Comemorei há dias mais um aniversário.
A idade comemorada já não permite, a não ser com uma boa dose de humor
negro, que alguém me deseje “que vivas outros tantos”…
Quanto muito, olham para mim e para a minha idade e contentam-se em
desejar “que para o ano cá estejas”.
Conta-nos Afonso Cruz, na edição de 1 de Fevereiro do Jornal de Letras,
numa crónica intitulada “Era uma voz”, sobre a avó do cronista que viveu até ao
99 anos, que um menino com cinco anos , “disse certa vez que não queria chegar
aos 99 anos” porque se ficasse “assim tão velho”, corria o risco de…morrer.
Pois é, eu cheguei a uma idade em que esse risco começa a aumentar.
Por mim, e depois de escapar à morte algumas vezes, contento-me se
chegar aos 70… e o que vier a mais é ganho, desde que me movimente e pense de
forma independente…
Por coincidência, no próprio dia do meu aniversário, o suplemento do
jornal Público, Ípsilon, publicava uma entrevista com Paul Auster, que acabou
de comemorar o seu 70º aniversário, mais velho do que eu 9 anos e 7 dias.
Interrogado sobre o facto de ter chegado a essa idade, e nunca ter esperado
viver tanto e sobre os pensamentos que lhe passavam pela cabeça sobre esse
facto, Auster respondeu que tinha “pensamentos contraditórios. Parte de mim acha
que não aconteceu nada, é só mais outro dia na minha vida. E outra parte pensa:
“70 anos!” Isso era ser extremamente velho. Mas agora as pessoas de 70 nos não
parecem ser tão velhas como quando era criança. Ocorre-me uma frase de um
amigo, o poeta George Oppen, que morreu há muito: “Que coisa estranha aconteceu
a este rapazinho”. Sinto-me dessa maneira. Mas basicamente estou feliz por
estar vivo, por estar aqui, e a minha saúde parece estar bem. A menos que um
autocarro passe por cima de mim, acho que ainda posso ter alguns anos à minha
frente”.
…Pois é…com alguns dias de atraso aqui agradeço a todos os que se
lembraram do meu aniversário…e que para o ano cá estejamos de volta…
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