No dia do "Congresso dos Vampiros" (ou de uma das suas "facções") é reconfortante e estimulante ouvir as palavras de Eduardo Lourenço:
Eduardo Lourenço lamentou que a política já não seja uma
“política real”
“O ensaísta Eduardo Lourenço disse hoje” (dia 20 de Fevereiro) “ que
houve uma invasão por “uma espécie de vampiros”, que são quem controla o
sistema inventado pela modernidade, vivendo-se agora um “apocalipse indireto”
em “estado de guerra permanente”.
“Durante a primeira mesa da 15.ª edição do Correntes d’Escritas, na
Póvoa de Varzim, sob o título “Pensamentos não são correntes de ninguém”,
Eduardo Lourenço disse: “Dá a impressão de que, de repente, fomos invadidos,
não por uns castelhanos arcaicos nossos vizinhos e que são nossos irmãos e
primos, mas por uma espécie de vampiros como aqueles que o cinema de Hollywood
ilustra. Não é por acaso que o tema dos vampiros se tornou um tema da moda, os
vampiros são emissários da morte, é como se estivéssemos a viver uma espécie de
apocalipse indireto”.
“O autor, que disse não acreditar que o tempo desta “espécie de
submissão mansa” vá perdurar, ressalvou não querer contribuir para algo como
uma “depressão de segundo grau, por conta dos outros”.
“Não sei se é um comportamento muito português dormir em cima daquilo
que nos ameaça profundamente e nos põe problemas que não podemos resolver
esperando que, com o tempo, com um pouco de sorte, acabemos por sair desta
espécie de atoleiro em que estamos mergulhados”, acrescentou.
“Os vampiros não são tão vampiros como isso, são pessoas reais. São as
pessoas que controlam o sistema que a modernidade foi inventando pouco a pouco,
com os seus novos meios de produção, que aumentaram efetivamente de maneira
fantástica a possibilidade que os homens têm de aceder a um certo número de
coisas que são importantes”, disse Eduardo Lourenço, já em resposta a questões
do público.
“O autor declarou que a televisão é hoje “o objeto mais importante”,
tendo o “espaço público desaparecido”, o que deu origem a um momento em que
“tudo se passa na televisão, as intervenções dos comentadores na televisão são
mais importantes do que a realidade”.
“Eduardo Lourenço lamentou que a política já não seja uma “política
real”.
“Passámos […] para um tempo em que aparentemente as guerras já não têm
lugar ou são guerras de uma outra espécie, são quase guerras virtuais como se
fossem cinema puro, embora os mortos não sejam cinema nenhum. Passámos para um
tempo em que estamos - não parece à primeira vista - num mundo em estado de
guerra permanente no interior do sistema, não há nenhuma grande produção que
não esteja em guerra com uma outra ao lado”, afirmou o vencedor do prémio
Camões de 1996.
“Eduardo Lourenço disse ainda não pensar nada sobre o futuro, uma vez
que “se pensasse no futuro era o dono do futuro”.
“Assim, o ensaísta, que constatou saber o que é estar “à beira do
abismo” por estar próximo do seu próprio, apelou a que se tenha paciência,
antes de entrar “enfim na terra da promissão".
“A 15.ª edição do festival literário Correntes d’Escritas decorre entre
hoje” (dia 20) “e sábado (amanhã)”.
"*Este artigo foi escrito ao
abrigo do novo acordo ortográfico aplicado pela agência Lusa".
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