No Barómetro “estão-me a ir ao bolso”, José Sócrates continua a bater por larga margem Passos Coelho.
Claro que a “procissão” só agora começou com este governo, com o anunciado corte de 50% no subsídio de férias.
Tenho consciência da dificuldade que o país atravessa e da necessidade de todos contribuirmos para inverter a situação.
Mas também já começa a ser abusivo que sejam sempre os mesmos a pagar para factura.
Comigo não pega o discurso de que “todos somos culpados” e por isso “todos temos de pagar”. Claro que todos cometemos os nossos excessos. Pessoalmente fui praticamente obrigado a tirar carta e a comprar carro para fazer as deslocações que anteriormente fazia de comboio ou noutro transporte público, tudo porque, ao construírem-se auto estradas a torto e a direito, ao mesmo tempo que se destruía a capacidade de resposta dos transportes públicos, pela decadência a que se deixou estes chegar ou pelos preços exorbitantes que tornaram mais barato a deslocação familiar em automóvel, não tive outra opção.
Pessoalmente o único excesso que cometi foi comprar um carro em segunda mão, pagando metade ao longo de dois anos com crédito bancário e comprar uma máquina fotográfica digital, que hoje custa metade do preço, que paguei com um crédito de num ano.
Mas também aqui há uma diferença entre aqueles que recorrem ao crédito dentro das suas poses e nunca falharam um pagamento e aqueles outros que se endividaram com créditos, aos quais recorreram para tudo e para nada, mas que não tinham a certeza que podiam pagar e estavam acima das suas posibilidades.
O que me “chateia” é que estou a pagar por tabela pela irresponsabilidade dos gestores de bancos e empresas que facilitaram e incentivaram a compra de tudo a crédito, mesmo a quem eles sabiam que não tinha condições financeiras para garantir o cumprimento desse pagamento.
Esses, principalmente os bancos, continuam impávidos e serenos, beneficiando até de chorudas ajudas por parte do Estado.
Mas estou igualmente a pagar por tabela por aqueles que ao longo destas duas últimas década andaram permanentemente a fugir ao fisco, quando eu tenho de trabalhar de “borla” durante cerca de quatro meses por ano para o pagar.
Há poucos anos um estudo internacional revelava que se em Portugal não houvesse corrupção, fuga ao fisco e os compadrios na distribuição de cargos públicos, o país estaria a viver ao nível da Finlândia!!!!
Por isso faz-me impressão cada vez que os nossos ministros vêm à televisão anunciar medidas de austeridade , “distribuindo-as” de acordo com os rendimentos declarados, isto é, que deixam de fora os verdadeiros responsáveis: os que declaram rendimentos muito abaixo da realidade, os que fogem com capitais para os off-shores, os que vivem da pura especulação e todos os corruptos de colarinho branco.
Aliás, só assim se justifica que o ministro das finanças venha anunciar que cerca de 85% dos portugueses ficam de fora dessa medida: das duas umas, ou o rendimento das famílias deste país ainda é mais miserável do que aquilo que se pensava ( e então não se justifica o discurso de certos comentadores, economistas e entidades patronais segundo o qual é preciso contenção salarial…) ou muitos desses 85% não declaram ao fisco a realidade dos seus rendimentos…Por mim penso que há uma combinação (explosiva) dessas duas situações.
Pessoalmente acho “piada” a alguns indicadores sobre o rendimento declarado, que me colocam entre 5% dos portugueses com “maiores” rendimentos e depois olho à minha volta e vejo uma enormidade de carros topo de gama que eu nunca poderia pagar, de gente a esgota espectáculos caros , quando eu tenho de fazer uma selecção muito criteriosa daqueles que posso pagar e assistir, quando tenho que fazer opções muito controladas de férias ou coloco ao nível da impossibilidade sonhar sequer com uma casa de férias e vejo muitos mais que os "5%" onde me colocam a não olhar a meios para exibirem o seu poder económico (pelos vistos não declarado)….e por aí fora.
Havia seis medidas que quanto a mim podiam atenuar o sentimento de injustiça que grassa entre a classe média: taxar os lucros das grandes empresas e dos bancos ao nível dos escalões de IRS; penalizar fortemente a fuga de capitais; combater a evasão fiscal de forma eficaz, permitindo, por exemplo, que os contribuintes pudessem declarar uma parte do IVA que pagam ao longo do ano, desde a simples “bica” à compra do electrodoméstico, beneficiando com um abate razoável no pagamento do IRS pela apresentação dos recibos do IVA; penalizar eficazmente os crimes de “colarinho branco”; combater a “cunha” em todos os sectores da vida económica; obrigar quem fizer compras acima de um determinado valor ao longo dos dois próximos anos de austeridade a prestar contas ao fisco, para justificar os sinais exteriores de riqueza (por exemplo, os compradores de todos os carros topo de gama acima de 40 mil euros deviam , no segundo semestre de 2011 e nos anos de 2012 e 2013, até quando se mantivesse o actual regime de austeridade, prestar contas ao fisco, caso o seu rendimento declardo não justificasse essa compra).
Como cidadão responsável ainda vou acatar mais este rombo no meu rendimento, em nome da necessidade de salvar o país do descalabro em que caiu com José Sócrates e o seu bando, mas não aceitarei mais sacrifícios se algumas das medidas que defendo acima não forem tomadas.
1 comentário:
Acabei de ler o belíssimo texto...e também me custa a acatar mais exigèncias de gente que está preocupada com o poder e não com o País!
Quem pensa que poder tem???
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