Quando nasceu, há 70 anos, o Estado de Israel foi saudado pelos
progressistas de todo o mundo.
Estava ainda fresco o Holocausto e a esmagadora maioria dos judeus, que
se deslocaram para Israel, sonhavam deixar para trás um período terrível e
construir um futuro de paz e prosperidade.
Foi um Estado construído contra ventos e marés, no meio de uma
população árabe hostil, dominada por governos semifeudais e muitos deles
colaborantes com o nazismo durante a IIª Guerra.
Ficou na memória a aventura do “Exodus”, literária e magistralmente descrita por Leon Uris.
Mas o nascimento daquela nação trazia logo o vírus que haveria de desbaratar
a simpatia por Israel.
Desde logo a forma como tratou os Palestinianos que viviam no país,
espoliados das suas terras e dos seus bens e condenado a gerações de pobreza no
seio de uma população judaica próspera, raiando muitas vezes um tratamento
desumano e a mais abjecta e condenável descriminação étnica, por vezes à beira
da limpeza étnica.
Houve momentos em que parecia que essa mancha na sua história ia ser
resolvida, mas o assassinato de Yitzhak Rabin, às mãos de um radical judeu, em
1995, em vez de levar os israelitas a repudiarem o crime, levou-os a colocar no
poder radicais que, ideologicamente, estão mais próximos do assassino do que da intenção de Rabin.
Um outro momento que colocou Israel entre os Estados párias deste mundo
foi quando, depois da queda do muro de Berlim, a maioria da população israelita
passou a ser dominada por judeus vindos do leste e por uma geração que já
nenhuma relação tinha com as vítimas do Holocausto, imigrando para Israel por puro oportunismo económico.
É uma geração que, pela forma como trata os palestinianos, envergonha
todos os dias a memória dos judeus que sofreram o Holocausto e os próprios pais
fundadores do Estado de Israel.
Passaram também a usar o Holocausto como pura chantagem emocional para
manterem o financiamento e a ajuda militar do ocidente, não respeitando
resoluções da ONU ou tratados internacionais contra a proliferação de armas
nucleares.
A sua própria cegueira radical levou-os a estar por detrás da formação
de grupos “neoterroristas” como o Hamas, para destruir a influência da OLP, estando
ainda por esclarecer a sua influência no aparecimento do Daesh, dois monstros,
o Hamas e o Daesh, que acabaram por fugir ao controle do próprio mentor (como
aconteceu com os Estado Unidos em relação à Al-Qaeda).
Hoje o principal aliado de Israel na região é o Estado criminoso e
feudal da Arábia Saudita e , a nível internacional, o populista irresponsável
Donald Trump.
Negar o Holocausto e o direito de existência do Estado de Israel é
criminoso.
Mas apoiar os fanáticos radicais que governam Israel não o é menos.
Felizmente ainda existem alguns israelitas com coragem para denunciar
as atrocidades diariamente cometidas pelo Estado de Israel contra os
palestinianos.
São uma voz incómoda e minoritária, mas são a semente que pode
contribuir para que Israel volte ao seu espírito fundador.
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