O vírus da irresponsabilidade cívica e social está a propagar-se a uma
velocidade mais rápida do que o próprio novo coronovírus, como se viu há uns
dias em Santa Maria da Feira, numa
“festa temática”, “Coronafesta”, realizada num bar da moda, e, ontem, nas praias da
linha.
Infelizmente, numa situação de crise, não é só o melhor de cada um que
se revela, como vemos todos os dias na atitude esforçada de médicos , enfermeiros e da
Direcção Geral de Saúde (DGS), revela também o pior de uma sociedade que se
habituou a viver numa festa permanente, aquilo que já alguém chamou de “a
ditadura da felicidade”.
Esse vírus da irresponsabilidade tem-se vindo a revelar nos últimos
dias em várias ocasiões:
- nos títulos irresponsáveis de tabloide e jornais ditos de referência,
ultrapassando por vezes a boataria das redes sociais;
- na forma como algumas figuras e organismos profissionais se colocam
em bicos de pés, como acontece com o provedor da ordem dos médicos, dando
informações que se sobrepõem às da DGS, ou na preocupação em reivindicar como suas
decisões que são do mais elementar bom
senso por parte das autoridades e de uma
classe profissional responsável, como o é a dos médicos e a dos enfermeiros;
- na corrida irracional ao açambarcamento por uma classe média que se
habituou ao consumo exagerado de bens, atitude bem caricaturada por um post que
anda por aí, ironizando a falta de espaço em casa para guardar os enlatados, por
terem os armários ainda ocupados com os galões de gasolina açambarcados durante a
greve dos camionistas;
- na forma irresponsável como os “paizinhos” temem contrariar os “filhinhos” na realização
de excursões pascais de finalistas para
zonas altamente contaminadas, opção, aliás, já de si condenável em
circunstâncias normais, já que se tornou habitual que os destinos dessas
excursões não tenham um carácter pedagógico ou formativo, mas de autênticas orgias de javardisse e álcool;
- por último, como cereja no topo do bolo, na forma como os estudantes
se comportaram ontem, encarando o encerramento de universidades e escolas como
um período alargado de férias, em vez de encarar essa decisão como a
necessidade de se resguardarem do contacto público, numa manifestação de grande
irresponsabilidade social e de pura ignorância, fazendo temer o pior com o encerramento apressado de todas as escolas.
É obvio que vivemos em sociedades livres e democráticas, onde todos, pontualmente ou nãos, somos livres de ser irresponsáveis, mas desde que essa irresponsabilidade não colida com a liberdade e a responsabilidade dos outros.
Ser irresponsável, neste caso, pode agravar as já difíceis condições de trabalho de médicos e enfermeiros e, em último caso, podem provocar a morte de terceiros, provocando ainda, a prazo, o agravamento de condições sociais, económicas e financeiras que serão pagas por todos.
Sobra a forma responsável e credível como se tem revelado a actuação da
Direcção Geral de Saúde, a única entidade que devemos ouvir e a cujas recomendações devemos obedecer.
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