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quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Para acabar de vez com a situação de sem-abrigo



O Presidente da República voltou a alertar mais uma vez para a necessidade de resolver o vergonhoso problema da existência de tanta gente a viver nas ruas.

O que o Presidente não explicou foi que políticas defende para o fazer. Provavelmente não é ele que o tem de fazer.

A situação dos sem-abrigo em Portugal é um problema cujas causas e origens há muito que estão estudadas (ver AQUI e AQUI dois importantes estudos disponíveis, embora tenham sido elaborados há  mais de 10 anos).

Num estudo realizado pelo Instituto de Segurança Social feito em 2010, defendia-se o perfil do sem-abrigo como “homem” em idade activa, solteiro, com baixo nível escolar, vivendo do rendimento social de inserção.

A origem da degradante situação dessas pessoas residia no desemprego, na pobreza, em situações pessoais (alcoolismo,  pior que o consumo de droga, doenças mentais, conflitos familiares, principalmente a violência doméstica) e a dificuldade de acesso a instituições de saúde.

Esse conjunto de causas impedia os sem-abrigo de financiar um alojamento permanente.

Uma grande parte dessas pessoas, quase metade, vivem no distrito de Lisboa, e, destes, a maioria no concelho de Lisboa.

No principio deste ano a Câmara de Lisboa calculava que existiam cerca de 3 mil sem abrigo, dos quais cerca de 400 no concelho da capital.

Recentemente saiu a noticia que entre 2015 e 2017 o número de sem-abrigo no concelho de Lisboa teria sido reduzido em 50%. Recorde-se que, nos anos da Troika, chegaram a ser contabilizados mais de mil sem-abrigo no concelho de Lisboa.

Outro dado curioso é que os vários estudos revelam que 80% dessas pessoas são portugueses, desmentindo uma ideia feita que atribui à emigração a origem dessa situação.

Claro que o conceito de “sem-abrigo” não inclui outras situações degradantes, que se têm vindo a agravar desde os tempos da Troika ( ou do “ir além da Troika”) e desde a famigerada “lei Cristas” para a habitação.

São essas situações, que muitas vezes disfarçam a gravidade da real situação dos sem-abrigo, os “sem-casa”, isto é, aqueles que recorrem às casas abrigo ou a instituições, os que vivem em “habitações precárias”, ocupando espaços ilegalmente, abandonados em casa de amigos ou familiares, devido às dificuldades financeiras de manterem uma casa, os, a situação maioritária e nunca incluída nos números dos “sem-abrigo”, que vivem em “habitações inadequadas”, casas sem aquecimento, pequenas, velhas  e degradadas.

Se o Presidente quer ser consequente, assim como a ministra que o acompanhou na visita desta semana aos sem abrigo, só têm que agir no sentido de combater o desemprego e o emprego precário, reduzir a pobreza através da valorização salarial e das pensões, melhorar as ajudas socias e o acesso à saúde, em especial à mental, tomar medidas descomplexadas em relação ao consumo de drogas e ao combate ao alcoolismo, e, no topo de tudo, já que é um problema de direito à habitação, consagrado na Constiuição, que está na origem dos sem-abrigo, tomar medidas corajosas nesta área, como, por exemplo tabelar por lei as rendas de casa até ao T2 e combater a actual situação de total descontrole no sector da habitação.

Os estudos estão mais que feitos e as causas  detectadas .

Só é preciso ter coragem para avançar com medidas concretas…a não ser que se fique pela eterna caridadezinha, que remedeia no imediato, mas  adia a resolução dos problemas, embora limpe a consciência de muita gente!!

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