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terça-feira, 16 de setembro de 2014

COMO SE A CRISE NÃO TIVESSE ROSTOS !!!! : Manifesto junta críticos do sistema político


A “crise” não tem rostos?

É fácil, hoje em dia, apontar, com alguma demagogia à mistura, as razões principais da crise:  o “despesismo” do Estado (ou daqueles grupos e interesses que controlam o Estado?), a corrupção dos políticos (ou a misturada entre alguns políticos e as negociatas com escritórios de advogados e o mundo da alta finança?), os “corporativismos” do funcionalismo público (ou os privilégios escandalosos de alguns que circulam entre o público e o privado, beneficiando das sua posições governamentais e dos seus altos cargos na administração pública, quase sempre sem concurso, por colocação político-partidária ?), as “altas” pensões pagas em Portugal (ou os pensionistas de luxo, como alguns ex-banqueiros e ex-políticos, nomeadamente os antigos administradores do Banco de Portugal?).

É fácil também recuperar Ramalho Ortigão ou Eça de Queirós para apimentar essas críticas e acusar os suspeitos do costumes: o rotativismo partidário, a Constituição e a própria lei eleitoral (Salazar “resolveu” os três problemas…).

Podemos concordar e subscrever por baixo algumas dessas críticas mas, nem sempre as soluções.

Uma das apontadas por essa gente é a da criação dos círculos uninominais. Conhecendo a situação política actual tal solução só iria incentivar e acentuar o caciquismo reinante em termos regionais (a situação na Região Autónoma da Madeira e em muitas câmaras aí estão para mostrar a falácia da personalização da política). Não me parece que a solução seja encher o Parlamento de "Isaltinos" Morais e "Joãos" Jardins.

Mas o mais incrível dessas posições, assumidas muitas vezes em “manifestos de notáveis”, como o recém lançado "manifesto dos 31" , é a candura como alguns dos subscritores se apresentam a defender uma “democracia de qualidade”, como se todos eles fossem virgens, sem passado na política recente ou sem responsabilidades no actual estado de coisas.

Aliás, cada vez mais, perante a falência do actual sistema partidário e de economia de casino se procura atribuir responsabilidades ao “sistema” e ao “regime”, branqueando as responsabilidades próprias e  históricas no actual estado de coisas.

É mais fácil acusar os “privilégios” de grupos socias e profissionais inteiros, ou a lei e a Constituição, do que assumir a incompetência dos próprios quando exerceram cargos com responsabilidade política. Muitos deles são o exemplo principal dos verdadeiros privilegiados deste sistema, beneficiando social, profissional e financeiramente da cativação de informação privilegiada, das ligações escandalosas e pouco éticas entre a política e os negócios e da excepcionalidade de chorudas pensões por cargos exercidos na política, na administração pública e/ou no Banco de Portugal.

O problema em Portugal não é o das leis e o da Constituição, mas a forma como essa gente a consegue contornar e aparecer com toda a candura a marcar a agenda mediática, apresentando como novo velhas receitas ou limpando as mãos das responsabilidades  que têm, como actores e/ou como beneficiários da actual cultura política e financeira que nos levou a esta situação de empobrecimento, de perda de direitos, de degradação do valor do trabalho e de descrença na democracia.

É caso para perguntar, quando vemos um manifesto criticando a situação, assinado por antigos ministros, antigos administradores do Banco de Portugal, antigos líderes políticos, beneficiários de cargos adquiridos por via de funções políticas, todos no passado recente defensores da austeridade e das suas consequências (cortes salariais e nas pensões, cortes nos direitos socias, empobrecimento generalizado da população trabalhadora …)se a crise não tem rostos e foi provocada por uma qualquer entidade divina e abstracta.

Tal como para subscrever um documento é bom ter em conta as letras pequenas, quando se lê um manifesto como o dos “31” é cada vez mais importante olhar com atenção para o  nome dos subscritores.

É que, apontar os sintomas e as soluções da crise é fácil. O difícil é separar os que sinceramente acreditam no que dizem daqueles, carreiritas e oportunistas de todas as áreas e espécies, que  procuram manter-se sempre na crista da onda e esgueirar-se das responsabilidades próprias na situação que criticam ou procuram apresentar-se como trazendo a solução para um problema pelo qual eles são dos primeiros responsáveis.


Manifesto junta críticos do sistema político - PÚBLICO(clicar para ler)

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