O jornal Público de ontem citava uma frase de Fernando Pessoa que encaixa perfeitamente neste triste caso dos quadros de Miró: "Só a arte é útil. Crenças, exércitos, impérios, atitudes - tudo isso passa. Só a arte fica, por isso só a arte se revê, porque dura".
Também se conta (aliás, já contámos aqui..) que Churchill, quando convocou o seu governo para tomar medidas para enfrentar os nazis, medidas essas que implicavam um enorme esforço financeiro, foi abordado pelo ministro que era responsável pala cultura que lhe disse, conformado : "lá vamos ter de cortar na Cultura". Visivelmente irritado Churchill respondeu-lhe, não sei se exactamente com estas palavras: "então, se cortamos na cultura, vamos fazer esta guerra para defender o quê?".
Ambas as frases fazem cada vez mais sentido nos dias que correm.
Quando um governo, com a cumplicidade de um presidente da república, uma espécie de pilatos destes tempos "modernos", se demite de tentar salvar um conjunto de obras únicas da cultura e da arte em nome da situação financeira, estamos perante um acto criminoso de pura ignorância.
Pior que maus políticos, que políticos corruptos ou políticos incompetentes, são políticos ignorantes e que fazem jus dessa ignorância.
Mas mesmo o argumento financeiro cai por terra. 36 milhões de euros é muito dinheiro para um mortal, mas para o orçamento de um país é uma migalha. Não sei se já alguém se deu conta que esse valor corresponde a um custo, único, de....menos de 4 euros por português...por favor chega de tanta demagogia com os números quando a maior parte dos portugueses pagam quase 40% do que ganham em impostos, desbaratados para pagar a dívida de banqueiros e do corrupto sistema financeiro...
Também já li o argumento de que em Portugal, um país onde o estado só gasta na defesa do património cultural (incluindo a gestão dos museu) cerca de 33 milhões de euros anuais, os 36 milhões das obras do Miró têm um valor incomportável. Mas também nesta caso, o grave não é o valor das obras do Miró mas o vergonhoso orçamento para o património cultural...para além disso o valor da venda ao desbarato daquelas obras não vai ser aplicado na cultura mas para pagar o buraco do BPN de ....4 mil milhões de euros...ainda por cima as sociedades criadas pelo estado para gerir os bens do BPN, a Parups e PARVALOREM (...que nome mais adequado!!!), eta última dirigida por um amigo de Relvas e de Passos Coelho dos tempos da JSD, já recebeu do estado....510 milhões de euros...
Há ainda quem afirma que essas obras não são portuguesas e pouco interesse teriam, por isso, para a cultura portuguesa....a fazer fé nesse argumento os nossos museus estariam cheios de obras "vendáveis"...
Esta é mais uma história mal contada e de lesiva dos interesses culturais de Portugal.
A colecção Miró ainda pode ser classificada pelo Estado português, diz a juíza - PÚBLICO (clicar para ler a notícia)
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