Que não restem dúvidas: nutro por José Sócrates e tudo o que ele
representa o maior desprezo intelectual e político.
Sempre exprimi aqui tudo o que penso da “chico espertíce”, do
oportunismo político e da falta de ética
que os anos da governação Sócrates representaram. Basta explorar o nosso
tag “anti-Sócrates”.
Fi-lo numa época em que as suas políticas antissociais, o seu desprezo
pelos professores, a sua bajulação pelo mundo da alta finança, a sua cedência
aos ditames de uma União Europeia entregue às políticas de austeridade (pouco
depois levadas ao limite por outra figurinha de triste memória, Passos “ir além
da Troika” Coelho), eram incensadas e apoiadas com entusiasmo pela maioria dos
comentadores e economistas do sistema, os mesmos que depois apoiaram com
entusiasmo as medidas desgraçadas da
Troika, e que agora procuram sacudir Sócrates do “capote” .
Sócrates e Passos Coelho foram as duas faces da mesma moeda que tanto
sofrimento causou neste país.
Contudo, essa “chico espertice”, esse oportunismo político e essa falta
de ética e sentido de Estado na forma de fazer política, não só não são crime,
como foram a base do cavaquismo, surgido nos anos de 1980, atitude que tanto fascinou
e modelou toda uma geração de políticos formados nas “jotinhas” do centrão.
Contudo, sempre torci o nariz ao modo como foi conduzido o processo de
acusação contra José Sócrates, a “Operação Marquês”.
Não porque tenha qualquer dúvida sobre os seus processos de actuação
desonestos eticamente reprováveis, já revelados pelo próprio noutras
circunstâncias, na forma como, junto de autarquias da Beira Interior, ainda
antes de ser conhecido, deu cobertura a verdadeiras aberrações urbanísticas, ou
no caso Freeport, nunca devidamente esclarecido.
O que me levantou dúvidas foi todo o modo como o processo foi
conduzido, com uma prisão em directo na comunicação social, com o juiz que conduziu
todo o processo até há pouco tempo mais interessado em comportar-se como uma
estrela dos media e como comentador político, do que em fazer uma investigação
célere e eficaz sobre as trafulhices de Sócrates, sem esquecer as fugas
constantes de informação sobre o processo, que muito devem envergonhar o nosso
sistema judicial, ao mesmo tempo que queimavam a validade das provas.
Mais preocupado em dar
espectáculo e dirigir um processo político, o herói da nossa
extrema-direita, o juiz Carlos Alexandre, acabou por contaminar todo o
processo, e agora, pelo que parece, Sócrates já pode sorrir.
O nosso Ministério Público devia ter aprendido com a forma como
prenderam Al Capone.
Este não foi preso pelos seus crimes ou roubos, mas por fuga aos
impostos.
Ou seja, um criminoso inteligente,
como o é José Sócrates, não deixou provas dos seus crimes financeiros e das
suas obscuras negociatas, mas terá deixado rasto nos pequenos pormenores.
Infelizmente em vez de um Eliot Ness tivemos um Juiz Carlos Alexandre.
Se o juíz Carlos Alexandre, quisesse mesmo fazer justiça, em vez de
exibir o espectáculo da sua vaidade pessoal, tinha construído um processo mais
sólido , menos complicado, indo directo às acusações que podia provar,
avançando logo para tribunal, em vez de criar um mega processos, onde se
misturam acusações fáceis de provar, com
situações, talvez as mais mediáticas, difíceis de provar legalmente.
Primeiro reuniam-se as provas e depois prendia-se. O que se fez com
Sócrates foi o contrário. Primeiro prendeu-se, com base em suspeitas previsíveis,
iguais às que se podem apontar a muito
do políticos da “geração centrão”, e depois foi à procura de provas, atrás do “disse
que disse” de uma comunicação social ávida de escândalos.
O resultado só podia ser desastroso, queimando a investigação nas
labaredas dos títulos sensacionalistas do “Correio da Manhã”.
E assim chegámos à situação actual.
Espero estar enganado, mas pelo que se vai sabendo, Sócrates vai
safar-se desta e até se pode dar ao luxo de processar quem o acusa de falta de ética.
Perdem a democracia, a justiça e
os valores éticos.
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