O primeiro-ministro italiano, Mário Monti, homem de mão da Goldman Sachs, está a tornar-se a nova coqueluche dos ideólogos do neo-liberalismo e dos defensores do actual modelo de economia autoritária e sem direitos que nos têm vindo a impor nos últimos anos.
E porquê? Mário Monti que, recorde-se, exerce o seu cargo por nomeação, sem nunca se ter submetido a um processo eleitoral, o que é já de si significativo em relação à Europa actual, descobriu a melhor maneira de dividir o mundo do trabalho e o mundo sindical para conseguir impor um novo modelo de legislação laboral que facilite os despedimentos e desvalorize os salários.
Lançou os trabalhadores e os sindicatos numa luta de gerações: a geração dos precários, contra a geração do “trabalho seguro para a vida”.
Foi uma jogada “inteligente”, já que a actual crise económica e os incomportáveis níveis de desemprego atingem principalmente os mais jovens.
Bastou lançar uma campanha com o apoio de comentadores, economistas e políticos, tentando demonstrar que era o facto de os mais velhos terem empregos “estáveis”, “seguros” e “protegidos” que impedia o emprego dos jovens ou atirava estes para a precaridade, para lançar a confusão no seio dos sindicatos e de parte da esquerda italiana.
A conversa é a do costume: “não há empregos garantidos”, “acabou a era dos empregos para a vida”, “os trabalhadores têm demasiados direitos”, “os salários são altos”.
Ao lançar essas “palavras de ordem” até à exaustão, a mentira, ou a meia-verdade, começa a tornar-se “verdade”.
Com os actuais níveis de desemprego, com a crescente precaridade do emprego, com o abandono dos direitos sociais, com a destruição de um futuro melhor para as gerações mais novas, é fácil lançar a “culpa” sobre os mais velhos e os que continuam empregados.
A direita radical, que hoje não o é do ponto de vista ideológico, cultural ou político, mas pela propaganda anti-social que destila no seu discurso sobre a economia e o mundo do trabalho, conseguiu assim lançar a velha arma da divisão entre os seus potenciais adversários, lançando uns contra os outros e desviando a atenção do verdadeiro problema, que é o da crescente desregulamentação da economia globalizante , o da ganância do mundo financeiro, o do saque generalizado ao bem-estar dos cidadão e aos direitos laborais e a própria evolução tecnológica que, paradoxalmente, em vez de contribuir para melhora as condições socias e humanas, as tem vindo a agravar.
Não deixa de ser curioso que muitos desses que andam a defender Mário Monti, em nome do fim do “trabalho estável para a vida” nunca tenham conhecido outro emprego diferente daquele que arvoram para destilar o seu veneno anti-social: sempre foram comentadores, jornalistas, economistas, políticos ou professores universitários e não se espera que deem o exemplo mudando de emprego e/ou dando o seu lugar aos mais novos…
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