Saímos de casa e a rua tornou-se nossa e os heróis, em cima
de chaimites, eram iguais a nós, estavam ali e também eram nossos…
As fábricas, os campos, os barcos pertenceram-nos; homens e
mulheres, de rosto queimado pelo sol e pela geada do interior da nossa terra,
saíram das aldeias, vieram ver o outro lado do mundo e exclamaram: Olha o mar!
e ficaram encantados, porque o mar também lhes pertencia…
Correu um vento novo pelas planícies e pelas serras e mãos
calejadas sentaram-se pela primeira vez em bancos de escola e aprenderam a
escrever o seu nome em letras grandes e assumidas.
O futuro já tinha chegado e o impossível tinha-se cumprido.
Os vampiros refugiavam-se atrás do nevoeiro e as hienas
trabalhavam na sombra….
O amor, esse inventava-se, sem sinais proibidos, descia a
avenida de mãos dadas com o sol e até a liberdade tinha atracado no Tejo.
Hoje, as hienas estão aí, os vampiros escondem o céu do
nosso país e só o mar mostra a revolta…
Nenhum povo, depois de ter conhecido o sol, pode ficar
silenciado por um tempo de chuva!
Se somos um país de marinheiros, por que é que estamos a
deixar o mar sozinho?!
ANA PAULA ALEXANDRE
ANA PAULA ALEXANDRE
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