Apesar das contradições e incoerências, foi uma improvável aliança
entre neoconservadores, neoliberais e neofascistas que contribuiu para levar
Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, numa espécie de “geringonça” de
direita.
Os neoconservadores e os neoliberais já se tinham encontrado por outras
ocasiões e em circunstâncias diferentes, nas eleições de Ronald Reagan e George Bush Jr, mas os neofascistas tinham
ficado à porta.
No primeiro caso, os neoliberais tinham mais influência e, no segundo,
foram os neoconservadores a terem mais peso junto da administração
Apesar da aparente contradição e das diferenças , neoconservadores e
neoliberais representam as duas faces da mesma moeda.
Os neoconservadores defendem a nova ideologia da direita em termos
culturais e socias, combinando bem com o neoliberalismo económico.
Nos Estados Unidos o neoconservadorismo tem como base o fundamentalismo
católico das várias seitas evangélicas que nas últimas décadas ganharam cada
vez mais influência política, quer através do controle de parte da comunicação
social, quer por parte do movimento “tea party”, quer pela crescente influência
entre “republicanos”, e têm no actual
vice-presidente Mike Pence um dos seus mais fiéis representantes.
Ao longo das últimas décadas foram-se afirmando, combatendo e
ridicularizando uma pretensa cultura do “politicamente correcto”, à qual
apresentavam como alternativa o fundamentalismo dos valores adulterados e
pretensamente cristãos.
Na Europa, os neoconservadores são, por enquanto, minoritários, não só
porque a sua agenda está nas mãos do populismo neofascistas, mas também porque
os cristãos europeus têm uma visão cultural e social muito mais aberta e
liberal, exemplificada pelas posição do papa Francisco.
Por sua vez, os neoliberais norte-americanos procuraram combater a
intervenção do Estado em áreas como as da saúde, da educação e da segurança
social, mesmo quando a intervenção do estado norte-americano nestes casos seja
muito residual, comparativamente com a tradição europeia.
O combate ao “obamacare” foi a sua principal bandeira.
Os interesses financeiros norte-mericanos, se estiveram na vanguarda do
actual modelo de globalização neoliberal, perderam o controle do próprio
monstro que criaram, mercê da crise financeira do inicio do século, que motivou
várias restrições legais à sua actuação, e à afirmação de centros financeiros
globais que não controlavam, como o chinês.
O neoliberalismo norte-americano vê agora em Trump uma oportunidade
para recuperar essa influência.
Na Europa os neoliberais, acantonados em instituições antidemocráticas
como o Eurogrupo, BCE, ou a Comissão
Europeia, estão, apesar de tudo, em campo oposto os seus congéneres norte-americanos.
Se não é novidade a aliança, por vezes contraditória e icoerente, entre
neoconservadores e neoliberais, esta aliança foi a base da transformação
ideológica do “novo” Partido Republicano.
A novidade na eleição de Trump foi este ter conseguido federar essas
tendências com a tendência mais marginal na direita norte-americana dos
neofascista (Ku Klux Klan, milícias paramilitares supremacistas, neonazis) hoje
com uma grande influência na administração Trump, e representados pelo
conselheiro Steve Banon.
A juntar a essa estranha “geringonça” da direita norte-americana que
levou Trump ao poder, junta-se uma outra improvável e estranha aproximação ao
lobby Israelita, representado na própria família do novo presidente.
Na Europa esse tipo de aliança é, por agora, totalmente impossível, em
parte porque o populismo neofascista tem mais força do que nos Estados Unidos,
em parte porque a propaganda neofascista se faz demagogicamente contra o
neoliberalismo do politburo de Bruxelas, em parte porque não existe um
neoconservadorismo com influência e poder, capaz de fazer de ponte entre
neofascistas e neoliberais.
Enquanto todos esses grupos conseguirem tirar vantagem das políticas de
Trump, o presidente norte-americano vai continuar a ter caminho aberto para a sua
politica “iliberal” e de “factos alternativos”.
Mas essa estranha aliança transporta em si o vírus da contradição que, a prazo, mais que a oposição da sociedade
civil, de algumas instituições, dos Democratas e dos liberais, vai provocar, na
luta fratricida que se adivinha entre aquelas tendência federadas por Trump pela
supremacia política, o inicio do fim da actual administração.
Esse momento, quando surgir, vai ser o mais perigoso e decisivo da era
Trump.
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