Invocar a liberdade de expressão para defender Relvas das
manifestações de indignação de que foi alvo nos últimos dias, seria a atitude
mais correcta de quem defende a democracia e a liberdade. Mas isso era num país
normal, realmente democrático e livre, governado por gente normal que respeita
a Constituição e as pessoas.
O problema de Relvas, apenas o elo mais fraco deste incrível
governo, mas ao qual se podem juntar o inumano Gaspar e o incompetente e
infantil Passos Coelho, é que soma atitudes de provocação atrás de provocação,
contra os portugueses que sofrem as medidas de terrorismo social aplicadas por
este governo, convidando jovens qualificados a abandonarem a sua “zona de
conforto” e a emigrarem, ele que foi aquele que completou uma licenciatura com
uma cadeira feita e quatro frequentadas, tendo-lhe sido dado uma equivalência a
várias dezenas de cadeiras, algumas nem existentes, isto para além de outros
factos ainda mal esclarecidos da sua vida “empresarial”.
Ora, quando num momento destes, com um currículo como o
dele, Relvas entra numa escola onde os alunos têm de estudar para poderem tirar
um diploma que muito provavelmente apenas lhes vai dar acesso ao desemprego ou à emigração, o único futuro
que ele e o governo dele têm para oferecer a esses jovens, o mínimo que se pode
espera é manifestações de indignação por parte desses jovens.
Quando o governo, em defesa do seu ministro, declara que
manifestações como essas “suscitam necessariamente o repúdio da parte de todos
quantos prezam e defendem as liberdades individuais, designadamente o direito à
livre expressão no respeito pelas regras democráticas”, esquece-se de duas
coisas:
- nenhum governo até hoje, como este, colocou em causa as “liberdades individuais”
dos portugueses : o seu direito a uma vida decente, a um emprego e a um futuro
digno, para si e para os seus, as verdadeiras “liberdades individuais”;
- nenhum governo até hoje, como este, colocou em causa as
regras democráticas, desrespeitando todos os dias os direitos constitucionais e
humanos em nome da protecção das aldrabices do mundo financeiro.
Seria bom também interrogarmo-nos sobre o que é isso do “direito à
livre expressão” quando a comunicação social é controlada pelos grandes
interesses financeiros e enxameada por comentadores que apenas repetem até à
exaustão a defesa da austeridade imposta por esse governo? A propósito recordamos
aqui uma célebre frase, que é também um aviso, da autoria de Alexandre Herculano, que citamos de cor : “o que
interessa a liberdade de expressão àqueles que nada têm?”.
Ontem, no meio da confusão geral que se viveu no ISCTE,
alguém lançou ao ministro esta frase “assassina”: “Vieste às aulas hoje?”. Por
enquanto vivemos no mero jogo das palavras e talvez seja bom que continue
assim. É que, perante o aumento generalizado de indignação contra estes
governantes, as suas medidas e as suas boçalidades provocadoras, deviam dar-se
por contentes pela forma como têm sido interrompidos, pois isto é o menor mal
que lhes pode acontecer .
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