(Bansksy)
“A chamada “psicologia
das massas” não é muitas vezes mais do que a expressão descontrolada de
variados instintos individuais que encontram no anonimato do grupo o
campo da desresponsabilização individual e, frequentemente, um palco para a
falta de coragem camuflada através do vandalismo descontrolado.
"Enroupadas em acções
de protesto esses excessos parece ganharem uma legitimidade que, muitas
vezes, desacredita a própria acção e acaba por desvendar mais os medos e as
frustrações individuais do que a razão dos protestos. Os media e as
redes sociais contribuem para enfatizar e ampliar a necessidade de agir
em nome seja do que for – única e simplesmente porque surge essa pulsão de
correr a integrar-se no no man‘s land em que se torna a multidão nestes
casos.
"Esta energia colectiva
alimenta tanto as boas como as más intenções.
"Sim senhor, a
barbaridade (mais uma) da polícia contra o negro americano precisa de ser
denunciada, as manifestações de racismo e o exarcebar das diferenças sociais e
económicas das populações exigem formas organizadas de reacção e de políticas
públicas escrutinadas.
"No entanto, agora a
coisa virou histeria e espectáculo, no derrube e destruição de dezenas de
estátuas em diversos países do mundo – maxime nos EUA. Critérios? Vagamente
expressos como sendo aquelas figuras de bronze ou pedra antigos defensores da
escravatura, do colonialismo, do racismo, ou de outra iniquidade qualquer, de preferência
em tempos longínquos. Não é necessário fazer prova de nada, basta seja o que
for para justificar a “justa indignação” e o pôr em prática as consequências da
“justiça popular”. Bóra lá, malta, isto é como ir para o estádio chamar filho
da puta ao árbitro: facilidade e impunidade.
"Fora com a rainha
Vitória, Cristóvão Colombo, os confederados (são 11) no Capitólio americano,
etc. etc. e o mundo fica mais limpo! A merda da História ou o que com ela nos
relaciona vai para o caixote do lixo ou para o fundo do mar, que o que nós
precisamos hoje não é de reflexão e de crítica, mas da velocidade da acção, do
imediatismo do dia a dia e da radicalidade escondida atrás da sombra das
multidões (finalmente) indignadas – sem consequências que se vejam a não ser a
destruição. É difícil responsabilizar justa e equitativamente cinco centenas
(ou cinco milhares) de cidadãos...
"Geralmente são os infiltrados
que contribuem para os desmandos mais violentos e, sendo isso verdade em quase
todos os casos, a realidade dá-lhes acolhimento e as consequências caem sobre
todos – os que destroem e os outros.
"Lamento, mas não, não
concordo com a destruição das estátuas dos colonialistas, como forma de
equacionar o problema do colonialismo. Onde isso nos pode levar! Recolher
piedosamente aos armazéns da república as estátuas do Salazar, muito bem – é
consequência do assumir livre de um novo status político, de forte valor
simbólico e representativo e não consequência da turbamulta fanatizada que
vibra ao cheiro do sangue. Eu sei que é discutível. Discuta-se.
“AGORA FOI O PADRE ANTÓNIO VIEIRA
“No largo Trindade
Coelho apareceu vandalizada com tinta vermelha a respectiva estátua.
"Quem o fez sabe quem foi
o homem? Não querem saber, sabem vagamente que andou pelo Brasil, achando por
isso que andou a colonizar e escravizar (?) os índios. Dispenso-me de aqui
descrever a sua acção.
"A verdade é que este
vandalismo de ontem não difere muito de outros factos similares. A estupidez
contra esta estátua é a mesma, por exemplo, da pinchagem permanente e repetida
sobre a escultura de Artur Rosa (uma peça lindíssima de arte contemporânea),
implantada em 1999 num extremo da Avenida Conde Valbom, perto da Gulbenkian.
Trata-se de uma estrutura metálica formando um arco de grandes dimensões com um
conjunto de cubos em aço inox, de vermelho vivo, diríamos abstracta e de
significados múltiplos. É a ignorância que move a vontade e as mãos que
grafitam aquilo como se a coisa não valesse nada.
"A mesma ignorância que
ataca, vezes sem conta, a peça representando Eça de Queiroz e uma senhora
desnudada, perto do Chiado, ao ponto de ter sido retirada e substituída por uma
réplica.
"Não merecem nada, estes
imbecis, e chamam com desprezo elitistas aos que estudam, aos que abominam a
ignorância complacente e respeitam a diferença.
"Bom, mas agora somos um
povo moderno e não bacoco, já acompanhamos o que de novo se faz lá fora, porra!
Estamos à la page! Estamos in! Já não somos os desvalidos
macambúzios do tempo do Salazar, vamos para a rua, engrossamo-nos no Bairro
Alto e vandalizamos justamente as estátuas dos esclavagistas. Só nos falta um
polícia a asfixiar com o joelho no pescoço um desgraçado qualquer apanhado na
rua, distraído. Lá chegaremos, portugueses, continuem que estão a ir bem”.
(In NOVÌSSIMAS NOTÍCIAS DO BLOQUEIO de 12 /6/ 2020,
por Jaime Aurelindo Ceia)
Sem comentários:
Enviar um comentário