O que se passa na Síria resume toda a hipocrisia em que
assenta a actual política internacional.
Desde que Bush anulou a importância da ONU, isolando-a e
substituindo-a pelo mero poder das suas
armas, nunca mais voltou a paz ao mundo,
situação que, por enquanto vai poupando a Europa.
A situação no Médio Oriente tem sido especialmente
dramática, onde dominam regimes ditatoriais e sanguinários.
A manutenção desses regimes, muitos há décadas, só se tornou
possível com a conivências do ocidente e dos interesse estratégicos naquela
região.
A maior parte deles é mantido pelas armas que, legal ou
ilegalmente, lhes são vendidas pelo ocidente e com o apoio financeiro e técnico
do ocidente (ao qual podemos acrescentar o apoio das chamadas “potências
emergentes”, como a China e a Rússia…).
A forma criminosa como o ocidente se portou na Líbia,
parecendo mais preocupada em eliminar fisicamente Kadhafi, que sobrevivia nas
últimas décadas graças ao apoio desse mesmo ocidente, mas que, na hipótese de
ser derrubado na rua, podia revelar todos os segredos dessa obscura relação e
do tráfico de influências do regime com os políticos de países como a Itália, a
França, a Grã-Bretanha e até Portugal , acabou por fragilizar e desacreditar a
maior parte dos movimentos da chamada “Primavera Árabe”, cada vez mais dominada
por grupos de fanáticos islamitas, muitos deles próximos da Al-Qaeda, e usando
os mesmos métodos criminosos do regime deposto.
Essa hesitação da comunidade internacional e das
organizações de defesa dos direitos humanos, que passaram a temer situações
como as da Líbia, foi aproveitada pelo regime criminoso da Síria para
intensificar a sua repressão sobre a oposição, da forma criminosa que se sabe.
Numa guerra civil, a pior de todas as guerras, não existem
bons nem maus, mas, de qualquer modo, quem tem o poder reconhecido
internacionalmente tem a dupla responsabilidade de respeitar e fazer respeitar
os direitos humanos e por cobro à violência.
O regime ditatorial de Assad não sabe, nem quer acabar com a
violência, e a comunidade internacional está desacreditada.
Havia duas maneiras de asfixiar o regime: uma era cortar o
fornecimento de armamento ao país, fazendo cair pesadas penas sobre os
negociantes de arma da região, denunciando-os publicamente e revelando os nomes
de pessoas e empresas envolvidas; a outra era congelar todas as contas dos
dirigentes militares e políticos da Síria, denunciando também os políticos e os
sectores financeiros que estão por detrás do apoio económico ao regime.
Infelizmente o Ocidente, tal como aconteceu com a Líbia,
está fortemente comprometido com um regime que lhe foi útil na Guerra do
Iraque, no combate aos movimentos palestinianos e na perseguição aos movimentos
islamitas.
Enquanto esperamos que organizações internacionais como a
ONU, a Liga Árabe, a União Eurpeia e a Nato percam a vergonha e se deixem de
atitudes simbólicas de condenação, e passem a uma acção concertada contra o
regime corrupto de Assad, resta o poder dos cartoons, como denuncia eficaz da
situação, muito mais certeira para denunciar os criminosos da Síria do que todo
o arsenal financeiro e militar do ocidente que, comprometido com os regimes
corruptos e criminosos da região, se mostra, até agora, incapaz de reagir:
Cartoons: THE INDEPENDENT
Sem comentários:
Enviar um comentário