O Ano que agora começa anuncia-se complicado e dramático
para muitas pessoas, famílias e empresas portuguesas, por via da aprovação de
um Orçamento de Estado (OE) socialmente
criminoso e, pelo que se sabe, inconstitucional em muitas das suas decisões.
O ano político começou marcado pela mensagem de ano novo do
Presidente da República (PR) e, principalmente, pela sua decisão de enviar para
o Tribunal Constitucional (TC) um pedido de fiscalização sucessiva do OE.
De forma demagógica, marcada pela desinformação e pela
má-fé, muitos comentadores e jornais vieram alardear sobre os custos da decisão
de Cavaco, avançando que, caso o tribunal Constitucional reconheça a
inconstitucionalidade dos pontos que mereceram as dúvidas do PR (o corte
unilateral de um dos subsídios aos Funcionários Públicos e Pensionistas e a
diferenciação feita em relação ao valor acima do qual os portugueses com
rendimentos pagarão a sobretaxa de 3,5% do IRS, a partir de 1350 euros, no caso
dos pensionistas, e dos 1500 euros para os trabalhadores), esse custo, nas
receitas previstas em OE , variará entre os mil milhões e os dois mil
milhões de euros, caso aquelas medidas viessem a ser revistas por uma decisão
do TC.
Ou seja, o que preocupa comentadores e jornalistas não é o
facto de esse valor ser retirado aos rendimentos de pensionistas e funcionários
públicos de forma inconstitucional, nem é o facto deste governo, mais uma vez,
fazer tábua rasa da Constituição que jurou cumprir. Aliás, diga-se que esse
valor é idêntico àquele que o governo anunciou, também nos últimos dias, que
vai enterrar na recapitalização de um banco privado, num processo muito
parecido com o caso BPN e de contornos igualmente obscuros.
Os tais mil e tal milhões de euros que vão ser espoliados aos
pensionistas e aos funcionários públicos, correspondem, pois, não só ao valor
que vai ser depositado pelo governo na compra de acções de um banco privado em
dificuldades, como representa “apenas” 15% de tudo aquilo que vai custar aos
portugueses o BPN.
Se somarmos a tudo isto aquilo que já custou aos
contribuintes o caso BPP, e a recapitalização do BCP e do BPI, mais as PPP,
fazer alarde do custo daquilo que é simplesmente um roubo organizado aos
pensionistas, funcionários públicos e contribuintes no geral, demonstra, quer por
parte das direcções dos jornais que fizeram título daquele valor previsto, quer
por parte dos comentadores que vieram argumentar com esses valores, esquecendo
o essencial, uma grande falta de respeito, quer pela Constituição, quer por
aqueles que estão a ser violentamente espoliados dos seus rendimentos nos
últimos dois anos.
Alguns desses comentadores até já chegaram ao desplante de
propor a mudança da Constituição para que aquelas medidas possam ser aprovadas
em definitivo.
Outros fazem correr a ideia que aquela taxa sobre os
pensionistas é uma taxa sobre as pensões mais altas, procurando lançar a
confusão de forma demagógica. 1350 euros é uma pensão alta? Pode parecer alta
comparativamente com os valores miseráveis da maioria das pensões. Aliás, as
pensões realmente altas, acima dos três mil euros, e não vou discutir a forma
como, nalguns casos, foram obtidas (por políticos, administradores do Banco de
Portugal e de empresas públicas e outros), já estão taxadas de forma diferente.
Não é a estas que o PR se refere.
O que devia preocupar esses jornalistas e comentadores não era a quebra de receitas deste OE, caso o TC dê razão ao Presidente, mas o ter-se a ficar a saber que este OE pretende espoliar, de forma inconsatitucional, pensionistas e funcionários públicos, num valor superior a um milhão de euros.
O que devia preocupar esses jornalistas e comentadores não era a quebra de receitas deste OE, caso o TC dê razão ao Presidente, mas o ter-se a ficar a saber que este OE pretende espoliar, de forma inconsatitucional, pensionistas e funcionários públicos, num valor superior a um milhão de euros.
Costuma-se dizer que “ano novo, vida nova”. Seria bom também
que, uma vez por todas, houvesse seriedade e decoro entre os comentadores e
jornalistas e que, uma vez por todas, deixassem de nos atirar areia para os
olhos. Os portugueses podem ser estúpidos uma vez, mas não o são sempre.
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