Os nossos banqueiros são de confiança?
por Nicolau Santos
in Expresso on line , 21 de janeiro de 2013
“O título é provocatório, mas tem a ver com o facto de ter
sido dito e redito que a banca portuguesa não só está sólida como nada tem a
ver com o que se passa noutros países, onde os escândalos se sucedem com
regularidade.
“Quanto à solidez, estamos conversados. Três bancos
portugueses recorreram já a ajudas estatais (BCP - 2000 milhões, BPI - 1500
milhões, Banif - 1100 milhões), sem as quais não conseguiriam cumprir os rácios
exigidos pela EBA, Associação Bancária Europeia.
“Quanto aos escândalos, façamos um esforço de memória. Em
2003, Tavares Moreira, presidente não executivo do CBI, é suspenso pelo Banco
de Portugal de exercer funções em conselhos de administração de empresas
financeiras sob a acusação de declareações falsas, manipulação e falsificação
de contas (em 2006, o Ministério Público arquivou o processo).
“João Rendeiro, ex-presidente do BPP, que em dezembro de
2008 pediu uma ajuda estatal de 750 milhões para salvar o banco, é acusado pela
CMVM de criação de títulos fictícios, violação de deveres relativos à qualidade
de informação prestada aos clientes, entre outras irregularidades graves e
muito graves.
“José Oliveira e Costa, ex-presidente do BPN, foi detido no
final de 2008. Há dois anos que está a ser julgado por sete crimes, devido a
ter criado uma contabilidade paralela num banco virtual. A fatura para os
contribuintes ronda neste momento os 6000 milhões de euros.
“Jorge Jardim Gonçalves, presidente do BCP, acaba de ser
condenado a pagar uma coima de um milhão de euros pelo crime de manipulação de
mercado, mediante a criação de offshores e falsificação de documentos. Com ele,
foram condenados Filipe Pinhal, Christopher de Beck, António Rodrigues, Paulo
Teixeira Pinto e Al+ipio Dias. Todos vão recorrer das sentenças.
“O atual presidente do Banif, Jorge Tomé, é arguido num
processo relativo à altura em que exerceu funções como administrador da Caixa
Geral de Depósitos.
“Mais recentemente o presidente do BESI, José Maria
Ricciardi, e o administrador do BES, Amílcar Pires, foram constituídos arguidos
na sequência de uma queixa da CMVM envolvendo a transação de ações da EDP e um
alegado crime de abuso de informação privilegiada.
“Finalmente, o presidente do BES, Ricardo Salgado,
apressou-se a pagar os impostos devidos por dinheiro que tinha colocado no
exterior sem ter sido declarado ao fisco.
“Várias destas situações podem redundar em nada e alguns
destes responsáveis estarem inocentes. Mas convenhamos que é preocupante o
número de banqueiros portugueses que neste momento estão a contas com a
justiça.
“E a não ser que se considere que o Banco de Portugal e a
CMVM estão contra a estabilidade do mercado, talvez seja melhor os banqueiros
meterem a mão na consciência e reforçarem os seus códigos de comportamentos.
“O bem mais precioso que um banco tem é a confiança dos seus
clientes. Quando ela se perde, o banco está perdido. Mas a confiança nos bancos
é a confiança naqueles que os dirigem. É bom que os banqueiros nacionais
meditem nisso”.
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