Segundo os últimos números, mais de 17% dos portugueses vivem no limiar da pobreza, isto é, mais de 2 milhões!!!
Os números da pobreza em Portugal continuam a ser assustadores, para
não dizer…vergonhosos!
Mais vergonhosos por esses números se referirem a um país da União
Europeia e da zona euro.
Também vergonhosos, pelo facto de já se terem passado quase 45 anos após
a implantação da democracia, mais de 30
após a adesão à União Europeia e mais de 10 desde a implantação do euro, sem que número se reduza significativamente.
Ainda vergonhosos, quando esses números da pobreza coexistem no país da
Expo98, do Euro 2004, onde os negócios do futebol envolvem milhões
ou onde o Estado não se coíbe em salvar banqueiros com os milhões dos contribuintes.
Finalmente vergonhosos porque uma grande parte dos pobres portugueses
trabalham, advindo a sua pobreza dos baixos salários que se pagam em Portugal.
Não deixa de ser igualmente significativo o título de quase todas a imprensa,
tentando desvalorizar a gravidade da situação, dando realce à redução conjuntural
daquela percentagem; “Risco de pobreza em Portugal é o mais baixo de sempre”
(Diário de Notícias, título idêntico ao do Expresso e ao da Rádio Renascença), “Taxade pobreza e exclusão Baixou e Portugal alcançou a média da União Europeia”
(Público, em vez de destacar a escandalosa média de União Europeia!!??)!!!
Claro que existe maior sensibilidade para o problema quando temos governos mais à esquerda, e nessas conjunturas aqueles índices conhecem alguma redução, mas essa é uma situação conjuntural. É fácil melhor esses números por comparação com os negros anos do "ir além da Troika" de Passos Coelho, mas não chega para combater eficazmente esse grave problema social.
É estranho que a divulgação desses números não provoque a mesma
indignação, junto de comentadores, economistas, políticos e burocratas de Bruxelas, que provoca qualquer
aumento, ao nível da décima ou da centésima, do deficit!!!
Basta, aliás, ver a reacção que provocou, entre toda essa gente, o
aumento miserável do já de si miserável ordenado mínimo que se paga em Portugal,
comparando agora com a sua reacção à divulgação desses números .
E esses números estão muito aquém da realidade. “Apenas” são
considerados pobres os que têm um rendimento inferior a 510 euros, quando se
sabe que ninguém vive condignamente em Portugal com menos de mil euros, e mesmo
assim com dificuldades para pagar as contas.
Aqueles números também não têm em conta a actual situação a nível do
arrendamento, situação que agrava as condições de sobrevivência de quem vive
com baixos rendimentos.
Mesmo para quem vive com menos de mil euros, a situação é diferente se
tiver de pagar uma renda de 400 ou 500 euros, ou se vive em casa própria, se
tem um problema grave de saúde, ou vive com saúde, se necessita ou não de
transporte público para a sua vida ou se têm ou não familiares a seu encargo.
Se todos estes parâmetros fossem tomados em conta, aqueles números
seriam bem mais elevados, no mínimo…para o dobro!
A Caridade pode ser uma panaceia conjuntural, que até pode servir para "limpar consciências, mas só medidas estruturais e consequentes, impostas pelo Estado, podem atenuar o problema
Sem se combater a precariedade no emprego, sem se aumentar pensões e salários, sem se aprofundar o Estado Social, nomeadamente a nível da saúde e da educação, sem uma intervenção forte na selvajaria do mercado de habitação, sem melhor o sistema de transportes públicos, nunca se vai conseguir reduzir a pobreza para níveis mínimos "aceitáveis" (abaixo de 5%).
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