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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

“Geringonça” da Direita: a “Tríplice Aliance” que levou Trump ao poder


Apesar das contradições e incoerências, foi uma improvável aliança entre neoconservadores, neoliberais e neofascistas que contribuiu para levar Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, numa espécie de “geringonça” de direita.

Os neoconservadores e os neoliberais já se tinham encontrado por outras ocasiões e em circunstâncias diferentes, nas eleições de Ronald Reagan  e George Bush Jr, mas os neofascistas tinham ficado à porta.

No primeiro caso, os neoliberais tinham mais influência e, no segundo, foram os neoconservadores a terem mais peso junto da administração

Apesar da aparente contradição e das diferenças , neoconservadores e neoliberais representam as duas faces da mesma moeda.

Os neoconservadores defendem a nova ideologia da direita em termos culturais e socias, combinando bem com o neoliberalismo económico.

Nos Estados Unidos o neoconservadorismo tem como base o fundamentalismo católico das várias seitas evangélicas que nas últimas décadas ganharam cada vez mais influência política, quer através do controle de parte da comunicação social, quer por parte do movimento “tea party”, quer pela crescente influência entre “republicanos”,  e têm no actual vice-presidente Mike Pence um dos seus mais fiéis representantes.

Ao longo das últimas décadas foram-se afirmando, combatendo e ridicularizando uma pretensa cultura do “politicamente correcto”, à qual apresentavam como alternativa o fundamentalismo dos valores adulterados e pretensamente cristãos.

Na Europa, os neoconservadores são, por enquanto, minoritários, não só porque a sua agenda está nas mãos do populismo neofascistas, mas também porque os cristãos europeus têm uma visão cultural e social muito mais aberta e liberal, exemplificada pelas posição do papa Francisco.

Por sua vez, os neoliberais norte-americanos procuraram combater a intervenção do Estado em áreas como as da saúde, da educação e da segurança social, mesmo quando a intervenção do estado norte-americano nestes casos seja muito residual, comparativamente com a tradição europeia.

O combate ao “obamacare” foi a sua principal bandeira.

Os interesses financeiros norte-mericanos, se estiveram na vanguarda do actual modelo de globalização neoliberal, perderam o controle do próprio monstro que criaram, mercê da crise financeira do inicio do século, que motivou várias restrições legais à sua actuação, e à afirmação de centros financeiros globais que não controlavam, como o chinês.

O neoliberalismo norte-americano vê agora em Trump uma oportunidade para recuperar essa influência.

Na Europa os neoliberais, acantonados em instituições antidemocráticas como o Eurogrupo, BCE, ou  a Comissão Europeia, estão, apesar de tudo, em campo oposto os seus congéneres norte-americanos.

Se não é novidade a aliança, por vezes contraditória e icoerente, entre neoconservadores e neoliberais, esta aliança foi a base da transformação ideológica do “novo” Partido Republicano.

A novidade na eleição de Trump foi este ter conseguido federar essas tendências com a tendência mais marginal na direita norte-americana dos neofascista (Ku Klux Klan, milícias paramilitares supremacistas, neonazis) hoje com uma grande influência na administração Trump, e representados pelo conselheiro Steve Banon.

A juntar a essa estranha “geringonça” da direita norte-americana que levou Trump ao poder, junta-se uma outra improvável e estranha aproximação ao lobby Israelita, representado na própria família do novo presidente.

Na Europa esse tipo de aliança é, por agora, totalmente impossível, em parte porque o populismo neofascista tem mais força do que nos Estados Unidos, em parte porque a propaganda neofascista se faz demagogicamente contra o neoliberalismo do politburo de Bruxelas, em parte porque não existe um neoconservadorismo com influência e poder, capaz de fazer de ponte entre neofascistas e neoliberais.

Enquanto todos esses grupos conseguirem tirar vantagem das políticas de Trump, o presidente norte-americano vai continuar a ter caminho aberto para a sua politica “iliberal” e de “factos alternativos”.

Mas essa estranha aliança transporta em si o vírus da contradição que,  a prazo, mais que a oposição da sociedade civil, de algumas instituições, dos Democratas e dos liberais, vai provocar, na luta fratricida que se adivinha entre aquelas tendência federadas por Trump pela supremacia política, o inicio do fim da actual administração.

Esse momento, quando surgir, vai ser o mais perigoso e decisivo da era Trump.

 

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