Ao longo das nossas vidas são poucos os acontecimentos, entre os vividos pessoalmente e aqueles que se passaram no mundo à nossa volta, que conseguimos recordados com nitidez.
O primeiro grande acontecimento de que me lembro foi o assassinato do presidente John Kennedy, tinha eu quase sete anos. Recordo-me das imagens a preto e branco na televisão do momento em que o presidente era atingido, dos títulos dos jornais e dos comentários em casa.
O segundo grande acontecimento de que me recordo foi o da chegada do homem à Lua, em 1969, já tinha então 13 anos. O meu pai acordou-me no início da madrugada e recordo-me de ver Armstrong a caminhar em solo lunar e ver Aldrin a descer para se juntar a ele.
Mas muitos desses acontecimento foram vividos como factos distantes, sem impacto directo no nosso dia a dia.
Mais raros são aqueles acontecimentos que viram a nossa vida do avesso, e, tirando os pessoais, recordo-me de dois em especial: o 25 de Abril e o 11 de Setembro.
Do 11 de Setembro, recordo-me que nessa terça-feira negra não tinha ligado a televisão para ver o noticiário à hora do almoço. Tínhamos decidido deixar de o fazer para não sujeitarmos a nossa filha, a dois dias de fazer 3 anos, à visão das imagens macabras, mostradas e comentadas até à exaustão em todos os noticiários, do assassinato de um grupo de portugueses no Brasil ou do rescaldo do acidente de Entre-os-Rios.
Depois de almoço liguei o computador para fazer umas buscas na internet, seriam quase três horas da tarde. Então tinha de ligar um cabo ao telefone e só depois, ao fim de uma longa espera, conseguia entrar na net.
Quando esta abriu apareceram umas notícias que eu inicialmente atribui a uma qualquer campanha publicitária agressiva e de mau gosto, onde se falava de dois aviões que se tinha despenhado sobre as célebres Torres Gémeas.
Aquilo pareceu-me de tal modo fantasioso, que andei à procura no texto de um qualquer desfecho de tipo publicitário. Mas não encontrava nada e então, em descaro de consciência, convencido que aquilo era mais uma aldrabice da net, liguei a televisão e deparei-me com aquele cenário dantesco. A partir daí não mais larguei o televisor e ainda hoje não sei quais foram as imagens que vi em directo e aquelas que eram repetidas em diferido até à exaustão.
E foi assim que o 11 de Setembro foi o primeiro acontecimento de que tomei conhecimento via internet.
Ainda hoje penso no horror vivido pelas pessoas que viajavam nos aviões ou naquelas que ficaram encurraladas nas Torres.
A imagem que mais me marcou foi a das pessoas que se lançavam desesperadamente no vazio do espaço.
Há ainda muita coisa que está por esclarecer, alimentado as mais variadas teorias da conspiração, mas desde esse dia a minha percepção do mundo mudou radicalmente….
Por formação sei que um acontecimento isolado não muda nada e que é apenas um ponto de chegada ou um ponto de partida de causas e efeitos.
O 11 de Setembro foi o início violento deste novo século, que muitos apontavam como um século de esperança.
Foi um mau presságio para o novo século.
O oportunismo político dos neo-conservadores, braço ideológico das economias neo-liberais, contribui para transformar o mundo pós 11 de Setembro no horror social e económico em que se transformou o início deste novo século.
Desde essa data a desumanização de que essa tragédia foi o primeiro sinal, estendeu-se a todos os níveis da sociedade e da economia, não se vislumbrando uma réstia de esperança.
Em nome da luta contra o terrorismo e da construção de uma “nova ordem mundial”, a intolerância, a desigualdade, a violência e a destruição dos direitos tem sido o apanágio destes novos tempos.
Vencidos militarmente, confinados às montanhas do Afeganistão, apesar disso, e por culpa nossa, os terroristas do 11 de Setembro continuam-nos a impor o desrespeito pela democracia, pela liberdade e pelos direitos humanos, sociais e civis….
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