Conduziu uma das mais míticas e originais revoluções que muitas
esperanças provocou entre a geração
socialista do pós-guerra.
Muitos viram nessa revolução um novo rumo para a ideologia socialista revolucionária
então em declínio, marcada pela recente denuncia dos crimes stalinistas, e que
não se revia, nem na violência extremista da revolução chinesa, nem na
burocracia autoritária do “socialismo real” do leste da Europa.
Fidel Castro não era um revolucionário de formação comunista. Era, pelo
contrário, um homem de formação católica. Em parte por isso, foi visto com
desconfiança pela velha guarda do Partido Comunista Cubano que acabou varrido
na voragem da revolução dos “barbudos”.
Cedo, contudo, começou a instalar-se a desilusão, em parte também por culpa
dos Estados Unidos, que, incapazes de perceberem a revolução, sentindo-se humilhados por perderem o seu
capataz Fulgêncio Baptista e dominados por uma elite política com ligação aos
bandos mafiosos que dominavam a ilha, se envolveram com os pouco recomendáveis
anticastristas na aventura falhada da Baía dos Porcos e em várias tentativas de
assassinar Fidel, atirando a
sobrevivência de Castro para os braços da União Soviética.
Para sobreviver, Castro aproximou a revolução da influência soviética e
adoptou a retórica soviética, tornando-se mais um joguete nas mãos da
estratégia politica desta superpotência durante a Guerra Fria.
A principal consequência dessa aproximação atingiu o seu auge durante a
Crise dos misseis, que colocou o mundo à beira de uma guerra mundial e, mais
tarde, durante a participação desastrada e condenável na guerra civil angolana.
Quando a União Soviética acabou, sujeito a um duro embargo económico
por parte dos Estados Unidos, todos vaticinaram o rápido fim do castrismo. Mas
foi nesse momento difícil para o regime que Castro evidenciou todas as suas
capacidades políticas, conseguindo salvar o regime com pragmatismo e abertura
controlada, atitude que culminou numa atitude rara em ditadores, a de se
retirar e permitir a abertura do regime.
Curiosamente, o outro ditador que permitiu em vida uma transição
pacífica foi aquele que representou a outra face da moeda na política latino-americana,
o sanguinário ditador Augusto Pinochet.
Essa capacidade de se retirar a tempo e permitir a abertura do regime
foi uma lição, até para muitos “democratas” apegados ao poder.
Claro que, como qualquer ditadura, a liberdade e os Direitos Humanos foram
muitas vezes desrespeitados, mas, comparativamente com outras ditaduras, à
direita e à esquerda, ou mesmo com algumas “democracias” do nosso tempo
(Hungria, Ucrânia, Russia, Israel, Angola, Arábia Saudita, Filipinas…) podemos
classificar o Castrismo como uma ditadura de “baixa intensidade” e mansa.
Quanto à falta de legitimidade democrática do castrismo, também aí Cuba
não pode receber muitas lições de democracias subjugadas por poderes e
instituições sem qualquer legitimidade democrática (FMI, BCE, EUROGRUPO,
COMISSÃO EUROPEIA, para falar apenas de algumas delas…).
Com a morte de Fidel, a Revolução Cubana chegou ao fim e passa a um tema
de estudo histórico.
Das memórias do mundo da minha infância, agora resta apenas a Rainha de
Inglaterra…
Em alternativa a uma oposição maioritariamente liderada por gente pouco
recomendável, com destaque para os intolerantes anticastristas de Miami, onde se
inclui a maior parte dos 25% de latino americanos que votaram Trump, Fidel teve
pelo menos o mérito de ter criado as condições para se fazer uma transição
pacífica a caminho da democracia e da liberdade, esperando-se que se mantenham
alguns aspectos positivos do regime, nomeadamente na cultura, educação e saúde.
No mundo de hoje já não há lugar para figuras positiva ou negativamente
carismáticas como Fidel Castro, mas apenas para caricaturas perigosas como
Trump, Putin, Erdogan….
Que o povo cubano saiba virar com serenidade e sabedoria mais esta
página da sua dolorosa história!
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