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quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A GRANDE FALÁCIA (mais uma...) :Portugal recupera 15 lugares no índice global de competitividade

Ácerca da divulgação de mais um relatório sobre o "índice global de competividade"(
Portugal recupera 15 lugares no índice global de competitividade - PÚBLICO) , jà AQUI escrevemos, em 2009, o que pensamos destes "índices".

Além da autêntica falácia que eles representam, há que recordar que a tão propagada "evolução" da "competitividade" em Portugal foi conseguida, em grande parte, graças à "flexibilidade laboral" e às "reformas" do governo, ou, traduzindo por miúdos, pela desvalorização do trabalho, com cortes salariais e perda de direitos, pelo aumento de impostos, pelo empobrecimento geral da população.

Mesmo assim não deixa de ser curioso que, apesar das tão propagadas "reformas", a classificação de Portugal nesse malfadado índice, o 36º lugar, continua longe do 23º lugar ocupado em 2002, quando os portugueses viviam "acima das suas possibilidades" e o "Estado" estava "controlado" pelas "corporações de sindicatos e profissionais" e os funcionários públicos eram uns "privilegiados"!!!!

Ainda sobre a falácia desse rakings, aqui fazemos nossas as palavras de Santana Castilho sobre a ditadura dos instrumentos de avaliação, aquilo que ele designa como uma versão moderna de fascismo:

“ (…)
“Há hoje um verdadeiro poder oculto, uma autêntica ideologia dominante, que nos invade a vida: para onde quer que nos viremos, somos interpelados por instrumentos de avaliação. Mas as práticas avaliativas, desde que enquistadas em modelos burocráticos e universais, ou são instrumentos de poder e de controlo social, alegadamente para tornar mais eficiente o funcionamento das nossas instituições, ou não passam de modismos improdutivos, macaqueados por uma sociedade que pensa pouco e obedece demasiado.

Na administração pública e no governo do país há uma casta de fundamentalistas da aritmética política que, fazendo da estatística guião e da econometria bíblia, tudo querem reduzir a rankings. Como se o interior das pessoas, os problemas da educação, da saúde ou da justiça, entre tantos que afectam os humanos, fossem assim solucionáveis.

Noutros tempos, os invasores eram combatidos. Na cultura avaliativa que hoje impera, são muitas vezes os «invadidos» que endeusam o conceito e que facilitam e solicitam a acção dos «invasores». Neste contexto, as tecnologias modernas de comunicação e informação assumem particular relevância, pondo todos a observar todos, numa devassa inimaginável da privacidade de cada um e numa actividade de controlo social exercido em cadeia. Os teóricos desta moderna avaliação têm uma propensão monstruosa para tudo gerir com a aplicação de modelos, que reduzem culturas e contextos díspares à mesma escravatura de resultados.


Entendamo-nos. Desde sempre, todos os chefes competentes e todos os chefiados honestos concordaram com a necessidade de avaliar para gerir bem. Mas dificilmente alguém me convencerá de que é útil aplicar medidas de desempenho estereotipadas, normalizadas e gerais a tudo o que é diverso. Ou que se pode tudo medir e tudo indexar a resultados, índices e rankings. É esta cultura de avaliação tendente a constituir-se como autoridade única, radical, que paulatinamente vai unificando práticas, vigiando e suscitando veneração, que contesto. É a relevância que se lhe atribui que repudio. É a passividade da sociedade face a uma certa versão moderna de fascismo que me preocupa”.

(Santana Castilho, "Uma certa versão moderna de Fascismo", Público 27 de Agosto de 2014)

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