Quem achava que cenas como aquelas que víamos na televisão,
passadas em Atenas ou em Madrid, não se repetiriam em Portugal, ficou ontem
desenganado.
Há muitos anos que não assistíamos em Portugal a cenas de
violência como aquelas que ocorreram ontem à frente da Assembleia da República.
À distância, para quem como eu viu o que se passou pela
televisão, tudo terá começado já após o final da manifestação da CGTP,
culminando um dia da bem sucedida Greve Geral.
O que vimos foi um grupo de uma ou duas dezenas de
manifestantes que não se cansavam de apedrejar com bastante violência a
primeira linha da polícia de intervenção.
Não contei o tempo, porque também não vi tudo, mas dizem que
essa situação durou cerca de duas horas. Pelo meio alguns manifestantes
pacíficos ainda tentaram demover os ânimos desse grupo, sem resultado.
Muita gente ficou por ali a observar, sem se aperceber do
risco que estava a correr, ou assumindo esse risco.
De repente, e depois de avisarem os manifestantes, as forças
policias carregaram com uma violência correspondente àquela de que estavam a
ser vítimas, levando a eito o justo e o pecador.
Segundo leio hoje a “caça” aos manifestantes durou a noite
toda pelas ruas de Lisboa, com apoio de helicópteros.
Como gostava de me poder continuar a manifestar
pacificamente, até porque hoje a única forma de luta eficaz é na rua, exijo que
me esclareçam sobre a identidade dos lideres dessa arruaça, ligações políticas,
origem social e motivações, para que no fundo, tanto os manifestantes pacíficos como a polícia possam estar mais
atentos, agindo de forma mais eficaz, para que, no futuro, não venha pagar o
justo pelo pecador.
Não gostava que acontecesse ao direito de manifestação o
mesmo que acontece nos estádios de futebol.
Gostava também que me esclarecessem sobre o papel dos
polícias infiltrados nesta manifestação e a razão de terem esperado tanto tempo
para tomarem uma decisão.
Espero que este tenha sido apenas um episódio isolado,
embora o desespero de muitos e o modo incendiário como este governo trata a
sociedade portuguesa e os seus cidadãos possam vir a tornar a violência
incontrolável, extravasando os arruaceiros do costume e generalizando-se a toda
a sociedade, como acontece na Grécia ou em Espanha.
Além disso será bom não esquecer a velha interrogação berchtiana: quem inicia a violência, o rio que tudo arrasa ou as margem que o comprimem?
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