês!!!] “e recebeu NAS UNIVERSIDADE PÚBLICAS [sublinhado nosso] um
nível de formação mundial” ( e já agora, não a terá recebido também no ensino
público, no básico e no secundário, para aí chegar tão bem preparada???).
Misturando preconceitos ideológicos que, de modo “freudiano”, o “jornalista”
defende como uma “visão” que “será sempre facilmente torpedeada com os anátemas
do neoliberalismo”, com uma visão provinciana
da inovação tecnológica, no fim do artigo pouco ficamos a saber sobre aquela
importante iniciativa e essa, quanto
nós, devia ser a missão do “jornalista”.
Ao opor os “direitos” e os “sindicatos” ao significado daquela
iniciativa, o articulista parece querer colar às empresa tecnológicas a imagem,
para ele positiva, mas quanto a nós injusta em muitos casos, e em especial
entre as empresas representadas naquela iniciativa, segundo a qual a inovação e a criatividade implicam e confundem-se com a precariedade no
emprego, os salários baixos, o trabalho sem horários e o torpedeamento de direitos socias.
O título e o pretexto da crónica do “jornalista” é também revelador de
um certo provincianismo no modo como alguns encaram as novas tecnologias, como
se substituir uma velha máquina registadora por um computador ou um balcão de
comércio por uma plataforma digital
fosse, só por si, um sinal de mudança e inovação. Como se a tecnologia não
fosse um simples meio ao serviço da inovação e da criatividade e a “bondade”
dessa tecnologia não dependesse do seu
uso.
Não nos surpreende essa opinião, vinda de quem vem, pois já escreveu e
disse coisas do género noutras crónicas e intervenções no comentário televisivo,
mas desta vez foi longe demais, misturando alhos com bugalhos, servindo-se de
modo ideologicamente oportunista de uma iniciativa louvável para lançar todo o seu
rancor contra os “direitos”, os sindicatos, a Função Pública, a “esquerda” e os
“velhos”, prestando um mau “serviço público” que devia ser a preocupação
central de um jornalismo livre e independente.
Esperamos que esta infeliz crónica não seja um sinal de algum descalabro
e desorientação que se tem notado nos últimos tempos no seio do jornal Publico desde
a chegada de David Dinis à direcção do jornal (ainda hoje, na sua primeira página, se publica um título
apressado e mal informado sobre a ADSE,
entretanto desmontado pelo bom jornalismo que, cada vez mais, se faz na Antena
1).
…e esperamos também que apareçam notícias, feitas com rigor jornalístico,
realmente esclarecedoras sobre a feliz iniciativa do Web Summit…
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