Este “dia europeu sem carros” é um dia mais simbólico que outra coisa.
A sua intenção parece-me ser mais a de nos fazer reflectir sobre assunto, objectivo que, a ser concretizado, já me parece bastante útil.
É hoje evidente, nem que seja pela situação ambiental e energética, que a mobilidade rodoviária, tal como hoje a conhecemos, tem os dias contados. O contrário seria trágico para nós e para o planeta.
Até há algumas décadas atrás, a capitação automóvel era sinónimo de “desenvolvimento”. Com as questões ambientais e energéticas que se nos colocam nas últimas duas décadas é evidente que, hoje em dia, essa capitação se tornou um símbolo de subdesenvolvimento ambiental e energético e, em consequência, também económico.
Isto é, quanto maior o número de automóveis “per capita” num país, tanto maior o seu nível de subdesenvolvimento que, se não é notado no imediato, sê-lo-á no futuro.
Infelizmente, quis o destino histórico que, no momento em que se torna impraticável manter as actuais condições rodoviárias, uma série de países, saídos de economias fechadas impostas por ditaduras férreas, com aconteceu no leste, ou saídos de economias rurais, como aconteceu em Portugal nos anos 80/90, e está a acontecer, com maior impacto global, na China, o automóvel se tenha tornado, nesses vários lugares, sinónimo de “democratização” e “desenvolvimento” , não passando, na realidade de um degradante exibicionismo do “novo-riquismo” desses povos e nações.
Só uma verdadeira revolução rodoviária poderá alterar a situação, começando por se apostar em transportes públicos mais baratos, mais rápidos e mais fiáveis, de modo a desincentivar o uso do automóvel particular.
Em Portugal, por exemplo, desinvestiu-se de forma criminosa no caminho-de-ferro e nos transportes púbicos urbanos, construindo-se auto-estradas em tudo o que é sitio, sem um projecto de longo prazo, muitas vezes apenas e para responder aos apelos da clientela política e económica.
O aumento do uso do automóvel particular foi assim incentivado, com custos financeiros incalculáveis para um país sem produção automóvel própria e sem recursos energéticos.
Aliás, não deixa de ser curioso que, no momento em que economistas, políticos e comentadores nos enchem os ouvidos com o deficit da balança comercial, nem um deles se questione sobre os custos negativos para esse deficit da importação de automóveis e de energia, fomentada por anos de políticas erradas no sector rodoviário.
Repensar as políticas rodoviárias passa por apostar no caminho-de-ferro, em transportes ambientalmente sustentáveis, e, no caso de Portugal, como ontem alertou o Presidente da República, no transporte marítimo.
Esperemos que este dia não fique pelas meras boas intenções do costume.
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