Ainda não percebi o que é que facilitar os despedimentos contribui para a redução do deficit!
Ainda compreendo menos quando oiço instituições insuspeitas, como o Banco Mundial e o FMI , alertando para a gravidade dos números do desemprego, a consequência mais visível e desumanizada da actual crise financeira.
Por razões ideológicas e de fundamentalismo económico, o que essas instituições não dizem é que a causa do desemprego deve-se, basicamente, ao acentuar do dumping social à escala global, à ganância do poder financeiro, à corrupção generalizada do poder político e económico e ao oportunismo crescente de muitos para aproveitar a ocasião e destruir o que resta do “Estado Social”, destruir os direitos sociais e desvalorizar o factor trabalho.
Por isso, torna-se evidente que a escandalosa proposta de alteração das leis do trabalho em Portugal, visando destruir o que resta de direitos e de estabilidade no trabalho, através da peregrina ideia de justificar os despedimentos por "quebra de produtividade", por "inadaptação" ou por "incumprimento de objectivos", tudo jargões ambíguos e subjectivos, embora populares entre certos sectores políticos e económicos, não passa de uma escandalosa atitude oportunista e demagógica para aproveitar a onda das “reformas estruturais” a favor dos sectores de sempre.
Se vivêssemos num mundo ideal, talvez aquelas condições até não levantassem muitos problemas. Nesse mundo ideal tínhamos empresários, e não patrões, a dirigir as empresas com ética e de forma humana, procurando o melhor para os seus “colaboradores” e repartindo com eles os êxitos da empresa. Nesse mundo ideal as leis protegiam os mais fracos, os doentes, as mulheres grávidas, os mais velhos, os física e mentalmente mais débeis, das exigências produtivas.
Infelizmente, não vivemos no mundo ideal. Em Portugal ainda é dominante uma mentalidade de “patrão” a quem tudo é permitido dentro da sua empresa, nalguns casos autênticas ilhas totalitárias e de desumanidade. Ainda por cima, e conforme as estatísticas continuam a divulgar, a maior parte desses patrões (que não confundo com “empresários”), tem menos habilitações do que os seus empregados. A fuga generalizada aos impostos e os jogos de influência junto do poder político, abonam também muito pouco a favor desses “patrões” em termos éticos.
Se aquelas alterações passarem, vamos começar a ver as grávidas, os deficientes, os doentes, os fisicamente mais débeis, os velhos, os que não agradam ao patrão por razões políticas ou meramente pessoais, os sindicalistas e membros de comissões de trabalhadores, impondo-lhes os patrões condições de produtividade e objectivos incomportáveis à sua situação, a serem despedidos, a torto e a direito, restando-lhes, quanto muito, o recurso à rede caritativa que esta gente pretende apresentar com alternativa à segurança social.
Não deixa ainda de ser curioso que as associações patronais, aplaudindo aquele projecto, tão preocupados em desvalorizar o factor trabalho, nada façam pelos pequenos e médios empresários que enfrentam grandes dificuldades e que, em caso de terem de encerrar o seu pequeno comércio, a sua pequena industria ou a sua pequena agricultura, nem direito tenham a um subsidio de desemprego ou ao auxílio da segurança social.
…Enfim, passadas as férias, estão de regresso os “Sacanas Sem Lei” de sempre….
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